«A experiência da JMJ é um encontro de corações», Aura Miguel

Vaticanista apresentou novo livro sobre as Jornadas Mundiais da Juventude

Aura Miguel, jornalista da Rádio Renascença e especialista em assuntos do Vaticano, considera que a experiência da JMJ potencia “um autêntico encontro de corações”.

“Se atentarmos para a experiência da Jornada, e para o modo como ela aparece, fica claro que o que os diferentes papas propõem é a abertura a uma linguagem muito própria e muito próxima, que é a do coração. Trata-se de um encontro de corações”, afirmou no diálogo que manteve ontem com mais de três centenas de catequistas de todo o país.

Num testemunho online, marcado pela recente edição do livro «Um longo Caminho até Lisboa», a vaticanista fez um percurso histórico pelas diferentes edições em que acompanhou o papa polaco, começando pelo início, a criação da Jornada Mundial da Juventude.

“Na raiz da JMJ está o acompanhamento que o Papa João Paulo II fazia a adolescentes e jovens. O papa polaco tomou a sério o desejo grande que define o nosso coração. ‘Abri as portas a Cristo!’, vai repetir até quase à exaustão”.

A Vaticanista lembrou que “em 30 anos as Jornadas mudaram completamente, por que se destinam a jovens com realidades distintas", mas que mantem o seu essencial que passa “pelo diálogo de corações inquietados e preparados para coisas grandiosas”.

“Os mais novos têm muitas influências, mas na raiz está o coração que é o lugar das coisas grandiosas. O segredo da juventude, e o das JMJ, é o de quem escancara o coração a Cristo. E isso viu-se na atração que a figura jovem de João Paulo II provocava, curiosamente a mesma que mantinha, já debilitado, nas duas últimas Jornadas em que participou”, desenvolveu.

Aos catequistas Aura Miguel desafiou a “ler o livro”, sobretudo por “aquilo a que chamei de ‘best off’”.

“Cada capítulo sempre a mesma estrutura. Uma jornada, com o devido enquadramento dos desafios, a minha reportagem, e uma última parte que é o ‘best off’ do que o Papa disse naquela jornada”.

Num olhar apaixonado sobre os últimos três pontificados a especialista, em assuntos do Vaticano, considerou não “ser possível uma JMJ sem o Papa” e apontou “as diversas variações” introduzidas pelo estilo próprio de cada pontífice.

“João Paulo II teve esta perceção de que juntar os jovens, incentivar a perceber a inquietação que habita o coração é uma constante das JMJ quaisquer que sejam os papas. O papa polaco falava da opção preferencial pelos pobres e pelos jovens por que sabia que ali, em potencia, estava destino do bom cristão.”.

“Hoje temos um certo ‘estilo’ de ser papa que foi iniciado por João Paulo II. Sucedeu-lhe Bento XVI, teólogo, tímido, com ar de professor. Herdar um estilo como o de JPII não foi fácil para ele, mas considero que o seu pontificado foi importantíssimo para assentar a poeira e ajudar a consolidar as razões da fé. Sem aprofundamento das razões da fé esta murcha. Sem continuo a reavivar da relação com Jesus já não dá para ser cristão sociologicamente. A secularização já tomou conta da velha cristandade. Daí a introdução, na vígilia, de um momento de adoração do Santíssimo, de onde tudo parte”, explicou.

Olhando para o programa que aguarda o Papa Francisco em Lisboa, Aura Miguel destaca a importância que o papa argentino dá às “periferias existenciais” e assim se percebe “o anúncio da visita ao bairro da Serafina, aos doentes em Fátima, aos jovens estudantes e aos membros do movimento Scholas Occurrentes”.

Numa altura em que se espera um “caos na cidade”, nas palavras do presidente da Fundação Jornada Mundial da Juventude, D. Américo Aguiar, a jornalista lembra que será “uma espécie de arraial só para jovens que não andam à deriva”.

“A experiência das anteriores jornadas mostra-nos muita gente que vem com sentido. Lembro-me de vários testemunhos, até de portugueses, nas diferentes JMJ que diziam sentir-se ‘parte de um povo ao passo que na sua escola, já na altura, se sentiam ET’s por participar na missa’”.

“A caminhada, todo o programa, concorre para que se prepare o coração para as mensagens que o Papa trará”, desenvolveu.

A obra «Um longo caminho até Lisboa» conta com prefácio do próprio Papa Francisco que “me mandou quatro páginas com um texto profundo e denso em que aborda os desafios dos nativos digitais. A meu ver este é espécie de caminho para esta JMJ”, completou.

Imagem: Twitter|Aura Miguel

Educris|15.06.2023



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