RCA: Bispo de Bangassou alerta para ameaça jihadista no coração de África

D. Juan José Aguirre, o Bispo de Bangassou, continua a lidar com uma situação extremamente grave na República Centro-Africana (RCA) e que atingiu fortemente a sua própria diocese.

Foi precisamente por causa de ameaças de morte que entretanto sofreu que o Bispo de Bangassou decidiu temporariamente regressar a Espanha, de onde é natural, esperando regressar à República Centro-Africana já a 18 de Março.  

“A milícia anti-balaka chama-me de traidor por eu proteger os muçulmanos”, explicou este prelado ao jornal diário ‘ABC’. Um desses milicianos “apontou uma metralhadora à minha cabeça”, diz, referindo-se ao episódio que o fez viajar até Espanha. “Recordo como os seus olhos estavam vidrados das drogas…”.

Durante esta estadia no país vizinho, o prelado tem-se desmultiplicado em encontros e entrevistas com Meios de Comunicação Social, procurando denunciar o clima de violência e medo que se instalou neste país africano essencialmente por causa da actuação de grupos armados, os Seleka e os Anti-Balaka.

Consequência de toda esta violência, desde há um ano que mais de mil e quinhentos refugiados muçulmanos estão abrigados nas instalações do seminário menor da diocese, numa situação de caos humanitário e de violência latente.

Numa outra entrevista ao portal “Religion Digital”, D. Aguirre descreveu o ambiente trágico que se vive neste campo de refugiados, “o único”, sublinhou, em Bangassou.

A situação “é muito tensa”, diz, acrescentando que “o seminário é uma ruína” e que os refugiados têm-se valido de tudo – “mesas, cadeiras” – para fazerem fogueiras. “Já propusemos levar o campo para outro lugar, onde eles possam ter água e construir uma mesquita, mas nada”, lamenta o bispo, denunciando haver “uma ordem directa” do presidente do país para que tudo fique como está.

Na ausência de medidas, constata D. José Aguirre, a diocese está a ficar devastada. “A casa dos Missionários Espiritanos foi saqueada, assim como a dos trabalhadores humanitários e as das redondezas”. À noite, descreve ainda o prelado, centenas de jovens radicais semeiam o pânico e a destruição.

Nem a catedral escapou. “O vigário episcopal não foi morto porque o machado não lhe atingiu a aorta...”, diz o Bispo de Bangassou, falando também em “violações e pilhagens”, que têm ocorrido perante a aparente inoperância das forças das Nações Unidas.

Aliás, seria mesmo para as Nações Unidas que o bispo espanhol reservaria algumas das mais contundentes críticas durante a entrevista ao jornal ‘ABC’.

A falta crónica de comida que se tem feito sentir na região foi levando as mulheres a trocarem alimentos por sexo com elementos dos Capacetes Azuis. Durante uma visita recente do secretário-geral da ONU a Bangassou, o prelado explicou a António Guterres que “havia mulheres violadas, algumas menores de idade, e que isso era um crime contra a humanidade”.

Para este prelado, que na viagem para Madrid passou pelo Vaticano – onde deixou uma carta com um apelo para que o Santo Padre fale de Bangassou no Angelus “e nos ponha no mapa” – a situação na República Centro-Africana “não tem solução” à vista.

Para o futuro, a longo prazo, antevê que tudo venha ainda a revelar-se mais catastrófico. “Os que ‘produziram’ o Boko Haram e o ISIS estão a entrar no coração de África, estão a vir para a África Central”, adverte.

O regresso à República Centro-Africana está já marcado para o próximo dia 18 de Março. Ao jornal ‘ABC’, o prelado demonstra que, apesar das ameaças de que tem sido alvo, o seu lugar é em Bangassou, ao lado dos fiéis, ao lado também das centenas de muçulmanos que acolheu no seminário. “Como vou deixar as pessoas lá? Eles vão morrer. A Igreja Católica é a última a desligar a luz. Não podemos sair…”.

Educris com AIS



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