Igreja: «Temos de apostar na prevenção mais do que na remediação», Rute Agulhas
Grupo Vita apresentou, em Lisboa, um relatório com os seis primeiros meses de atividade e um manual de prevenção para as diferentes estruturas da Igreja Católica
A coordenadora do «Grupo Vita», criado pela Conferência Episcopal Portuguesa disse ontem que a aposta da Igreja e da sociedade sobre os abusos sexuais a menores e adultos vulneráveis deve passar “por uma aposta clara na formação, na prevenção de comportamentos e situações de risco” mais do que na “remediação das situações”.
Em conferência de imprensa Rute Agulhas alegrou-se “pela forma como a sociedade civil articulou connosco” e informou que o «grupo Vita» recebeu “278 chamadas telefónicas em 6 meses” tendo sinalizado “64 vítimas de violência sexual e um leigo que cometeu crimes deste cariz e aceitou um processo de acompanhamento”.
“Este leigo estava já sinalizado penalmente e canonicamente e foi-nos pedido uma intervenção psicoterapêutica”, desenvolveu perante os jornalistas.
A responsável reafirmou a ideia de que infelizmente “esta prática de abuso de menores não é exclusivo das Igreja, mas transversal a toda a sociedade” e sustentou a necessidade de “alterações legislativas” de fundo nesta matéria.
“Pedimos já um estudo nacional para um estudo da prevalência sexual e que haja uma intervenção e estratégia de prevenção. Temos de voltar a pensar sobre a prescrição dos crimes. Este é um tipo de criminalidade que tem uma prevalência muito própria. Um regime excecional que exige a revisão dos prazos de prescrição”, desenvolveu.
Na apresentação do relatório com os primeiros seis meses de trabalho Rute Agulhas deu conta de “45 sinalizações à Conferencia Episcopal Portuguesa, 16 à Procuradoria-Geral da República e Polícia Judiciária”.
“Sempre dissemos que este «grupo Vita» não deveria ser uma estrutura permanente, mas aprofundar conhecimento e criar documentação prática para a ação diária”.
O documento é um “instrumento prático que pode ser adaptado, por cada estrutura eclesiástica, e estamos disponíveis para comentários e sugestões para que haja melhoramentos”.
O «Manual de Prevenção» assenta em cinco grandes pilares: “Conhecer; Prevenir; Agir; Recursos Práticos e 10 mandamentos da prevenção”.
O «Grupo Vita» deu conta de já ter formado “cerca de 800 pessoas” entre “Escuteiros, professores de Educação Moral e Religiosa Católica, escolas católicas, catequistas, técnicos de educação social e advogados”.
Em 2024 a estrutura vai investir em “ações de maior duração” de modo a poder “aprofundar os temas e transmitir conhecimentos”, treinando “competências com vista à capacitação das estruturas”.
“Que possamos formar agentes formativos para que eles o façam a outros, em cascata”, completou.