Moçambique: «Quantas pessoas precisam de morrer?», questiona religiosa Portuguesa

Irmã Mónica da Rocha dá conta da «extrema violência» que se vive em Pemba, no norte de Moçambique

A irmã Mónica da Rocha, religiosa da Congregação das Irmãs Reparadoras de Nossa Senhora de Fátima manifestou hoje, em entrevista à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, um “sentimento de revolta e impotência” perante as centenas de refugiados internos que diariamente chegam a Lichinga, na província de Niassa, fugidos da violência do autodenominado estado islâmico.

“São pessoas sem voz. Vítimas que nos chegam depois de verem os que morrem decapitados, os que, apesar de conseguirem fugir, perderam a família, os seus bens, os que agora, apesar das promessas não encontram ajudas nem apoios para recomeçar”, aponta.

A religiosa portuguesa, responsável pela Casa do Imaculado Coração de Maria em Lichinga mostra-se “desalentada” perante a violência que subsiste desde 2017 na região e afirma “rezar pelas populações vítimas de uma guerra silenciosa e de atrocidades de extrema desumanidade e violência”, enquanto na região se criam mais dois campos de refugiados.

“Até quando e quantas mais pessoas precisam de morrer e fugir para que se coloque fim a estes conflitos armados?”, questiona Mónica da Rocha.

Na paróquia local as religiosas tentam ajudar cerca de cinquenta famílias que “que não recebem ajuda do governo”.

“Mensalmente tentamos dar a cada família um cabaz com alimentação básica e roupa, calçado, material escolar e uniformes. As necessidades mais urgentes neste momento, para além da alimentação, são a aquisição de terrenos para cultivo e para a construção de casas”, explica.

Mónica da Rocha fala de “histórias brutais de desumanidade” como “o caso de algumas pessoas de uma mesma família que se esconderam numa pocilga de porcos e aí permaneceram até que os insurgentes matassem os que tinham capturado” ou os que “são mandados embora para contar o que viram” cm pessoas decapitadas e outros selecionados para morrer”, lamenta.

Há três anos a viver no norte de Moçambique, a Irmã Mónica da Rocha explica que ela própria já mudou após o contacto diário com esta realidade. O povo moçambicano, diz a irmã à Fundação AIS, “marca-me todos os dias pela sua capacidade de resiliência, pela alegria e pela partilha. Com o pouco aprendemos a dar valor ao que temos e a ser gratos”.

Educris|13.04.2021



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