CNJP pede «Economia com Alma»

Nota da Comissão Nacional Justiça e Paz sobre a “Economia de Francisco” 

no Dia Internacional dos Direitos Humanos e em tempos de Natal

 

            A Comissão Nacional Justiça e Paz promoveu há dias uma conferência on line sobre a “Economia de Francisco”, evento internacional promovido pelo Papa Francisco e alusivo a São Francisco realizado duas semanas antes, também on line, a partir de Assis. Nessa conferência  incluíram-se testemunhos de três jovens diretamente envolvidos na participação portuguesa (Rita Monteiro, Marta Bicho e Francisco Maia), a que se seguiu um diálogo com Luigino Bruni, diretor científico do evento.

Desses três testemunhos, há a destacar o que afirmou Rita Monteiro: «é urgente trabalhar melhor, de forma mais equilibrada e focada, que haja trabalho para todos», mas também «que todos sejam cuidadores»; «para isso é preciso tempo; o mundo do trabalho pode aprender muito com o mundo do cuidado». Marta Bicho abordou a relação entre vocação e lucro, afirmando que «não tem de haver dicotomia entre vocação e lucro» e que não é preciso trabalhar no setor social para colocar a vocação-missão acima das questões financeiras. Francisco Maia ressaltou que este evento e o movimento que gerou, «parte da realidade concreta e só depois avança para o global»; e apontou os três eixos da “Economia de Francisco”: iniciar processos, alargar horizontes, criar pertença.

 Luigino Bruni agradeceu a participação portuguesa no evento, uma das que envolveu maior número de jovens – logo a seguir à Itália, ao Brasil e à Argentina. Falou da grande surpresa que foi e está a ser este movimento global - depois de muitas dificuldades na sua concretização -, que vai continuar a crescer, «sem muita estrutura e com muita gratuidade». Salientou os «belos momentos de espiritualidade e profundidade» vividos a partir de Assis.

Na mensagem que deixou no final do  encontro de Assis[1], o Papa Francisco afirmou, dirigindo-se aos jovens: «Sabeis que é urgente (…) reconhecer responsavelmente que o atual sistema mundial é insustentável de vários pontos de vista»; (…) «é indispensável crescer e apoiar grupos dirigentes capazes de desenvolver a cultura, iniciar processos (…), uma mudança dos estilos de vida, dos modelos de produção e de consumo, das estruturas consolidadas de poder, que hoje regem as sociedades»; são precisas «pessoas preparadas “prudentes como as serpentes e simples como as pombas” (Mt 10, 16), capazes de velar pelo desenvolvimento sustentável dos países»; a «vós jovens, provenientes de 115 países, dirijo o convite para reconhecerem que precisamos uns dos outros para dar vida a esta cultura económica».

A declaração e carta de compromisso[2] que os jovens partilharam no final do encontro de Assis, defende, entre outros aspetos, «o direito ao trabalho digno, o respeito pelos pobres, o investimento na educação, o apoio à sustentabilidade, a igualdade de oportunidades e o fim de paraísos fiscais».

A CNJP quer juntar a sua voz a este movimento global que visa dar uma nova alma à economia, partindo dos jovens e integrando todos num “novo barco económico”. Nesse sentido, apela aos responsáveis políticos e aos diversos decisores económicos, para que considerem sempre o bem comum e a dignidade da pessoa humana nestes tempos pandémicos que atravessamos. Que as limitações económicas e financeiras não promovam situações de miséria. Que haja criatividade na repartição dos esforços, e coragem para atravessar este “deserto” juntos, evitando sucumbir à tentação de aproveitamento da crise para “reestruturações” que descartem as pessoas.

Hoje, mais do que nunca, falar de direitos humanos é repartir esforços e recursos, também económicos. Publicamos esta Nota precisamente no Dia Internacional dos Direitos Humanos. No mundo de hoje, há uma relação estreita entre Economia e Direitos Humanos. Tudo está interligado.

O Menino, nascido em Belém no meio de tantas dificuldades, «não vem mudar as situações, mas vem mudar os corações; e são os nossos corações mudados que podem mudar as situações»[3]. Deixemos que Ele toque os nossos corações e «recicle as nossas mentalidades», para que este Natal seja o início de um tempo novo, com nova alma, na economia e em tudo o mais.

Um Santo Natal para todos!

Lisboa, 10 de dezembro 2020

A Comissão Nacional Justiça e Paz



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