Papa:«Violência em nome de Deus» nega «religiosidade autêntica»

Papa reuniu-se esta manhã, dia 3 de fevereiro, com os participantes da Conferência «Combater a violência praticada em nome da Religião, que hoje termina em Roma.

Leia, na íntegra, a intervenção do Santo Padre proferia na Sala Clementina, no Vaticano.

 

Caros amigos,

Dou-vos as boas vindas e agradeço a vossa presença. É muito significativo que líderes políticos e líderes religiosos se encontrem e discutam uns com os outros acerca do modo como combater a violência cometida em nome da religião.

Gostaria de recordar aqui o que tenho podido dizer em várias circunstâncias, especialmente na ocasião da minha viagem ao Egito: «Deus, amante da vida, não cessa de amar o homem e, por isso, exorta-o a contrastar o caminho da violência como pressuposto fundamental de toda a aliança sobre a terra. Para atuar este imperativo, estão chamadas em primeiro lugar, sobretudo nos dias de hoje, as religiões, porque, encontrando-nos na necessidade urgente do Absoluto, é imprescindível excluir qualquer absolutização que justifique formas de violência. Com efeito, a violência é a negação de toda a religiosidade autêntica. Somos chamados a desmascarar a violência que se disfarça de suposta sacralidade, apoiando-se na absolutização dos egoísmos, em vez de o fazer na autêntica abertura ao Absoluto. Devemos denunciar as violações contra a dignidade humana e contra os direitos humanos, trazer à luz do dia as tentativas de justificar toda a forma de ódio em nome da religião e condená-las como falsificação idólatra de Deus» (Discurso à Conferência Internacional pela Paz, Al -Azhar, Cairo, 28 de abril de 2017).

A violência propagada e implementada em nome da religião só pode desencorajar a própria religião; como tal, deve ser condenada por todos e, com uma convicção especial, pelo ser humano autenticamente religioso, o qual sabe que Deus é totalmente bondade, amor, compaixão e que Nele não há espaço para o ódio, o rancor e a vingança. A pessoa religiosa sabe que uma das maiores blasfémias é invocar Deus como garante dos seus próprios pecados e crimes, invocá-lo para justificar o homicídio, o massacre, a escravidão, e exploração em todas as suas formas, a opressão e perseguição de pessoas e populações inteiras.

A pessoa religiosa sabe que Deus é o Santo e que ninguém pode invocar O seu nome para fazer o mal. Todos os líderes religiosos são chamados a desmascarar qualquer tentativa de manipular Deus para fins que nada têm nada a ver com Ele e Sua glória. Devemos mostrar, sem nos cansar, que toda a vida humana tem em si um caráter sagrado, merece respeito, consideração, compaixão, solidariedade, independentemente da etnia, religião, cultura, orientação ideológica ou política.

A pertença a uma religião particular não dá qualquer dignidade ou direitos adicionais aos que aderem a ela, assim como a não pertença não os prejudica nem diminui.

Por conseguinte, é necessário empenharmo-nos juntos, líderes políticos e líderes religiosos, professores e educadores, da formação e da informação, para alertar qualquer pessoa que seja tentada por formas perversas de religiosidade equivocada, que nada têm nada a ver com o testemunho de uma religião digna desse nome.

Isto ajudará todos aqueles que com boa vontade procuram a Deus a encontrá-lo verdadeiramente, a encontrar-se com Aquele que liberta do medo, do ódio e da violência, que deseja servir-se da criatividade e das energias uns dos outros para espalhar o seu plano de amor e paz destinado a todos.

Caros Senhoras e Senhores, agradeço novamente o meu apreço pela vossa vontade  de refletir e dialogar sobre uma questão dramaticamente tão importante, e por terdes dado  assim um contributo qualificado para o crescimento da cultura da paz fundada na verdade e no amor. Deus vos abençoe e ao vosso trabalho. Obrigado.

Educris| 02.02.2018

Tradução a partir do original em italiano



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