Audiência-geral: «A esperança, força dos mártires»

Na manhã de quarta-feira o Papa Francisco continuou a série de audiências gerais onde tem apresentado o tema da esperança. Hoje o Papa apresentou um percurso sobre a a esperança como força dos mártires.

Leia, na íntegra, a catequese do Papa Francisco.

A esperança cristã - 28. A esperança, força dos mártires

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje refletimos sobre a esperança cristã como força dos mártires. Quando, no Evangelho, Jesus envia os seus discípulos em missão, não os ilude com ilusões de sucesso fácil; pelo contrário, ele adverte-os claramente que o anúncio do Reino de Deus envolve sempre oposição. E emprega aí uma expressão extrema: «Sereis odiados – odiados – por todos por causa do meu nome» (Mateus 10, 22). Os cristãos amam, mas nem sempre são amados. Imediatamente Jesus coloca-nos diante desta realidade: numa medida mais ou menos forte, a profissão de fé ocorre numa atmosfera de hostilidade.

Os cristãos são, portanto, homens e mulheres "contracorrente". É normal, porque o mundo está marcado pelo pecado, que se manifesta em diversas formas de egoísmo e de injustiça, quem segue Cristo caminha na direção oposta. Não pela polémica, mas pela fidelidade à lógica  do Reino de Deus, que é uma lógica de esperança, e resulta num estilo de vida com base nas indicações de Jesus.

E a primeira indicação é a pobreza. Quando Jesus envia os seus em missão, ele parece colocar mais cuidado no “despojar-se” no que no “vestir-se”! Na verdade, um cristão que não é pobre e humilde, longe da riqueza e do poder e, especialmente, despojado de si mesmo, não se parece com Jesus. O cristão percorre o seu caminho neste mundo com o essencial para o caminho, mas com o coração cheio de amor. A verdadeira derrota para ele ou ela é cair na tentação da vingança e violência, respondendo ao mal com o mal. Jesus diz-nos: «Eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos» (Mateus 10:16). Assim, sem boca, sem garras, sem armas. O cristão deve ser prudente, às vezes até astucioso: estas são virtudes aceites na logica evangeliza. Mas a violência jamais. Para derrotar o mal, não se pode compartilhar os métodos do mal.

A única força do cristão é o Evangelho. Em tempos de dificuldade, deve crer5-se que Jesus vai à nossa frente, e não cessa de acompanhar os seus discípulos. A perseguição não é uma contradição ao Evangelho, mas é parte dela: se eles perseguiram o nosso Mestre, como podemos ter esperança de ser poupados da luta? Mas, no meio do turbilhão, o cristão não deve perder a esperança, pensando que foi abandonado. Jesus tranquiliza os seus dizendo: «Até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados» (Mateus 10,30). Como que a dizer-nos que nenhum dos sofrimentos humanos, mesmo os mais minutos e escondidos, são invisíveis aos olhos de Deus. Deus vê, e seguramente protege; e doará o seu resgate. Há de facto entre nós Alguém que é mais forte do que o mal, mais forte do que a máfia, de tramas obscuras, daquelas que derivam de lucro a partir da pele dos desesperados, que esmaga os outros com prepotência... Alguém que escuta sempre a voz do sangue Abel que grita da terra.

Os cristãos devem, portanto, estar sempre '' no oposto” do mundo, aquele onde está Deus: não perseguidores, mas perseguidos; não arrogantes, mas suaves; não vendedores de banha da cobra mas submissos à verdade; não impostores, mas honestos.

Esta fidelidade ao estilo de Jesus - que é uma forma de esperança - até a morte, será chamada pelos primeiros cristãos com um belo nome: "martírio", que significa "testemunha". Havia muitas outras possibilidades, oferecidas pelo vocabulário: Poder-se-ia chamar heroísmo, abnegação, auto-sacrifício. Em vez disso os cristãos da primeira hora chamaram-no por um nome que tem cheiro de discipulado. Os mártires não vivem para si mesmos, não lutam para fazer valer as suas ideias, e aceitam até a morte por fidelidade ao Evangelho. O martírio não é ainda o ideal supremo da vida cristã, porque à sua frente está a caridade, que é o amor a Deus e ao próximo. Diz-nos isso o grande apóstolo Paulo diz no hino à caridade, entendida como amor a Deus e ao próximo. São belíssimas as palavras do apóstolo Paulo no hino à caridade: «Se eu der todos os meus bens, e ainda que entregue o meu corpo, se não tiver amor, nada disso me aproveitaria» (1 Cor 13,3). Repugna aos cristãos a ideia de que homens-bomba possam ser chamados de "mártires": não há nada nesse fim que possa ser semelhante à atitude dos filhos de Deus.

Às vezes, lendo as histórias de tantos mártires de ontem e de hoje - que são mais do que os mártires dos primeiros dias -, fico surpreendido em frente à fortaleza com que eles enfrentaram a prova. Esta fortaleza é um sinal da grande esperança que os animava: «Estou convencido de que nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem as potestades, nem a altura, nem o abismo, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus que está em Cristo Jesus, Senhor nosso.» (cf. Rm 8,38-39).

Que Deus sempre nos dê a força para sermos suas testemunhas. Que nos dê o dom de viver a esperança cristã, especialmente no martírio escondido de fazer o bem e amar os nossos deveres diários. Obrigado.

Tradução: Educris a partir do original italiano

Educris|28.06.2017



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