Audiência-geral: «A paternidade de Deus, fonte da nossa esperança»

Na manhã de quarta-feira o Papa Francisco continuou a série de audiências gerais onde tem apresentado o tema da esperança. Hoje o Papa apresentou a paternidade de Deus como fonte da nossa esperança.

 

A esperança cristã - 25. A paternidade de Deus, fonte da nossa esperança

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Havia qualquer coisa de fascinante na oração de Jesus, de tal modo fascinante que um dia os seus discípulos fizeram-lhe um pedido para que nela os introduzisse. O episódio está no Evangelho de Lucas, que de entre os evangelistas é aquele que de maneira mais extensa documentou o mistério do Cristo “orante”: O Senhor rezava. Os discípulos de Jesus ficaram impressionados com este facto, especialmente na parte da manhã e à noite, ele retira-se para estar sozinho e “emerge” em oração.  E por isso, um dia, eles pedem-lhe para que lhes ensine também a rezar. (Lc 11,1).

É neste momento que Jesus transmite aquela que se tornou a oração cristã por excelência: O “Pai nosso”. De facto, Lucas, em comparação com Mateus, dá-nos a oração de Jesus de uma maneira um pouco mais abreviada, que começa com a simples invocação: «Pai» (v. 2).

Todo o mistério da oração cristã se resume aqui, nestas palavras: ter a coragem de chamar Deus com o nome de Pai. Isto afirma-se também na liturgia quando, convidando à recitação comunitária da oração de Jesus, usamos a expressão «ousamos dizer».

Na verdade, chamar Deus de “Pai” não é de nenhuma maneira um facto consumado. Estaríamos inclinados a usar os mais altos títulos, que parecessem mais respeitosos da sua transcendência. Pelo contrário, invocá-lo como "Pai" coloca-nos numa relação de confiança com Ele, como uma criança que se vira para o seu pai, sabendo-se amado e cuidado por Ele. Esta é a grande revolução que o cristianismo imprime na psicologia religiosa do homem. O mistério de Deus, que sempre nos fascinou e nos fez sentir pequenos, mas que não mete mais medo, não nos esmaga, não nos angustia. Esta é uma revolução difícil de acolher na nossa alma humana; e é de tal modo verdade que no relato da Ressurreição as mulheres, depois de verem o túmulo vazio e o anjo, «fugiram […], porque estavam cheias de medo e espanto» (Mc 16,8). Mas Jesus revela-nos que Deus é um bom Pai, e diz-nos: "Não tenhais medo!".

 

Pensemos na parábola do pai misericordioso (cf. Lc 15,11-32). Jesus fala de um pai que só conhece o amor pelos seus filhos. Um pai que não pune o filho pela sua arrogância e é mesmo capaz de lhe dar a sua parte da herança, deixando-o caminhar até voltar a casa. Deus é Pai, diz-nos Jesus, mas não de uma forma humana, porque não existe nenhum pai neste mundo que aja como o protagonista desta parábola. Deus é Pai à sua maneira: bom, indefeso diante do livre arbítrio do homem, capaz somente de conjugar o verbo “amar”. Quando o filho rebelde, depois de ter esbanjado tudo, finalmente retorna para a casa natal, aquele pai não aplica os critérios de justiça humana, mas sente antes de tudo a necessidade de perdoar, e com o seu abraço faz o filho perceber o todo que o seu tempo de ausência o fez perder, dolorosamente falhou no seu amor ao pai.

Que mistério insondável de um Deus que alimenta este tipo de amor na relação com os seus filhos!

Provavelmente é por este motivo que, evocando o coração do mistério cristão, o apóstolo Paulo não se atreve em traduzir numa palavra grega a expressão que Jesus, em aramaico, pronuncia “abbà”. Por duas vezes São Paulo, nas suas cartas (cf. Rm 8,15; Gl 4,6), aborda este tema, e por duas vezes deixa a palavra não traduzida, na mesma forma em que floresceu nos lábios de Jesus, “abbà” um termo ainda mais íntimo do que o tratamento de “pai”, e que alguns traduzem por “paizinho, papá”.

Queridos irmãos e irmãs, não estamos mais sozinhos. Podemos estar distantes, hostis, podemos mesmo professarmo-nos pessoas“sem Deus”. Mas o evangelho de Jesus Cristo revela-nos que Deus não pode estar sem nós: Ele não será mais um Deus “sem o homem”; é Ele que não pode permanecer sem nós, e este é um grande mistério! Deus não pode ser Deus sem o homem: grande mistério este! E esta certeza é a fonte da nossa esperança, que conservámos em todas as invocações do Pai Nosso. Quando precisamos de ajuda, Jesus não nos diz para nos demitirmos e nos fecharmos sobre nós próprios, mas para nos voltarmos ao Pai e pedir-lhe com confiança. Todas as nossas necessidades, desde as mais óbvias e diárias, como a alimentação, a saúde, o trabalho, até à necessidade de sermos perdoados e sustentados contra as tentações, não são o espelho da nossa solidão: pelo contrário, há um Pai que olha sempre com amor, e que certamente não nos abandona.

Agora faço-vos uma proposta: todos nós temos tantos problemas e tantas necessidades. Pensemos um pouco, em silêncio, nestes problemas e nestas necessidades. Pensemos também no Pai, no nosso Pai, que não pode existir sem nós, e que neste momento nos olha. Todos juntos, com confiança e esperança, rezemos: "Pai nosso, que estais no céu ..."

Obrigado!

Tradução: Educris a partir do original italiano

Educris|07.06.2017



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