«Está de volta a retórica bélica. Falemos de Paz, sonhemos com a Paz», pede o Papa

Francisco recebeu os participantes do colóquio promovido pelo dicastério para o Diálogo Inter-religioso e refletiu sobre o “respeito pela diversidade”, pedindo aos responsáveis “um compromisso com a casa comum e a promoção da paz”

Leia, na íntegra, e em português, o discurso do Papa Francisco

Senhor Presidente do Senado,
Vossa Eminência, Excelências,
Autoridades cazaques,
irmãos e irmãs,

 

Dou-vos as boas-vindas por ocasião do vosso Colóquio, que envolve o Dicastério para o Diálogo Inter-religioso e, do lado cazaque, o Congresso dos Líderes das Religiões Tradicionais e Mundiais, o Senado da República e o Centro Nursultan Nazarbayev para o Diálogo Inter-religioso e Intercultural. É para mim motivo de alegria ver neste evento um primeiro fruto significativo do Memorando de Entendimento celebrado entre o Centro Nazarbayev e o referido dicastério.

Este encontro dá-me a oportunidade de recordar o VII Congresso de Líderes das Religiões Tradicionais e Mundiais, ao qual participei em 2022, na minha viagem a Astana. O Congresso é uma plataforma única e bem testada para o diálogo não só entre líderes religiosos, mas também com o mundo da política, da cultura e dos meios de comunicação social. É uma iniciativa válida que corresponde bem à vocação do Cazaquistão de ser um país de encontro.

Além da viagem apostólica, tive a oportunidade de mostrar a minha proximidade ao povo cazaque por ocasião da visita ao Vaticano, em janeiro passado, do Presidente da República, que tão gentilmente me acolheu no país, e no encontro com Sua Excelência o Senhor Ashimbayev, Presidente do Senado e chefe do Secretariado do Congresso, que participa no seu colóquio como chefe da Delegação do Cazaquistão.

Devemos apoiar-nos mutuamente para promover a harmonia entre religiões, etnias e culturas, harmonia da qual o seu grande país pode orgulhar-se. Em particular, há três aspetos da sua realidade que gostaria de destacar: primeiro, o respeito pela diversidade, o compromisso com a “casa comum” e a promoção da paz.

No que diz respeito ao respeito pela diversidade, elemento essencial da democracia – que deve ser constantemente promovido – o facto de o Estado ser “laico” contribui muito para a criação de harmonia. Estamos obviamente a falar de um secularismo que não mistura religião e política, mas distingue-as para o bem de ambas, e que ao mesmo tempo reconhece o papel essencial das religiões na sociedade, ao serviço de o bem comum. Além disso, a paz e a harmonia social são favorecidas, segundo o modelo, através de um tratamento justo e equitativo das diferentes componentes étnicas, incluindo as religiosas e culturais. E isto diz respeito ao trabalho, ao acesso a cargos públicos e à participação na vida política e social do país, para que ninguém se sinta discriminado ou favorecido devido à sua identidade específica.

Quanto ao segundo ponto – o compromisso pela tutela da criação – sublinho o tema que escolhestes: «A nossa casa comum: um dom divino que deve ser amado e cuidado». Entre os documentos de trabalho, além da Laudato si e da Laudate Deum, levastes em consideração o texto “Conceito de Desenvolvimento 2023-2024”, solicitado pelo Presidente da República, e que oferece uma visão panorâmica do Congresso e das suas atividades na próxima década, com especial atenção às questões ambientais. Isto é importante: o respeito pela criação é uma consequência inalienável do amor ao Criador, aos irmãos e irmãs com quem partilhamos a vida no planeta, e especialmente às gerações futuras, às quais somos chamados a transmitir um legado que deve ser apreciado, não uma dívida ecológica que deve ser paga. Espero que a vossa iniciativa edifique e dê uma contribuição importante neste sentido.

O vosso encontro tem, finalmente, uma terceira dimensão: a promoção da paz. Hoje, muitas, muitas - e muitas, ah - muitas vozes falam de guerra: a retórica bélica, infelizmente, voltou à moda. Isto é mau. Mas enquanto se espalham palavras de ódio, as pessoas morrem na brutalidade dos conflitos. Em vez disso, devemos falar de paz, sonhar com a paz, dar criatividade e concretude às expectativas de paz, que são as verdadeiras expectativas do povo e das pessoas. Que se façam todos os esforços possíveis neste sentido, em diálogo com todos. Que o vosso encontro, no respeito pela diversidade e com a intenção de enriquecimento mútuo, seja um exemplo para não ver o outro como uma ameaça, mas como um presente e um interlocutor valioso para o crescimento mútuo.

Queridos amigos, desejo-vos dias fraternos, fecundos de amizade e de bons projetos, e que partilheis frutuosamente os resultados do vosso trabalho. Invoco sobre vós a bênção do Todo-Poderoso, amante da paz. Obrigado.

Imagem: Fundação AIS

Tradução EDUCRIS a partir do original em italiano

05.04.2024



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