Papa deseja que os bispos sejam capazes de «acompanhar a vocação de novos catequistas»

No discurso da passada sexta-feira aos participantes da Assembleia Plenária do Dicastério para a Evangelização, na secção das questões fundamentais da evangelização no mundo, Francisco apelou aos bispos de todo um um pedindo-lhes uma capacidade de "alimentar e acompanhar as vocações para este ministério, especialmente entre os jovens" de modo a que "o fosso entre as gerações seja reduzido e que a transmissão da fé não apareça como uma tarefa confiada apenas aos idosos". Francisco lembrou a importância "do encontro com Jesus Cristo", na catequese, criticou os efeitos do secularismo" e apresentou a "espiritualidade da misericórdia" como "onteúdo fundamental na obra de evangelização"

Leia, na íntegra, o discurso do Santo Padre 

Queridos irmãos e irmãs!

Tenho o prazer de receber-vos, Superiores, Membros e Consultores do Dicastério para a Evangelização – Secção para as Questões Fundamentais do Mundo, reunidos em assembleia plenária. É um momento importante para o confronto que os problemas da evangelização implicam, especialmente se o olhar estiver voltado para as diversas regiões do mundo, tão diferentes umas das outras em cultura e tradição.

O primeiro pensamento dirige-se à situação enfrentada por várias Igrejas locais, onde o secularismo das décadas passadas criou enormes dificuldades: desde a perda do sentido de pertença à comunidade cristã, até à indiferença em relação à fé e aos seus conteúdos. São problemas graves com os quais muitos irmãos têm de lidar todos os dias, mas não devemos desanimar. O secularismo foi estudado e inúmeras páginas foram escritas sobre ele. Conhecemos os efeitos negativos que produziu, mas este é um momento propício para compreender que resposta eficaz somos chamados a dar às jovens gerações para que possam recuperar o sentido da vida. O apelo à autonomia pessoal, apresentado como uma das reivindicações do secularismo, não pode ser teorizado como independência de Deus, porque é precisamente Deus quem garante a liberdade de ação pessoal. E no que diz respeito à nova cultura digital, que apresenta muitos aspetos interessantes para o progresso da humanidade - pensemos na medicina e na proteção da criação -, traz consigo também uma visão do homem que parece problemática se referida à necessidade de verdade que ela habita em cada pessoa, aliada à necessidade de liberdade nas relações interpessoais e sociais.

Portanto, o grande problema que temos diante de nós é o de compreender como superar a rutura ocorrida na transmissão da fé. Para tal, é urgente recuperar uma relação eficaz com as famílias e os centros de formação. Para ser transmitida, a fé no Senhor Ressuscitado, que é o coração da evangelização, requer uma experiência significativa vivida na família e na comunidade cristã como um encontro transformador de vida com Jesus Cristo. Sem este encontro real e existencial estaremos sempre sujeitos à tentação de fazer da fé uma teoria e não um testemunho de vida.

Ainda no que diz respeito à questão prioritária da transmissão da fé, agradeço-vos o serviço que prestais no campo da catequese. E faço-o recorrendo ao novo Diretório, que desenvolvestes em 2020. É uma ferramenta válida e pode ser eficaz, não só para a renovação da metodologia catequética, mas diria sobretudo para o envolvimento da comunidade cristã como um todo. Nesta missão é confiado um papel específico a quantos receberam e receberão o ministério de Catequista, para serem fortalecidos no seu compromisso ao serviço da evangelização. Desejo que os Bispos saibam alimentar e acompanhar as vocações para este ministério, especialmente entre os jovens, para permitir que o fosso entre as gerações seja reduzido e que a transmissão da fé não apareça como uma tarefa confiada apenas aos idosos. Neste sentido, encorajo-vos a encontrar caminhos para que o Catecismo da Igreja Católica possa continuar a ser conhecido, estudado, valorizado, para que dele possam ser extraídas respostas às novas necessidades que surgem com o passar das décadas.

Um segundo tema que gostaria de partilhar convosco é o da espiritualidade da misericórdia, como conteúdo fundamental na obra de evangelização. A misericórdia de Deus nunca falha e somos chamados a dar testemunho dela e a fazê-la, por assim dizer, circular nas veias do corpo da Igreja. Deus é misericórdia: esta mensagem perene foi relançada com renovada força e métodos por São João Paulo II para a Igreja e a humanidade no início do terceiro milénio. A pastoral dos Santuários, que é da vossa responsabilidade, exige estar imbuídos de misericórdia, para que quem chega a esses lugares possa encontrar oásis de paz e serenidade. Os Missionários da Misericórdia, com o seu serviço generoso ao Sacramento da Reconciliação, oferecem um testemunho que deve ajudar todos os sacerdotes a redescobrir a graça e a alegria de serem ministros de Deus que perdoa sempre e sem limites. Ministro de Deus que não só espera, mas vai ao encontro, vai em busca, porque é um Pai misericordioso, não um mestre, é um bom Pastor, não um mercenário, e fica cheio de alegria quando pode acolher uma pessoa que retorna, ou a encontra enquanto vagueia nos seus labirintos (ver João 10; Lucas 15). Quando a evangelização se realiza com a unção e o estilo da misericórdia, encontra maior escuta e o coração abre-se com mais disponibilidade à conversão. Na verdade, fomos tocados naquilo que sentimos que mais necessitamos, ou seja, o amor puro e gratuito, que é fonte de vida nova.

O terceiro tema que gostaria de vos propor é a preparação para o Jubileu Ordinário do próximo ano. Será um Jubileu no qual deverá emergir a força da esperança. Dentro de algumas semanas tornarei pública a Carta Apostólica para o seu anúncio oficial: espero que estas páginas possam ajudar muitos a refletir e sobretudo a viver concretamente a esperança. Esta virtude teologal tem sido vista poeticamente como a “irmã mais nova” entre as outras duas, a fé e a caridade, mas sem a qual estas duas não podem avançar e não se expressam melhor a si mesmas. O povo santo de Deus precisa muito disto! Conheço o grande empenho que o Dicastério tem vindo a colocar na organização diária do próximo Jubileu. Agradeço e tenho certeza de que todo o vosso trabalho dará frutos. O acolhimento dos peregrinos, porém, precisa exprimir-se não só nas obras estruturais e culturais que são necessárias, mas também em permitir-lhes viver a experiência da fé, da conversão e do perdão, encontrando-se com uma comunidade viva que dá testemunha alegre e convicta.

E não esqueçamos que este ano que antecede o Jubileu é dedicado à oração. Precisamos redescobrir a oração como experiência de estar na presença do Senhor, de nos sentirmos compreendidos, acolhidos e amados por Ele. Como Jesus nos ensinou, não se trata de multiplicar as palavras, mas de dar espaço ao silêncio para ouvir a sua Palavra e acolhê-la nas nossas vidas (cf. Mt 6,5-9). Comecemos nós, irmãos e irmãs, a rezar mais, a rezar melhor, na escola de Maria e dos santos.

Agradeço-vos o vosso trabalho nestes dias e o vosso serviço à Igreja. Eu vos abençoo do fundo do meu coração rezando por vós. E vós também, por favor, orai por mim. Obrigado!

Tradução e destaques: Educris a partir do original em Italiano

Imagem: Dicastério para a Evangelização

Educris|19.03.2024



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