Diálogo Inter-religioso: Papa mostra-se «indignado» e «desgostoso» pela queima do Corão na Suécia

Francisco lembra que é fundamental promover os valores promulgados pelo documento acerca da Fraternidade Humana

O Papa Francisco concedeu hoje uma entrevista ao ‘Al-Ittihad', um jornal online dos Emirados Árabes Unidos, onde diz “lamentar profundamente” a queima de um exemplar o Corão, o livro mais sagrado no mundo Islâmico, e lembra que a “Liberdade de expressão nunca deve ser usada como desculpa para desprezar os outros”.

“Sinto-me indignado e desgostoso com estas ações. Qualquer livro considerado sagrado pelos seus autores deve ser cuidado em respeito aos seus fiéis, e a liberdade de expressão nunca deve ser usada como desculpa para desprezar os outros, e se permitir isto, deve ser rejeitada e condenada”, afirmou.

Francisco recordou assim o ato de um homem que profanou e queimou o Corão, em frente à Grande Mesquita de Estocolmo, no passado dia 28 de junho, quando o mundo islão assinalava a celebração muçulmana do Eid al-Adha, realizada em memória do sacrifício do filho do patriarca Abraão.

Na entrevista, o Papa recordou a sua visita a Abu Dhabi, em 2019, da qual resultou o documento sobre a Fraternidade Humana, uma declaração católico-islâmica para a paz mundial e a convivência comum e, dois anos depois, o I Dia Internacional da Fraternidade Humana numa iniciativa da Organização das Nações Unidas.

“A fraternidade humana é o antídoto de que o mundo precisa para se curar do veneno destas feridas. O futuro da cooperação inter-religiosa baseia-se no princípio da reciprocidade, do respeito ao outro e da verdade”, reforçou.

Perante o aumento das intolerâncias, extremismos, nacionalismos, e ‘fake news’ o Papa apresentou uma proposta de solução para o problema.

“Em minha opinião, a única forma de proteger os jovens das mensagens negativas e das notícias falsas e fabricadas, e das tentações do materialismo, ódio e preconceito, devemos abandoná-los nesta batalha, mas dar-lhes as ferramentas necessárias, que são liberdade, discernimento e responsabilidade”.

No mundo atual Francisco desafiou ao diálogo entre religiões, com iniciativas de “cooperação, em fraternidade, em boas obras concretas” e apelou ao aparecimento de “construtores de paz”.

“Hoje precisamos de construtores de paz, não de fabricantes de armas; hoje precisamos de construtores de paz, não de instigadores de conflitos; precisamos de bombeiros, não de incendiários; precisamos de defensores da reconciliação, não de pessoas ameaçadas de destruição”.

A Casa de Abraão em Abu Dhabi

Na entrevista Francisco manifestou o seu apreço pela «Casa Abraâmica de Abu Dhabi», um quarteirão inter-religioso que comporta uma Igreja, dedicada a São Francisco, uma Mesquita e uma Sinagoga, criada para concretizar o princípio da Fraternidade Humana.

A entrevista abordou ainda o estado de saúde do Papa, no pós cirurgia do início do mês passado.

“Foi difícil, mas agora estou melhor, graças a Deus, graças ao empenho e profissionalismo dos médicos e da equipa de enfermagem, a quem agradeço muito. Rezo por eles e pelas suas famílias, por todas as pessoas que escreveram e rezaram por mim nesses dias”, conclui.

Foto de Malik Shibly na Unsplash

Educris|03.07.2023



Newsletter Educris

Receba as nossas novidades