Audiência-geral: «Precisamos de corações que atraiam o amor», pede o Papa

Em nova catequese sobre o «zelo apostólico» Francisco recordou a força e o amor de Santa Teresa do Menino Jesus, padroeira das Missões, e desafiou os cristãos a serem testemunhas do amor de Deus

Leia, na íntegra, a catequese do papa

Catequese. A paixão pela evangelização: o zelo apostólico do crente 16. Testemunhas: Santa Teresa do Menino Jesus, padroeira das missões

Queridos irmãos e irmãs, sejam bem-vindos, bom dia!

Aqui estão diante de nós as relíquias de Santa Teresa do Menino Jesus, padroeira universal das missões. É bonito que assim seja enquanto refletimos sobre a paixão pela evangelização, sobre o zelo apostólico. Hoje, portanto, deixemo-nos ajudar pelo testemunho de Santa Teresa. Ela nasceu há 150 anos, e neste aniversário pretendo dedicar-lhe uma Carta Apostólica.

Ela é padroeira das missões, mas nunca esteve em missão: como se explica isto? Ela era uma freira carmelita e a sua vida estava sob o desígnio da pequenez e da fraqueza: ela própria se definia como "um pequeno grão de areia". Com uma saúde frágil, morreu com apenas 24 anos de idade. Mas, embora o seu corpo estivesse doente, o seu coração era vibrante, era missionário. No seu “diário” ela conta que ser missionária, era o seu desejo e que queria sê-lo não apenas por alguns anos, mas por toda a sua vida, até o fim do mundo. Teresa foi a "irmã espiritual" de vários missionários: desde o mosteiro acompanhou-os com as suas cartas, com orações e oferecendo sacrifícios contínuos por eles. Sem aparecer, ela intercedia pelas missões, como um motor que, escondido, dá força a um veículo para seguir em frente. Porém, muitas vezes não era compreendida pelas monjas: recebia delas "mais espinhos do que rosas", mas aceitava tudo com amor, com paciência, oferecendo juntamente com doenças, julgamentos e incompreensões. E fê-lo com alegria, fê-lo pelas necessidades da Igreja, para que, como dizia, «se espalhassem rosas sobre todos», sobretudo sobre os mais afastados.

Neste momento pergunto-me, podemos perguntar-nos todos: de onde vem todo este zelo, esta força missionária e esta alegria de interceder? Dois episódios ajudam a compreendê-lo, ocorridos antes da entrada de Teresa no mosteiro. A primeira refere-se ao dia que mudou a sua vida, o Natal de 1886, quando Deus operou um milagre no seu coração. Faltava pouco para Teresa completar catorze anos. Sendo a filha mais nova, em casa era mimada por todos, mas não "malcriada". Voltando da missa da meia-noite, o pai, muito cansado, não quis assistir à abertura dos presentes da filha e disse: “Graças a Deus é o último ano!”, porque aos 15 anos já não o fazia. Teresa, de caráter muito sensível e propensa às lágrimas, sentiu-se mal, subiu para o quarto e chorou. Mas ela rapidamente recuperou das lágrimas, desceu e cheia de alegria, foi ela quem encorajou o pai. O que havia aconteceu? Que, naquela noite, em que Jesus se tornou debil por amor, ela fortaleceu-se no espírito – um verdadeiro milagre: em poucos momentos ela saiu da prisão do seu egoísmo e da sua lamentação; começou a sentir que "a caridade entrou no seu coração, com a necessidade de se esquecer de si mesma" (cf. Manuscrito A, 133-134). A partir de então, dirigiu o seu zelo aos outros, para que encontrassem Deus e, em vez de buscar consolo para si mesmo, propôs “consolar Jesus, fazê-lo amar pelas almas”, porque – observou Teresa – “Jesus está doente de amor e [...] a doença do amor só se cura com o amor» (Carta a Marie Guérin, julho de 1890). Este é o propósito de todas as suas viagens: "fazer Jesus ser amado" (Carta a Céline, 15 de outubro de 1889), interceder para que os outros o amem. Ela escreveu: «Gostaria de salvar as almas e esquecer-me de mim mesmo por elas: gostaria de salvá-las também depois da minha morte» (Carta ao Pe. Roullan, 19 de março de 1897). Por mais de uma ocasião ela disse: "Passarei o meu céu a fazer o bem na terra." Este é o primeiro episódio que mudou a sua vida aos 14 anos.

E este seu zelo dirigia-se sobretudo aos pecadores, aos "distantes". O segundo episódio revela isto mesmo. Teresa soube de um criminoso condenado à morte por crimes horríveis, de seu nome Enrico Pranzini – ela escreve o nome: considerado culpado pelo brutal assassinato de três pessoas, estava destinado à guilhotina, mas não quis receber o consolo de fé. Teresa levou isso muito a sério e fez tudo o que pôde: rezar de todas as formas pela sua conversão, para que aquele que, com compaixão fraterna, chama de "pobre infeliz Pranzini", tenha um pequeno sinal de arrependimento e dê lugar à misericórdia de Deus, em que Teresa confia cegamente. A execução ocorreu. No dia seguinte, Teresa leu no jornal que Pranzini, pouco antes de colocar a cabeça no cadafalso, "virou-se, pegou o crucifixo que o padre lhe apresentou e beijou três vezes as suas sagradas chagas!" A santa comenta: “Então a sua alma voou para receber a sentença misericordiosa d’Aquele que disse que haverá mais alegria no céu por um só pecador que se converte do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão” (Manuscrito A , 135).

Irmãos e irmãs, esta é a força da intercessão movida pela caridade, este é o motor da missão. Com efeito, os missionários, de quem Teresa é patrona, não são apenas os que viajam muito, aprendem novas línguas, fazem boas obras e sabem fazer bem o anuncio; não, missionário é também todo aquele que vive, onde quer que esteja, como instrumento do amor de Deus; É ele quem faz tudo para que, através do seu testemunho, da sua oração, da sua intercessão, Jesus passe. E este é o zelo apostólico que, lembremo-nos sempre, nunca funciona através do proselitismo - nunca! - ou por constrição - nunca! - mas por atração: a fé nasce por atração, ninguém se torna cristão porque alguém o obriga, não, mas porque é tocado pelo amor. A Igreja, antes de tantos meios, métodos e estruturas, que às vezes desviam do essencial, precisa de corações como o de Teresa, corações que atraiam o amor e aproximassem Deus. E peçamos à santa - temos as relíquias, aqui - peçamos à santa a graça de vencer o nosso egoísmo e peçamos a paixão de interceder para que esta atração seja maior nas pessoas e para que Jesus seja conhecido e amado.

Imagem: Vatican Media

Tradução Educris a partir do original em italiano

Educris|07.06.2023



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