Francisco afirma importância da «Pessoa com Deficiência» na construção da sociedade

O Papa Francisco recebeu hoje, em audiência, os membros da União Italiana de Cegos e deficientes visuais. No seu discurso Francisco afirmou que a Igreja não olha com "pietismo" para a Pessoa com deficiência, e exortou os membros da associação a colaborarem para "uma sociedade mais aberta e inclusiva"

Leia, na íntegra e em português, o dicurso do Santo Padre

Caros amigos, bom dia e sejam bem-vindos!

Estou agradeço a todos vós, que formais o Conselho Nacional da União Italiana de Cegos e Deficientes Visuais, por terem vindo compartilhar as preocupações e os projetos desta fase do vosso empenho.

Quis fazê-lo por ocasião da festa litúrgica de Santa Lúcia - que é amanhã, e amanhã é também o aniversário da minha ordenação sacerdotal: fui ordenado no dia de Santa Lúcia -, padroeira das pessoas com deficiência ou doenças da visão. Apreciei esta escolha, porque exprime um sentido religioso tradicional, próprio do povo italiano, e que não se opõe ao facto de a vossa associação ser laica e não confessional.

Lúcia, mártir siracusana, recorda-nos com o seu exemplo que a máxima dignidade da pessoa humana consiste em dar testemunho da verdade, seguindo a própria consciência custe o que custar, sem duplicidade e sem comprometimento. Isto significa estar do lado da luz, servindo a luz, como o próprio nome "Lúcia" evoca. Ser pessoas claras, transparentes, sinceras; comunicar com os outros de forma aberta, clara e respeitosa. Deste modo se contribuir para espalhar luz nos ambientes em que vivemos, para os tornar mais humanos, mais habitáveis.

A partir deste ponto de partida que recolhemos da figura de Santa Lúcia, gostaria de vos confidenciar como vejo a vossa Associação: vejo-vos como uma força construtiva na sociedade, especialmente na sociedade italiana, que atravessa um momento difícil. Esta perspetiva pode parecer estranha, porque a deficiência geralmente está associada à ideia de necessidade, assistência e, às vezes – cada vez menos graças a Deus – a um certo pietismo. Não, o Papa não vos olha assim; a Igreja não vos olha assim. O ponto de vista cristão sobre a deficiência não é mais e não deve mais ser pietismo e mero assistencialismo, mas a consciência de que a fragilidade, assumida com responsabilidade e solidariedade, é um recurso para todo o corpo social e para a comunidade eclesial.

As pessoas cegas e deficientes visuais, bem formadas nos princípios éticos e na consciência cívica, estão na vanguarda da construção de comunidades inclusivas, onde todos podem participar sem se envergonhar das suas limitações e fragilidades, cooperando com os outros para se complementarem e apoiarem. E todos precisamos uns dos outros, não só as pessoas com problemas de fragilidade física, mas todos precisamos da ajuda dos outros para seguir em frente na vida, porque somos todos fracos de coração, todos. A vossa é uma Associação que acaba de completar cem anos; é uma realidade que já faz parte da história nacional: ao proteger os direitos das pessoas com deficiência visual colaborastes para o crescimento civil do país. Encorajo-vos a seguir em frente com um estilo cada vez mais construtivo e proativo, como uma força que transmite confiança e esperança.

A sociedade italiana precisa de esperança, e esta vem sobretudo do testemunho de pessoas que, na sua condição de fragilidade, não se fecham, não sentem pena de si mesmas, mas trabalham em conjunto com os outros para melhorar as coisas.

Com efeito, Santa Lúcia é descrita precisamente assim: como uma mulher jovem e indefesa que, no entanto, não cede às ameaças e lisonjas, pelo contrário, responde com coragem e enfrenta o juiz que a interroga. Com a proteção e o exemplo de Lúcia, segui em frente!

De coração vos abençoo juntamente com todos os membros da vossa Associação. Desejo-vos um Feliz Natal extensível aos vossos entes queridos! E, por favor, não vos esqueçais de orar por mim. Obrigado!

Imagem: Vatican MEDIA

Tradução Educris a partir do original em italiano

12.12.2022