Carta do Papa Francisco aos participantes do Congresso Mundial das Escolas Católicas

Ao Senhor Philippe Richard

secretário-geral da Oficina Internacional da Escola Católica (OIEC)

Senhor Secretário-Geral:

É de bom grado que atendo ao vosso pedido de me unir ao Congresso promovido pela Oficina Internacional da Educação Católica, que se celebra em Marselha de 1 a 3 de dezembro, e no qual participam expoentes desta parte essencial da vida da Igreja, procedentes de todas as partes do mundo.

Para a sociedade, a educação é certamente um dever incontornável e, em muitos casos, um desafio premente. Para o cristão é também uma forma de participação na função profética que Jesus deixou à sua Igreja. Portanto, quando abordamos a educação, não podemos fazê-lo pensando em algo meramente humano, centrando a questão nos programas, na formação, nos recursos, nas áreas de acolhimento, pois a vocação cristã pede-nos para dar voz a uma Palavra que não é nossa, que nos supera, nos transcende.

Logicamente o ensino da escola católica não se limita a questões confessionais e os conteúdos estão abertos a todos os ramos do conhecimento e a quem procura esta instrução. Mas da mesma forma que dizemos que a atividade da escola não pode ser reduzida a ensinar disciplinas, mas formar pessoas na sua integralidade; ao falar da escola católica, é igualmente essencial esta componente profética, que não só confere ao homem a capacidade de adquirir conhecimento, mas também de se conhecer e de se reconhecer como ser capaz de amar e ser amado.

Com isto não estamos a falar de proselitismo e muito menos de excluir das nossas escolas aqueles que não pensam como nós. O que quero dizer é que a escola como um todo configura-se como uma lição de vida em que se integram diferentes elementos, em estreita colaboração com outras instâncias, como a família ou a sociedade. Assim, no quotidiano, no impercetível, no vivido, a identidade das nossas escolas poderá fazer-se presente e dialogar, ser uma palavra que pode, ao mesmo tempo, ser desafiadora para as pessoas de fé e construir pontes de diálogo com os não crentes.

A grande questão é: como garantir que a escola católica seja realmente aquilo que o Senhor lhe pede? Parece-me que a resposta está no próprio Jesus. Vejamos como Ele foi enviado e como envia os seus discípulos; como Ele ensinou e como Ele pede que eles ensinem. A primeira coisa que vemos é que o seu envio é um ato de amor e obediência. E assim, envia os seus discípulos como membros do seu corpo, para que, segundo a sua própria vocação, transmitam a mensagem que ele quer transmitir, onde Ele quer chegar. A nossa primeira característica, portanto, nasce da comunhão. As nossas aulas não são bonitas, as nossas escolas não são compartimentos estanques. Cada um de nós, e as nossas atividades estão em comunhão com Deus que nos envia, com a Igreja universal e local, num projeto comum que nos supera e transcende, ao serviço da humanidade. Esta lição, mesmo para quem não é cristão, trará a certeza de que não caminhamos sozinhos, porque vivemos em família, em sociedade, somos corresponsáveis, trabalhamos juntos para o bem comum, apesar das nossas diferenças.

A segunda característica com a qual podemos lidar hoje é que estamos a caminho, em movimento. Jesus caminha sempre, e exorta os seus discípulos a fazerem o mesmo, até os manda ir à sua frente. Pede-lhes para irem ao encontro, para chegarem aos confins da terra. Deste modo, a escola católica nas suas iniciativas, deve acolher os problemas sociais, local e universalmente, deve aprender e, nesta aprendizagem, ensinar a abrir a mente a novas situações e a novos conceitos, a caminhar juntos sem excluir ninguém, a estabelecer pontos de encontro e adaptar a linguagem para que sejam capazes de captar a atenção dos mais distantes. Certamente, dir-me-ão vocês, que isto é necessário para dar aos nossos alunos a melhor formação possível, mas também é necessário torná-los homens e mulheres que não se contentem apenas em acumular conhecimento, mas sim para que essa doutrina lhes permita adquirir a sabedoria de que falava São Bento, que os faz crescer e faz crescer os outros, onde quer que o Senhor os envie.

Tudo isto supõe um trabalho artesanal que não podemos realizar sem a ajuda de Deus e sem o apoio de todos, por isso pedimos a força do Espírito do Ressuscitado, aquele que dá todos os dons. Que Ele ilumine o vosso trabalho e vos conceda aquela ciência que sai das realidades humanas para alcançar o sublime conhecimento de Deus.

Fraternalmente,

Roma, São João de Latrão, 31 de agosto de 2022.

FRANCISCO

Tradução Educris a partir do original em Italiano

Image: Unsplash

Educris|05.12.2022



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