Vaticano: «O maior desafio é cimentar uma identidade», D. José Tolentino

Responsável português, pelo novo dicastério do Vaticano para a Cultura e Educação, reafirma o mundo da educação como “muito estimulante, interdisciplinar e conectado com os desafios do futuro”

O cardeal José Tolentino Mendonça considera “uma honra” a sua escolha para o Dicastério que junta Cultura e Educação e elegeu, como prioridade, “cimentar de uma identidade” que resulte do aparecimento de uma nova realidade mais do que “a junção de duas instituições”.

“Penso que o primeiro e maior desafio é cimentar uma identidade. Uma identidade não nasce apenas da mera associação das duas instituições anteriores, mas da vontade de construir uma realidade operacional nova, coesa e inspiradora”, afirmou o Prefeito do novo organismo do Vaticano na primeira entrevista concedida ao jornal digital espanhol Vida Nueva.

Nascido da reformada cúria Romana, encetada pelo Papa Francisco, o novo Dicastério vai assumir os encargos que anteriormente estavam sob alçada da Congregação para a Educação Católica e do Conselho Pontifício para a Cultura.

Depois de quase cinco anos à frente da Biblioteca e do Arquivo do Vaticano, D. José Tolentino de Mendonça deu conta do convite simples do Papa para este “novo trabalho”.

“Quem conhece o Papa Francisco sabe que ele fala com a simplicidade e os modos daquele pescador da Galileia chamado Pedro. Não faz discursos longos. Ligou-me e perguntou se eu poderia dar-lhe uma mão no trabalho. Neste modo de proceder encontra-se uma sabedoria, pois descreve as várias missões como uma colaboração na missão maior, que é a da própria Igreja”, recordou.

Recordando que a sua atual tarefa passa, uma vez mais, pelo mundo da cultura, o cardeal-poeta cita Fernando Pessoa e afirma os artistas como autênticos cartógrafos “atentos do visível” que “ensinam a escutar o mistério".

“Qualquer trabalho artístico tem um sentido espiritual. Os artistas (categoria na qual os escritores estão naturalmente incluídos), sendo cartógrafos atentos do visível, ensinam-nos a escutar o mistério, a considerar a sua potência. Num mundo secularizado, os artistas tornam-se, mesmo inconscientemente, mistagogos, professores informais ou inspirados nos caminhos interiores”, reforça.

No final da entrevista o cardeal português afirmou ter sido “um enorme privilégio trabalhar na Biblioteca e no Arquivo Apostólico”, que apelidou como “abrigo da memória”.

“Foi um enorme privilégio trabalhar em instituições como a Biblioteca e o Arquivo Apostólico, que nos aproximam de forma tão direta, intensa e objetiva da historicidade do cristianismo e da busca humana do conhecimento. Na ontologia destes lugares podemos identificar a máxima de Terêncio: ‘Nada do que é humano me e indiferente’. Um arquivista e bibliotecário é, por isso, uma espécie de embaixador do Papa, não perante um país, mas perante a humanidade”, concluiu.

Educris|02.10.2022

Imagem: Vatican MEDIA



Newsletter Educris

Receba as nossas novidades