Papa Francisco: "É preciso uma Educação de Emergência"

Na manhã deste sábado o Papa Francisco reuniu-se com os participantes do Congresso Internacional das Escolas católicas que hoje termina em Roma. O encontro, bastante informal, permitiu aos educadores católicos dialogarem com o Santo padre na Sala Paulo VI, no Vaticano.

Na ocasião o Papa alertou para os “vínculos entre os vários agentes que foi quebrado” e, por isso, “a educação tem-se vindo a tornar elitista e seletiva. Os que tem certo status social ou económico tem acesso à escola. Quem não o tem não tem acesso à educação.” O papa Francisco afirmou sentir-se “envergonhado” porque “esta é uma realidade mundial que deixa transparecer uma ‘seletividade’ humana que em vez de aproximar os povos os afasta entre ricos e pobres”.

Para Francisco o “o pacto entre a família e a escola foi quebrado. Deve-se recomeçar. Também O pacto entre a família e o estado foi quebrado a não ser que estejamos a falar de um estado com ideologias próprias. De resto foi quebrado”. Para além desta quebra do pacto entre os diversos atores da educação o Papa afirmou que “também é preciso mudar a situação dos educadores tão mal pagos hoje! Parece que o estado não tem interesse. Se houvesse a educação não estaria como está”, completou.

Educar: Arriscar e inovar constantemente

Perante os diferentes desafios que hoje são colocados à educação e que estiveram em análise neste Congresso Francisco convidou os presentes a olharem para exemplos como o de “D.Bosco que em tempos de grande agitação maçónica no norte de Itália procurou caminhos novos”. Para Francisco esta mesma urgência é sentida em muitas partes do Mundo e por isso é fundamental “uma educação de emergência” capaz de “arriscar uma educação informal porque a formal empobreceu-se fruto da herança do positivismo”. Para o Papa este “tecnicismo intelectualista com linguagem apenas da ‘testa’ empobrece o ser humano” tornando-se urgente “romper com este esquema”, afirmou para mostrar como “a experiência na arte e no desporto” são “válidas para a educação”.

Educar: Construção de três patamares

Retomando uma ideia já abraçada noutros âmbitos o Papa afirmou aos educadores que para educar as crianças, adolescentes e jovens é preciso ser mestre na “linguagem da testa, das mãos e do coração. A educação deve andar com estes três caminhos”, referiu.

Para Francisco é urgente “ensinar a pensar, ajudar a fazer bem e acompanhar o crescimento interior. É assim uma educação inclusiva porque todos tem um lugar. Inclusiva humanamente”, reforçou.

O Papa afirmou que “o pacto educativo foi quebrado pelo fenómeno da exclusão” Porque, disse, nos “tornámo-nos seletivos e deixámos os outros de lado. O mundo não vai para a frente com uma educação seletiva porque não há um pacto social que a todos incluí”. Deste modo Francisco reafirmou que o grande “desafio dos educadores é o de trilhar novos caminhos de educação informal, através da arte e dos desporto e de tantas outras formas”, e deu o exemplo de “um grande educador Brasileiro que dizia que na Escola formal se devia evitar um ensinamento de conceitos. A verdadeira escola deve ensinar conceitos, atitudes e valores. Quando uma escola não é capaz de fazer isto em conjunto esta escola é seletiva e exclusiva e para poucos.”

Escola Católica: Educar de Portas Abertas

Francisco afirmou que “a situação de um pacto educativo quebrado como o de hoje é grave por transposta consigo a ideia de selecionar super-homens com o critério da testa. Isto sempre acontece com o fantasma dos salários injustos que apagam a verdadeira humanidade. Uma certa e sã informalidade respeitosa ajuda à educação. Porque confunde-se formalidade com rigidez”.

Neste ponto o Papa voltou à primeira ideia e lembrou “que ser rígido não é humano e se não é humano não pode entrar Cristo. As portas estão fechadas! O drama das portas fechadas começa na rigidez. As pessoas, todos nós, as famílias, necessitam de convivência, de diálogo mas quando o pacto está quebrado e existe rigidez não há diálogo. Eu penso na minha e tu na tua e assim não há fraternidade.”

Mostrando a experiencia pessoal de tantos estudantes que habitam a cidade de Roma Francisco afirmou que tem visto, entre estes jovens, “ o sonho da Unidade” e alertou que “o que hoje estamos a oferecer é no plano da separação e da seletividade e não da comunhão. Um educador que não saiba arriscar não serve para educar! Um pai e mãe que não sabem arriscar não educam bem o filho! Arriscar racionalmente. Um passo à frente e outro bem seguro como quando educas uma criança a andar. O verdadeiro educador deve ser o mestre do risco, mas risco racional”, afirmou.

Escola Católica: Uma escola aberta aos pobres

Quando questionado sobre o papel das escolas católicas com as novas formas de pobreza e com o papel da educação católica no diminuir das assimetrias Francisco deu o exemplo do tempo em que estava na Universidade e a “secretária da faculdade de teologia ia, todos os dias, para as periferias fazendo o trabalho de uma escola para os pobres! A Secretaria!”.

O Papa lembrou a necessidade de “andarmos na periferia” porque aí “está o rasgo dos fundadores de tantas congregações e fundações! Eles andaram no caminho com os pobres!”. Francisco pediu a todos os educadores católicos que “nunca se esqueçam das periferias da estrada”. Perante uma ideia que pode parecer oposta e que afirma que se deve formar dirigentes o Francisco afirmou: “Isto é verdade. Devemos! Mas quando andei no Paraguai, numa escola das periferias realizei um encontro com os jovens pobres, sem o essencial, e eles, falaram-me sobre alguns temas mais fortes. Na altura falaram dos debates sobre a gravidez na adolescência. Eu pensei: Como é que estes jovens com tão pouco para comer e com tantas dificuldades conseguem pensar tão bem e tão claramente. A resposta está no facto de terem tido um método e um educador que lhes deu as mãos. Nenhum pode ser excluído da educação.”

Por isso o Papa deixou o primeiro grande desafio para as escolas católicas: “Saiam para as periferias. Aproximai-vos dos pobres porque eles tem algo a experiencia da sobrevivência, da crueldade, da fome e da injustiça. Tem uma humanidade ferida! Dar de comer é provisório. É o primeiro passo. O desafio é andar pelas periferias para os fazer crescer em humanidade, em inteligência, em hábitos, em valores para que possam dar a volta e trazer aos outros experiências que não conhecem”. 

Francisco afirmou que é essencial "reeducar tantas civilizações, devemos reeducar a Europa. Lembro-me de um diretor de um colégio Jesuita que afimava 'quando custa reeducar' a mentalidade".  

No final da sua intervenção convidou, em “jeito de trabalho de casa”, os participantes a “repensarem as obras de misericórdia em contexto de educação” deixando a questão: “Como posso eu, em educação, realizar as obras da misericórdia, as obras do amor”.

Portugal presente no Congresso Internacional

A Comissão Episcopal da Educação e Doutrina da Fé está representada por D. António Moiteiro, bispo de Aveiro, e D. António Francisco dos Santos, bispo do Porto. Também o orgão executivo, o SNEC, se faz representar pelo professor Fernando Moita, coordenador Departamento do Ensino Religioso Escolar (DERE) e Elisa Urbano, coordenadora do setor das Escolas Católicas no SNEC.

A representar a Associação Portuguesa das Escolas Católicas estão presentes o padre Querubim Silva, Jorge Cotovio, o padre José Fernandes, o padre Carlos Silva e Isabel Pestana.



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