Roma: "Os Desafios da Escola Católica"

No final do primeiro dia do Congresso Internacional das Escolas Católicas, que decorre em Roma até ao próximo dia 21 de novembro, os participantes escutaram a conferência de Italo Fiorin, diretor da Escola de Alta formação “Educar para o encontro e para a solidariedade” (LUMSA) que trouxe à reflexão o tema “Novos cenários da educação, das respostas ao Instrumentum Laboris”.

No início da sua intervenção Italo Fiorin começou por recordar os desafios que hoje se colocam à educação católica em níveis diferentes: “ identidade, educação integral, formação, subúrbios, pobres e novas formas de pobreza e a sustentabilidade da proposta”.

Tomando como ponto de partida o questionário que havia sido enviado para todo o mundo e do qual resultaram “respostas de 63 países” com mais de “11.600 entradas e 222.700 palavras-chave” o diretor da LUMSA começou por apontar os diferentes desafios que hoje se levantam à Escola Católica:

Uma sociedade em Mudança

“Nos diferentes desafios apontados destaca-se a questão da sociedade que está em mudança”. O professor afirmou que “os grandes desafios prendem-se com “ uma sociedade multicultural em profunda mudança” que tende a dificultar a tarefa de “fazer um modelo sustentável de educação integral da juventude, preservando a identidade institucional da comunidade educativa na evangelização”.

Italo Fiorin apontou, em seguida o “desafio da identidade” como movimento de resposta a esta diversidade: “o tempo muda o contexto cultural e social, novas questões a enfrentar, e para enfrentá-los não é suficiente a referência ao passado, mas é urgente mobilizar-se para enfrentar os novos desafios”. Torna-se urgente “reflexionar criticamente a identidade e promover um compromisso atual dessa mesma identidade” que é chamada a ser “fonte para todo o projeto educativo”.

O responsável da LUMSA recordou que, em muitos países, “as instituições educativas católicas ainda desempenham um papel de substituição do Estado” e noutros podem correr o risco “de se considerarem concorrentes desse mesmo estado”. Tal entendimento é, na opinião deste diretor “maior quando o foco está exclusivamente marcado pelos parâmetros utilizados para desenhar gráficos e comparações entre as escolas num sistema público ou privado, ou para colocar uma universidade em altas posições no ranking de referência”. Deste modo é urgente que as Escolas Católicas entendam que “a qualidade académica e a preocupação com a mensagem central cristã deve ser apresentada em conjunto” pois não é mais possível “situar a preocupação com a qualidade dos serviços de ensino negligenciando a tarefa da evangelização”.

O desafio da educação integral

Num segundo desafio Italo Fiorin apontou o da “educação Integral” e lembrou que o cenário atual mostra “sociedade fragmentada, individualista, árida” que necessita de uma maior “preocupação com a formação integral da pessoa. A experiência de aprendizagem deve ser caracterizada pela riqueza de oportunidades disponíveis para os jovens a crescer e desenvolver as suas habilidades e talentos”. Deste modo é fundamental cuidar de uma educação onde estejam “cuidadosamente equilibrados as dimensões “cognitiva, emocional, social, profissional, ética e espiritual” que propicie “cada aluno a desenvolver os seus talentos numa atmosfera de cooperação e solidariedade”.

 

O desafio de hoje: Educar ou formar?

O diretor da afirmou que o que deve, hoje, distinguir as escolas católicas das restantes é o modo como estas se “preocupam com uma formação de qualidade mas também com as questões da educação para o serviço, para o bem comum”. Deste modo, referiu, “contrariam um mundo dominado por uma cultura materialista e utilitarista”. Para que tal seja possível apontou o “recrutamento dos docentes” como fundamental.

O papel dos leigos foi também apontado como “muito positivo” neste processo em que “muitas instituições católicas estão a adotar líderes leigos nas suas direções”. Italo Fiorin afirmou que “é importante um projeto onde, explicitamente se faça referencia ao Evangelho e aos ensinamentos da Igreja” mas é “fundamental percecionar que é o professor o principal responsável pela implementação deste projeto”.

As Periferias: dos contextos políticos adversos às alianças educacionais

Olhando, em seguida, para as situações em que estão colocadas muitas Escolas católicas o diretor da LUMSA lembrou que existem situações onde “existem sistemas de ajudas públicas para a educação católica altamente desenvolvidos” e outros onde “não existe tal possibilidade” apontando e denunciando “o atual desinteresse como alguns governos africanos olham para a educação e escolarização das suas populações” que se traduz “em dificuldade na relação entre a Igreja e o Estado”.

Neste sentido afirmou a necessidade do discernimento perante “os pobres e os novos pobres”, seguindo “as diretivas do pensamento social cristão”, de modo a que “as escolas e universidade católicas possam estar mais presentes nestas realidades”.

“Mas não é só isto: existem outras formas de pobreza que devem ser consideradas, indo além da preocupação relacionada com as diferenças de rendimento. De particular interesse é o empobrecimento da dimensão humana, a qualidade também da existência espiritual, num contexto de secularização e a privatização da fé. Há necessidades de vária ordem que culminam na necessidade humana do sentido para a vida”, apontou.

Ausência do estudo do Religioso: Empobrecimento cultural e desafios

Perante a existência de estados que “são relutantes ao financiamento da dimensão religiosa enquanto chave de leitura cultural” Italo Fiorin recordou que tal comportamento traz consigo “um empobrecimento para as escolas públicas” e um desafio para as escolas católicas sob duas perspetivas distintas:

“Em primeiro lugar trata-se de “contrariar o risco de um conformismo que leva a adotar acriticamente o currículo sem vigilância”. Num segundo patamar situa-se “a invasão do Estado que, em alguns países, enquanto concedendo à Igreja o direito de promover as suas próprias instituições de ensino” procura “impor os seus programas e estabelecer restrições que limitam a liberdade cultural e pró-ativa.”

Portugal presente no Congresso Internacional

A Comissão Episcopal da Educação e Doutrina da Fé está representada por D. António Moiteiro, bispo de Aveiro, e D. António Francisco dos Santos, bispo do Porto. Também o orgão executivo, o SNEC, se faz representar pelo professor Fernando Moita, coordenador Departamento do Ensino Religioso Escolar (DERE) e Elisa Urbano, coordenadora do setor das Escolas Católicas no SNEC.

A representar a Associação Portuguesa das Escolas Católicas estão presentes o padre Querubim Silva, Jorge Cotovio, o padre José Fernandes, o padre Carlos Silva e Isabel Pestana.

Educris com Educatio.va



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