Bragança: A educação da sexualidade nas escolas

A educação sexual nas escolas é importante, não só para os alunos, como para toda comunidade educativa e a sociedade. Isto porque, o “comportamento sexual e a experiência sexual hoje parece muito afectada pelas variáveis da cultura e, se calhar, afectada no sentido negativo e empobrecedor da pessoa”, referiu Cristina Sá Carvalho. A psicóloga e professora da Faculdade de Teologia de Lisboa, esteve em Bragança, na Escola Secundária Emídio Garcia, no âmbito de uma iniciativa promovida pelo Secretariado Diocesano da Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC) e pela referida Escola, destinada a professores e outros educadores, subordinada ao tema “Estratégias de Educação e Sexualidade”.

A educação sexual, no contexto actual, é cada vez mais importante, sobretudo por causa das fontes às quais os jovens vão buscar muita da informação, ou seja aos meios de comunicação social, sobretudo à televisão e à internet. Na televisão, séries juvenis muito populares, tendem a mostrar o sexo como um instrumento de poder e sucesso, e, na sociedade actual, só tido em consideração, “respeitado”, o individuo bem sucedido, aquele que apresenta méritos.  “A questão do sucesso é uma questão existencial e moral muito forte na nossa cultura e também está muito marcada por aquilo que a comunicação social transmite do sucesso como uma forma de poder”. Assim, também o sucesso a nível amoroso, o número de conquistas é valorizado pelos jovens, porque também é valorizado pela sociedade. “Só que, depois, as pessoas descobrem, de uma forma muito trágica, que os sucessos, mesmo o do dinheiro, do poder e do sexo não são sinónimos de felicidade e, às vezes, já é tarde demais”, referiu Cristina Carvalho.

Contudo, uma das fontes que podem trazer mais perturbação é a Internet, onde é fácil aos jovens entrarem em contacto com a pornografia, que é sexo aliado à violência.  “A grande fonte de informação sobre sexualidade que os adolescentes têm hoje é a Internet. A Internet o encontram é a pornografia e aquilo que eles estão a aprender sobre a sexualidade é violência, à partida, como se fosse normal ser violento”.

Um dado perturbador foi revelado por inquérito a adolescentes que, em número preocupante (cerca de 40 por cento), não só admitiam que tinham sido alvo de violência dos namorados, como consideravam essa violência normal. “O dado mais angustiante da questão é que eles acham que é normal, não têm espírito crítico relativamente a isso”. É perturbador, sobretudo, para uma geração de jovens do pós 25 de Abril, à qual, desde cedo, foi incutida a ideia da igualdade entre os sexos, bem como do repúdio pela violência física ou emocional entre casais.

Neste contexto, a escola é importante, até porque as famílias actuais têm muitas dificuldades. A grande maioria das mulheres têm, obrigatoriamente, de ter um emprego para ajudar a sustentar o agregado familiar, e os homens, em alguns casos, fazem alguns trabalhos domésticos que não deixam de constituir apenas “uma ajuda” e não uma responsabilidade; responsabilidade esta que as mulheres, desdobradas entre dois empregos a tempo inteiro, em casa e fora de casa, continuam a assumir. Isto deixa-lhes pouco tempo para a educação dos filhos, também eles cada vez mais atarefados, numa vida difícil e muito competitiva.

Deste modo, a escola “tem que ensinar as pessoas a serem mais pessoas e o projecto que estou aqui a discutir, a visão do projectos sobre a sexualidade na escola, é muito vocacionado na educação para o amor”.

Se os jovens e crianças, precisamente na altura em que estão a estruturar a sua personalidade, forem educadas para o amor e o respeito, ao outro, mas também a si próprios, dificilmente irão compactuar com situações de violência, ou usar o seu corpo como instrumento de poder e sucesso.

Cristina Sá Carvalho sublinhou que outra das ideias fundamentais que procurou transmitir foi que a educação da sexualidade deve ser feita em cada escola, “à maneira de cada escola”, partindo do contexto onde está integrada, dos seus professores e alunos, de tudo aquilo que a constitui.

A psicóloga não deixou de sublinhar que o papel da escola é, fundamentalmente, o ensino, a informação dos alunos em matérias como a matemática ou o português. Contudo, numa escola onde isso é bem feito, é também uma escola onde a educação para os valores e a educação sexual também se faz, de forma positiva.

“A escola tem essencialmente metas de informação, de instrução, de ensinar, e deve continuar a ensinar, mas um projecto de educação da sexualidade deve, não só respeitar essas necessidades, e o projecto educativo da escola, como colaborar com o projecto e com as metas de formação, de instrução, que a escola já tem”, disse.

Nesta iniciativa esteve também presente Dimas Pedrinho, director do Secretariado Nacional de EMRC que referiu que esta é uma problemática há muito discutida na disciplina, sem “engasgos”, numa perspectiva própria da Igreja Católica, mas, sobretudo, “numa perspectiva humana”.

Isto, em contraponto aos “higienistas”, que apresentam as questões da sexualidade como questões de saúde pública, cujo resultado são sempre encargos para o erário púbico. Essa é a única preocupação sobre um assunto que é muito mais complexo e, além de repercussões económicas, é importante para os indivíduos e a sociedade.

Texto: Ana Preto, Mensageiro de Bragança

Foto: Helder Pires



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