Jubileu dos Catequistas: quatro testemunhos. Quatro experiências de Cristo

Na tarde deste sábado, 24 de setembro, a Basílica de São Paulo Fora de Muros, em Roma, recebeu cerca de 4000 catequistas de todo o mundo para escutar o testemunho emocionado e enraizado em Cristo de quatro cristãos, de distintas latitudes, e do seu percurso catequético.

Moçambique: De Rugo a Francisco até ser “apenas” catequista

Francisco Nhassope nasceu em Inhambane, Moçambique com o nome de Rugo. Corriam os anos da guerra e Rugo só haveria de ser batizado aos 9 anos, em 1959:

“Recebo o nome de Francisco que mantive até 1980 altura em que comecei a ser chamado de ‘o catequista’”.

A história de Francisco, ou melhor, do catequista haveria de emocionar a sala ao ponto de mais tarde, Monsenhor Rino Fisichella afirmar que também ele deseja o mesmo que Francisco: “ser apenas o catequista”. O Catequista moçambicano viu o centro catequético ser arrasado por homens armados:

“Naquele dia 22 de março de 1987 mataram o primeiro de 24 catequistas mártires de Guiua. Eu fui aprisionado e levado, juntamente com a minha família. A caminhada pelo mato foi dura e só ao final de três dias chegámos ao campo da Renamo. Chorava em silêncio por causa dos meus filhos, um ainda bebé de leite. O cansaço, os mais tratos, a falta de alimentação fizeram o resto”, afirmou aos catequistas.

Olhando para trás reconhece que “Deus esteve sempre lá, mesmo nos momentos em que pensei desistir de tudo, até de ser catequista porque ser catequista é isto mesmo: dizer sim, sempre, nos momentos mais favoráveis e nos momentos difíceis.”

No final do seu testemunho Francisco, ou apenas o catequista, sintetizou o porquê do seu agir durante aquele autêntico exilio: “Deus deu-me um dom. Um dom gratuito. O de ser catequista e levar a sua palavra e o seu amor a todos os meus irmãos, mesmo aos que nos fazem mal”.

França: De uma sequência de Pentecostes ao batismo e ao serviço junto dos mais pobres.

O segundo testemunho do final da tarde foi trazido por Frédérique Fauvel. Esta francesa de 31 anos partilhou o modo como “o batismo me deu um lugar na Igreja”.

Criada na cidade de Paris numa “família sem grande prática religiosa mas ainda com os valores cristãos enraizados” Frédérique Fauvel confessou aos catequistas que “desde pequename questionava sobre o facto de não ser batizada e de ter grande curiosidade pelas questões religiosas”.

O tempo foi passando e, um dia “fui convidada para um batismo de um filho de uma amiga. Como faltava alguém para ler a Sequência o painda criança pediu-me para ler. Senti-me tocada pela graça”.

No seu percurso lamenta “que a informação digital sobre como fazer catecumenato tenha sido tão escassa e primitiva” e destacou “a vida comunitária, a Lectio Divina e o orientador espiritual como fundamentos de uma adesão adulta a Cristo”.

O batismo e a orientadora ajudaram-na “a discernir o que fazer a seguir” e decidiu colocar-se ao serviço dos mais frágeis “na associação «Aos cativos a libertação»”.

Catequese: Lugar para integrar todas as diferenças

O padre Cyril Axelroad é um sacerdote redentorista, surdo-cego. Sim, leu bem. Surdo-cego, o único no mundo, aliás! Nascido no seio de uma família judaica converteu-se ao catolicismo e resolveu, ainda antes de perder a visão, ser padre missionário:

“A minha deficiência desafia-me e dá-me a oportunidade de passar uma mensagem de esperança e de amor de Deus a todos os que experimentam o sofrimento ou a deficiência. Ela dá.me a oportunidade de perceber a grandeza da misericórdia e do amor de Deus pelos deficientes”.

Confessando que “dentro da Igreja ainda existe muito trabalho a fazer para a plena integração das pessoas com deficiência” o sacerdote lamenta o modo como, em alguns casos na Igreja, se nega o acesso aos sacramentos porque se acredita que só quem percebe a doutrina e a aprende os pode receber”.

“No entanto é para estas pessoas portadoras de deficiência que ganham mais significado as palavras de Jesus quando louva os pais por esconder os mistérios da fé aos grandes e os revelar aos pequeninos”.

A sua deficiência “não me impediu de anunciar Jesus em nenhuma parte do mundo”, sintetizou.

Catequese: lugar de crescimento em família

Enrique Sarria é professor de Religião e pai de três filhos. Com a sua mulher, em família, é catequista de crianças que se preparam para a primeira comunhão.

“No meu bairro não sou o melhor nem nos sentimos chamados pelo Senhor por termos já chegado à santidade. Fomos chamados porque somos pecadores”.

Originário do Peru o catequista destacou três gestos importantes “que tornam o nosso caminho dinâmico sob o olhar de Deus”:

“Em primeiro lugar a misericórdia de Deus. O pecado é, para nós, lugar privilegiado do agir de Deus”. Em segundo lugar “o serviço comunitário que se exprime na consciência do lugar de cada um na Igreja e nas múltiplas manifestações que se exprimem na obediência”.

“O silêncio e a contemplação” surgem como o terceiro gesto:

“Este silencio e contemplação, mas não são do que a capacidade de acolher o que é diferente sem juízos soberbos ou palavras inúteis. Conscientes de que amando o Senhor coloca sobre nós o seu olhar e torna-nos como que lápis onde escreve a história”.

No final dos testemunhos, muito aplaudidos pelos catequistas seguiu-se a oração das Vésperas.



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