Moçambique: «A Igreja é a única a ajudar as populações», denuncia Paulo Rangel

Eurodeputado português chama a atenção da comunidade europeia para o drama que se vive em Cabo Delgado, Moçambique

Horas antes de o Parlamento Europeu votar uma resolução sobre Cabo Delgado, Paulo Rangel, vice-presidente do Partido Popular Europeu (PPE), destacou o papel essencial da Igreja Católica, nomeadamente do Bispo de Pemba, D. Luiz Lisboa, no trabalho humanitário que está a ser desenvolvido junto das populações vítimas dos ataques terroristas que têm vindo a assolar a região norte de Moçambique.

“A Igreja Católica, nomeadamente o Bispo de Pemba, será com certeza, um dos grandes interlocutores para canalizar o apoio [que vier a ser aprovado pela União Europeia] porque é, na verdade, a única entidade no terreno que tem estado activamente a tentar, já não digo resolver, mas ao menos aliviar o sofrimento por que estas populações estão a passar e que é realmente atroz", afirmou em declarações à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).

O eurodeputado refere que o objectivo principal da aprovação desta resolução “é tentar encontrar apoio financeiro, logístico e em recursos humanos para lidar com a situação humanitária e para travar a onda de ataques”.

Face ao desconhecimento por parte “da maioria dos decisores” políticos sobre o que se está a passar na região norte de Moçambique, assolada por uma onda de ataques terroristas, o vice-presidente do PPE considera que “o simples facto de haver uma resolução vai ter um efeito positivo” na abordagem da Europa face a este problema.

Paulo Rangel explicou que está em cima da mesa a discussão sobre um “drama humanitário muito grave”, que reflete uma “dinâmica internacional regional”, pois há outros países que estão a lidar também, “embora de forma talvez menos grave”, com “esta insurgência”.

Essa “dinâmica regional” refere-se, acrescenta Rangel, “ao Sahel e ao próprio Corno de África”, regiões onde “os jihadistas têm aumentado imenso” e onde se têm verificado “ataques deste género”, havendo “claramente uma ligação entre esses dois fortes surtos e aquele que está [a acontecer] em Cabo Delgado”.

Paulo Rangel, que tem assumido um papel charneira na divulgação da questão Cab Delgado afirma querer dar visibilidade a uma questão que considera "complexa" e que merece ser abordada a partir das suas vertentes "religiosa, política e militar e que não pode deixar de ser também considerada.”

Os sucessivos ataques reivindicados pelo Daesh, ao auto-proclamado estado islâmico, já terão provocado mais de mil mortose 250 mil deslocados forçados a abandonar a região.

Para Paulo Rangel, importa colocar Moçambique como uma questão prioritária ao nível de decisão política da União Europeia. A resolução de hoje do Parlamento Europeu vai nesse sentido. “Há uma grande invisibilidade e opacidade quanto a este drama, reconhece o vice-presidente do PPE. “Moçambique não tem visibilidade nenhuma [a nível internacional]. É como se não existisse. Portanto, isto é, desde logo, um primeiro passo.”

Um primeiro passo para que a própria iniciativa da União Europeia possa “ter algum resultado concreto para as populações”. Esse trabalho terá de ser realizado, explica Rangel, pelo Serviço de Acção Externa da União Europeia, “no fundo, o nosso serviço diplomático”, que deverá “iniciar um diálogo com as autoridades moçambicanas porque elas são indispensáveis para a resolução do conflito”.

Educris|21.09.2020



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