Audiência-geral: Jesus introduz «a força do perdão» no comportamento humano

Francisco retomou hoje as catequeses sobre a oração do Pai-Nosso. Na audiência geral das quartas-feiras o pontífice lembrou que só “quem perdoa pode ser perdoado” e sustentou que nem sempre as situações se resolvem “com a justiça,” mas “com o perdão”.

Leia, na íntegra, a catequese do Papa Francisco

Catequese sobre o "Pai Nosso": 13. Como nós perdoamos a quem nos ofende

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Concluímos hoje as catequeses sobre a quinta petição do "Pai Nosso", insistindo na expressão «como também nós perdoamos a quem nos tem ofendido» (Mt 6, 12). Vimos que é próprio do homem ser devedor diante de Deus: Dele recebemos tudo, em natureza e graça. A nossa vida não só foi desejada, mas amada por Deus. Não há espaço para a presunção quando unimos as mãos para orar. Não existem “self made man” na Igreja, homens que se fizeram sozinhos. Todos somos gratos a Deus e a muitas pessoas que nos deram condições de vida favoráveis. A nossa identidade é construída a partir do bem recebido. O primeiro é a vida.

Aqueles que rezam aprendem a dizer "obrigado". E muitas vezes esquecemo-nos de dizer "obrigado", somos egoístas. Aqueles que oram aprendem a dizer "obrigado" e pedem a Deus que seja benevolente para com ele ou com ela. Por mais que nos esforcemos, há sempre uma dívida intransponível diante de Deus, a qual nunca seremos capazes de retribuir: ele ama-nos infinitamente mais do que O amamos. Então, por mais que nos comprometamos a viver de acordo com os ensinamentos cristãos, nas nossas vidas haverá sempre algo pelo qual pedir perdão: pensemos nos dias passados preguiçosamente, nos momentos em que o rancor ocupou o nosso coração e aí por diante. São estas experiências, infelizmente não raras, que nos fazem implorar: "Senhor, Pai, perdoa-nos as nossas ofensas". Assim, pedimos perdão a Deus.

Para refletir bem sobre isto, a invocação poderia limitar-se a esta primeira parte; seria linda na mesma. Ao invés Jesus liga-a a uma segunda expressão que forma unidade com a primeira. A relação de benevolência vertical da parte de Deus é retratada e chamada a traduzir-se num novo relacionamento que vivemos com os nossos irmãos: um relacionamento horizontal. O bom Deus convida-nos a sermos todos bons. As duas partes da invocação estão ligadas a uma conjunção impiedosa: pedimos ao Senhor que perdoe as nossas ofensas, os nossos pecados, "como" perdoamos os nossos amigos, as pessoas que vivem connosco, os nossos vizinhos, as pessoas que nos fizeram algo de não tão bom, de tão belo.

O cristão sabe que para ele existe o perdão dos pecados, todos nós sabemos isto: Deus perdoa tudo e perdoa sempre. Quando Jesus mostra aos seus discípulos a face de Deus, ele descreve-a com expressões de terna misericórdia. Ele diz que há mais alegria no céu para um pecador que se arrepende, do que para uma multidão de pessoas justas que não precisam de conversão (ver Lc 15,7.10). Nada nos Evangelhos sugere que Deus não perdoa os pecados daqueles que estão bem-dispostos e pedem para ser reabraçados.

 

Mas a graça abundante de Deus é sempre desafiadora. Aqueles que receberam tanto devem aprender a dar tanto e não reter apenas o que receberam. Aqueles que receberam tanto devem aprender a dar tanto. Não é coincidência que o Evangelho de Mateus, imediatamente depois do texto do "Pai Nosso", entre as sete expressões usadas, se retenha a enfatizar precisamente o do perdão fraterno: «Se de facto perdoas aos outros as suas falhas, o teu Pai que está no céu também te perdoará; mas, se não perdoardes aos outros, o teu Pai não perdoará as vossas culpas» (Mt 6,14-15). Isto é forte! Eu penso: às vezes eu ouço as pessoas dizerem: "Eu nunca vou perdoar esta pessoa! Eu nunca vou perdoar o que eles fizeram comigo!” Mas se tu não perdoas, Deus não te perdoará. Tu fechas a porta. Pensemos nós se somos ou não capazes de perdoar. Um padre, quando eu estava noutra diocese, disse-me angustiado que tinha ido dar os últimos sacramentos a uma idosa que estava prestes a morrer. A pobre senhora não podia falar. E o padre disse-lhe: "Senhora, você se arrependes-te dos pecados?" A senhora disse sim; ela não podia confessá-los, mas disse-lhe que sim. É suficiente. E perguntou-lhe ainda: Perdoas também aos outros?" E a senhora, no seu leito de morte, disse: "Não". O padre permaneceu angustiado. Se tu não perdoas, Deus não te perdoará. Pensemos nós, nós que estamos aqui, se perdoamos ou somos capazes de perdoar. "Padre, eu não posso fazer isto, porque estas pessoas fizeram-me tanto mal". Mas se tu não conseguires, pede ao Senhor para te dar força de modo a que possas fazê-lo: Senhor, ajuda-me a perdoar. Aqui encontramos o vínculo entre o amor a Deus e o amor ao próximo. O amor chama amor, o perdão chama perdão. Novamente em Mateus, encontramos uma parábola muito intensa dedicada ao perdão fraterno (ver 18,21-35). Escutemo-la.

Havia um servo que tinha uma dívida enorme para com o seu rei: dez mil talentos! Uma quantia impossível de pagar; Eu não sei o quanto seria hoje, mas talvez centenas de milhões. Mas o milagre acontece, e esse servo não recebe uma concessão para a extensão de pagamento, mas toda a amnistia. Uma graça inesperada! Mas então, esse mesmo criado, imediatamente após receber esta graça, apresenta-se irado contra o irmão que lhe deve cem denários – pequena quantia - e, embora seja uma divida acessível, não aceita as desculpas ou as súplicas. Por isso, no final, o mestre chama-o de volta e condena-o. Porque se te esforças por perdoar, não serás perdoado; se não te esforças para amar, não serás amado.

Jesus introduz no comportamento humano a força do perdão. Na vida, nem tudo é resolvido com justiça. Não. Especialmente onde devemos colocar uma barreira ao mal, alguém deve amar além do necessário, para começar uma história de graça novamente. O mal conhece a sua vingança e, se não for interrompido, corre o risco de se espalhar e sufocar o mundo inteiro.

À lei de talião - o que me fizeste, eu te devolvo, Jesus responde em substituição com a lei do amor: o que Deus me fez, eu te devolvo a ti! Pensemos hoje, nesta belíssima semana da Páscoa, se posso perdoar. E se não me sinto capaz, tenho de pedir ao Senhor que me dê a graça de perdoar, porque saber perdoar é uma graça.

Deus dá a cada cristão a graça de escrever uma história de bem na vida dos seus irmãos, especialmente daqueles que fizeram algo desagradável e errado. Com uma palavra, um abraço, um sorriso, podemos transmitir aos outros o que recebemos de mais precioso. Qual é a coisa preciosa que recebemos? O perdão, que devemos ser capazes de dar aos outros.

Tradução Educris a partir do original em italiano

Educris|24.04.2019

 

 



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