Audiência-geral: «O 'Pai Nosso' é a oração dos livres»

Na manhã desta quarta-feira o Papa Francisco retomou as suas catequeses semanais sobre a oração do 'Pai-Nosso' para explicar que a oração é uma "oração corajosa e combativa" que desafia o crente a não "baixar a cabeça" perante as dificuldades mas a "ergue-la na certeza de que Deus está dentro de nós" e nos acompanha.

Leia, na íntegra, a alocução do Santo Padre

Catequese sobre o "Pai Nosso": 10. Seja feita a tua vontade

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Continuando com as nossas catequeses sobre o "Pai Nosso", hoje detemo-nos na terceira invocação: «Seja feita a tua vontade». Esta deve ser lida em unidade com as primeiras duas - «Seja santificado o teu nome» e «Venha a nós o Teu Reino» - de modo que o todo forme um tríptico: «santificado seja o teu nome», «venha o teu reino», «seja feita a tua vontade». Hoje vamos falar sobre a terceira.

Antes do cuidado do mundo pelo homem, há o cuidado incansável que Deus usa para com o homem e o mundo. O Evangelho todo reflete esta inversão de perspetiva. O pecador Zaqueu sobe a uma árvore porque quer ver Jesus, mas não sabe que, muito antes, Deus procurava-o. Jesus, quando ele chega, diz-lhe: «Zaqueu, desce depressa, porque hoje eu quero ficar em tua casa». E no final declara: «O Filho do homem veio para procurar e salvar o que estava perdido» (Lc 19, 10.10). Aqui está a vontade de Deus, aquela pela qual oramos para que se faça. Qual é a vontade de Deus encarnada em Jesus? Procurar e salvar o que está perdido. E nós, em oração, pedimos que a busca por Deus seja bem-sucedida, que o seu plano universal de salvação seja cumprido, primeiro, em cada um de nós e depois no mundo inteiro. Haveis já pensado sobre a significação de Deus que me procura? Cada um de nós pode dizer: "Mas Deus procura-me?” – “Sim! Procura-te! Procura-me": procura cada um, pessoalmente. Mas como é grande Deus! Quanto amor está por de trás de tudo isto.

Deus não é ambíguo, não se esconde atrás de enigmas, não planeou o futuro do mundo de maneira indecifrável. Não, Ele é claro. Se não entendermos isto, corremos o risco de não entender o significado da terceira expressão do "Pai Nosso". De facto, a Bíblia está cheia de expressões que nos falam da vontade positiva de Deus para com o mundo. E no Catecismo da Igreja Católica encontramos uma coleção de citações que atestam essa vontade divina fiel e paciente (v, nº 2821-2827). E São Paulo, na Primeira Carta a Timóteo, escreve: «Deus quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade» (2,4). Esta é, sem dúvida, a vontade de Deus: a salvação do homem, dos homens, de cada um de nós. Deus com o seu amor bate à porta dos nossos corações. Por quê? Para nos atrair; para nos atrair para Ele e nos levar adiante no caminho da salvação. Deus está perto de cada um de nós com o seu amor, para nos levar pela mão para a salvação. Quanto amor está por trás disto!

Então, rezando "seja feita a tua vontade", não somos convidados a dobrar a cabeça servilmente, como se fôssemos escravos. Não! Deus quer que sejamos livres; é o amor d’Aquele que nos liberta. De facto, o "Pai Nosso" é a oração das crianças, não dos escravos; mas de crianças que conhecem o coração do seu pai e estão certas do seu desígnio de amor. Aí de nós se, pronunciando estas palavras, encolhermos os ombros em rendição diante de um destino que nos repele e que não podemos mudar. Pelo contrário, é uma oração cheia de confiança ardente em Deus que deseja o bem para nós, a vida, a salvação. Uma oração corajosa, até mesmo combativa, porque no mundo existem tantas realidades que não estão de acordo com o plano de Deus. Todos as conhecemos. Parafraseando o profeta Isaías, poderíamos dizer: "Aqui, pai, há guerra, abuso de poder, exploração; mas sabemos que Tu queres o nosso bem, por isso te suplicamos: Seja feita a tua vontade! Senhor, derruba os planos do mundo, transforma as espadas em arados e as lanças em foices; que ninguém pratique mais na arte da guerra!” (ver. 2, 4). Deus quer a paz.

O "Pai Nosso" é uma oração que acende em nós o mesmo amor de Jesus pela vontade do Pai, uma chama que nos impulsiona a transformar o mundo com amor. O cristão não acredita num "destino" inelutável. Não há nada aleatório na fé dos cristãos: existe uma salvação que espera manifestar-se na vida de todo o homem e mulher é cumprida na eternidade. Se oramos, é porque acreditamos que Deus pode e quer transformar a realidade superando o mal com o bem. A este Deus faz sentido obedecer e abandonar-se a si mesmo na hora da provação mais difícil.

Este foi o caso de Jesus no Jardim do Getsémani, quando experimentou angústia e orou: «Pai, se quiseres, afasta de mim este cálice! No entanto não se faça a minha vontade mas a tua» (Lc 22,42). Jesus é esmagado pelo mal do mundo, mas abandona-se com confiança ao oceano do amor da vontade do Pai. Mesmo os mártires, no seu julgamento, não procuraram a morte, eles buscaram na morte, a ressurreição. Deus, por amor, pode levar-nos a percorrer caminhos difíceis, a experimentar dolorosas feridas e espinhos, mas nunca nos abandonará. Ele estará sempre connosco, ao nosso lado, dentro de nós. Para um crente isto, ao invés de uma esperança, é uma certeza. Deus está comigo. Isso mesmo encontramos nesta parábola do Evangelho de Lucas dedicado à necessidade de rezar sempre. Jesus diz: «Não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele dia e noite? Será a espera longa? Eu vos digo que ele lhes fará justiça prontamente» (18,7-8). É assim que o Senhor nos ama, assi nos quer bem. Mas eu quero convidar-vos a eu todos juntos rezemos agora o Pai Nosso. E aqueles de vós que não conhecem em italiano, rezem-no na vossa própria língua. Vamos orar juntos.

Educris|19.03.2019

Tradução a partir do original em italiano



Newsletter Educris

Receba as nossas novidades