Ângelus: «Jesus está sempre pronto a levantar-nos, discretamente», afirma o Papa

Antes da recitação da oração mariana do Ângelus deste II Domingo do Tempo Comum, o Papa Francisco comentou, na praça de São Pedro, o evangelho que narra o milagres das bodas de Caná.

Leia, na íntegra Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

O Evangelho da liturgia de hoje narra o episódio das bodas de Caná, na qual Jesus transforma a água em vinho para a alegria dos esposos. E conclui assim: «Foi este o princípio dos sinais que Jesus realizou em Caná da Galileia; manifestou a sua glória e os seus discípulos acreditaram nele»[1] (Jo 2,11). Notamos que o evangelista João não fala de milagre, o mesmo é dizer, de um facto poderoso e extraordinário que gera admiração. Escreve que em Caná acontece um sinal que despertou a fé dos discípulos. Podemos então perguntar-nos: o que é um “sinal” segundo o Evangelho?

Um sinal é um indício que revela o amor de Deus, que não chama a atenção para a força do gesto, mas para o amor que o provocou. Ensina-nos algo do amor de Deus, que é sempre próximo, terno e compassivo. O primeiro sinal acontece porquanto dois cônjuges estão em dificuldade no dia mais importante das suas vidas. No meio da festa, falta um elemento essencial, o vinho, e corre-se o risco de a alegria se extinguir entre as críticas e a insatisfação dos convidados. Imaginemos pode continuar uma festa de casamento apenas com água. É terrível, os esposos ficam muito mal vistos!

A Virgem percebe o problema e discretamente assinala-o a Jesus. E Ele intervém sem clamor, quase sem ser notado. Tudo acontece em silêncio, “por detrás da cortina”: Jesus manda os servidores encherem as ânforas com água, que se transforma em vinho. É assim que Deus age, com proximidade, com discrição. Os discípulos de Jesus entendem isto: veem que graças a Ele a festa de casamento é ainda mais bonita. E também vêem o modo de agir de Jesus, o seu servir sem ser visto - assim é Jesus: ajuda-nos, serve-nos às escondidas - tanto que os elogiados pelo vinho voltam-se para o marido, ninguém se apercebe o que aconteceu, apenas os servidores. É assim que a semente da fé se começa a desenvolver nos discípulos, ou seja, eles acreditam que Deus está presente em Jesus, o amor de Deus.

É bonito pensar que o primeiro sinal que Jesus realiza não é uma cura extraordinária ou um prodígio no templo de Jerusalém, mas um gesto que vai ao encontro de uma necessidade simples e concreta das pessoas comuns, um gesto doméstico, um milagre - digamos desta forma - “em bicos dos pés”, discreto, silencioso. Ele está disposto a ajudar-nos, a nos levantar. Se estivermos atentos a estes “sinais”, o seu amor conquista-nos e tornamo-nos seus discípulos.

Mas há outra característica distintiva do sinal de Caná. Geralmente, o vinho dado no final da festa era o menos bom; isto também se faz hoje, as pessoas, nessa altura já não distinguem muito bem se um vinho é bom ou se está um pouco aguado. Jesus, diferentemente, termina a festa com o melhor vinho. Simbolicamente, transmite-nos que Deus quer o melhor para nós, quer que sejamos felizes. Não estabelece limites e não nos pede juros. No sinal de Jesus não há lugar para segundos fins, para pretensões em relação aos esposos. Não, a alegria que Jesus deixa no coração é alegria plena e altruísta. Não é uma alegria diluída!

Sugiro-vos um exercício que nos pode fazer muito bem. Procuremos hoje encontrar, na nossa memória, os sinais que o Senhor realizou nas nossas vidas. Que cada um diga: na minha vida, que sinais o Senhor realizou? Que sinais vejo da sua presença? São sinais que ele realizou para nos mostrar que nos ama; pensemos naquele momento difícil em que Deus me fez experimentar o seu amor... E perguntemo-nos: com que sinais, discretos e solícitos, me fez sentir a sua ternura? Quando me senti mais perto do Senhor, quando senti a sua ternura, a sua compaixão? Cada um de nós viveu estes momentos na sua história. Vamos procurar estes sinais, vamos lembrarmo-nos. Como descobri a sua proximidade? Como me ficou, no coração, uma grande alegria?

Revivamos os momentos em que vivemos a sua presença e a intercessão de Maria. Que Ela, a Mãe, que como em Caná está sempre atenta, nos ajude a valorizar os sinais de Deus nas nossas vidas.

Tradução Educris a partir do original em italiano|17.01.2022

[1] Tradução oficial da Conferência Episcopal Portuguesa



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