ENC17: "É preciso ouvir as famílias e discernir os sinais dos tempos"

"A prioridade da catequese de hoje deve ser a de envolver os pais no despertar da fé e no seu acompanhamento", destacou hoje o professor Borges de Pinho na abertura do 56º Encontro Nacional de Catequese que se realiza até ao próximo dia 12 de abril em Santarém.

Na conferência “Comunidade e Família na educação cristã” que abriu, no início desta manhã, os trabalhos no seminário de Santarém, o professor universitário começou por enquadrar a realidade "das famílias na pós modernidade" marcada "pela diversidade, individualismo e pluralismo" e por um conjunto de problemas "na própria vivência das comunidades cristãs onde o envelhecimento, o medo da mudança e uma prática dominical inconsistente" não permitem "a mudança de paradigma urgente para que se encontre campo fértil para a transmissão da fé nos tempos de hoje".

O professor da Universidade católica Portuguesa destacou a família, ou "as famílias na sua complexidade" como "um lugar charneira desta transmissão da fé que se encontram marcadas por várias transformações que dificultam a sua tarefa em várias dimensões".

Numa primeira parte Borges de Pinho apontou como fundamental na educação cristã "a consciência de transformação que vivemos" eo "aparecimento de "uma nova configuração do ser cristão e viver em Igreja":

"Hoje emerge uma nova imagem de cristão  e é preciso estar preparado para esta situação de não retorno num mundo plural e diversificado. Torna-se fundamental superarmos o modo de pensar a fé a partir do dado cultural que está ultrapassado para caminhar na fé hoje. A Amoris Laetitiae é um dos documentos que nos desperta para esta mudança e que nosmostra como estamos numa fronteira antropológica de fronteiras imprevisíveis onde emergem dúvidas e hesitações sobre o que é verdadeiramente humano".

Voltando ao Concílio Vaticano II o professor suportou que "voltámos a este tempo pós conciliar onde se torna urgente perguntar como é que a educação cristã pode ser caminho de verdadeira humanidade" sem termos " a tentação da autopreservação e do fechamento":

"Na Evangelium Gaudium o Papa Francisco estabelece uma ligação entre transformação e fidelidade e pede-nos atenção para a necessidade de refletirmos e reformarmos as nossas formas de pensar e agir de modo a que a reforma seja condição de credibilidade para efetivar o sonho missionário de chegar a todos".

Uma formação urgente a vários níveis

Para voltar a colocar a família no centro do anúncio do evangelho o professor Borges de Pinho apontou o "discernimento das comunidades" que deve começar por uma "formação séria dos diferentes agentes de pastoral nas comunidades nas diversas dimensões do anúncio":

"A tarefa catequética necessita de ser examinada dentro da comunidade como um todo. A própria comunidade eclesial deve pugnar por uma formação de agentes qualificados de vária ordem que não pode ficar como ónus da boa vontade das pessoas. Deve ter um suporte financeiro da parte da paroquia, vigararia e diocese".

Hoje, ao "afirmarmos que a tarefa catequética é fundamento da comunidade" devemos olhar para o modo como "não temos ainda um ministério de catequista instituído com tudo o que isso implica" e como "podemos correr o risco de dizer uma coisa e praticarmos outra".

O docente da UCP apontou a necessidade de trazer "as famílias para o centro da reflexão comunitária" através de uma mudança real "das lideranças paroquiais mais abertas para o futuro do que apenas para a manutenção do que existe":

"É fundamental ouvir as famílias e discernir os sinais dos tempos" a partir "do que estas nos podem dar de modo a tornarmo-nos  servidores das famílias nas diferentes dimensões":

"Para favorecer uma educação integral precisamos de reavivar a aliança entre a familia e a comunidade cristã. Importa ter um novo olhar para uma esperança realista. A realidade familiar de hoje é plural. Temos que os ajudar a percorrer o seu caminho porque nela existem elementos positivos de vivência humana que podem constituir-se como pontos de salto para a vivencia cristã por muito ferida que esteja uma familia ela pode crescer a partir do amor. Esse novo olhar só pode acontecer se olharmos criticamente para muitos dos nossos discursos idealistas sobre a familia", sustentou.

Como desafios para a catequese e para a pastoral familiar Borges de Pinho apontou a necessiddade de "construir lugares de discernimento onde se possam acompanhar os casais como comunidades de famílias ao serviço da educação cristã":

"As comunidades eclesiais tem de se perguntar de maneira alargada como podem ser um espaço de apoio para os casais e as famílias. A pastoral familiar tem de alargar o seu olhar para encontros de famílias independente do seu caminho na fé. Seria desejável que nas nossas comunidades existissem pessoas na ajuda da perceção das situações concretas nas famílias (ao casal e aos filhos)" como "lugares de amor e misericórdia pois só deste modo a familia se torna sujeito da vida da comunidade".

 

 O 56º Encontro Nacional de Catequese decorre até ao próximo dia 12 de abril em Santarém e reúne os responsáveis de catequese de todo o país.



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