Homilia da Missa de Encerramento da Semana Nacional da Educação Cristã 2009

 

Homilia da Eucaristia de encerramento da Semana Nacional da Educação Cristã

Igreja da Gafanha da Nazaré

+António Francisco dos Santos

Bispo de Aveiro

1.Iniciámos há um mês o novo ano escolar. As escolas prepararam o começo de um novo ano com a expectativa própria de quem tudo deve fazer para que os alunos aí encontrem um ambiente de serenidade tranquila e de alegria motivadora para o trabalho a realizar. Habituada a este ritmo do início de cada tempo lectivo, a Igreja preparou-se e mobilizou-se para o novo ano catequético e para o novo ano escolar, com novos catecismos e novos manuais. Nas famílias, nas escolas e nas comunidades cristãs é a vida que se acolhe como dom e como esperança, em cada ano que começa. Para que as famílias, as escolas e as comunidades cristãs realizem esta missão é imprescindível a presença activa e atenta e é necessário o trabalho dedicado e generoso de pais, professores, catequistas e sacerdotes.

2. A Semana Nacional da Educação Cristã que agora se conclui deseja afirmar a importância que a Igreja dá à família, à escola e à comunidade como elos essenciais da sociedade e servidores da educação das crianças, dos jovens e dos adultos. A vida das nossas terras tem mais sentido e maior encanto com a presença e com o trabalho das escolas ao longo do tempo lectivo e com a acção pastoral das comunidades. É a vida transbordante de alegria e de esperança que habita as casas, percorre os caminhos, preenche por inteiro as escolas e dinamiza as comunidades cristãs. Todos sabemos quanto recebemos da família, da escola e da comunidade onde nascemos, crescemos e vivemos. A família, a escola e a comunidade modelam o nosso ser e o nosso agir e preparam-nos para o futuro como pessoas, como cidadãos e como crentes. Daí a sua imensa importância e a sua indispensável missão. A Semana da Educação Cristã é uma bela oportunidade para dizer aos pais, aos professores, aos catequistas e a todos os educadores, uma palavra de alegria, de comunhão e de gratidão e para ajudar a construir entre todos os agentes educativos um ambiente de paz, no coração das pessoas e no seio das instituições. É este também o modo como a Igreja vê a sua missão evangelizadora ao assumir a educação cristã como um serviço e como um compromisso: "serviço do homem novo e de uma sociedade renovada".

3. Em pleno Ano Sacerdotal vivido em Igreja por todos os baptizados, membros de um verdadeiro povo sacerdotal, tem todo sentido sublinhar a mensagem que a Comissão Episcopal da Educação Cristã dirige aos sacerdotes, como "educadores da fé". Como "pastores que orientam as comunidades", os sacerdotes devem dar "especial atenção à catequese em todas as idades" e fazer da catequese uma actividade prioritária, suscitando e alimentando nas comunidades uma verdadeira paixão pela catequese. Este empenho pela catequese constituirá para os sacerdotes, a exemplo de todas as actividades do ministério, um "alimento fecundo do seu caminho para a santidade". Uma das missões particularmente importantes no ministério dos sacerdotes e na acção pastoral da Igreja consiste em estabelecer uma articulação e relação entre a comunidade, a escola e a família. Este diálogo deve implicar um trabalho conjunto entre párocos, famílias, catequistas, professores de Educação Moral e Religiosa Católica e outros agentes educativos " a fim de os apoiarem na sua missão, de lhes proporcionarem um enquadramento comunitário e de procurarem uma maior harmonia entre as acções pastorais desenvolvidas nas famílias, nas escolas e nas paróquias".

4. A Palavra de Deus, hoje proclamada, indica-nos a prudência e a sabedoria como fundamentos desta missão de educadores da vida e da fé. "Orei e foi-me dada a prudência; implorei e veio a mim o espírito de sabedoria. Decidi ter a sabedoria como luz, porque o seu brilho jamais se extingue" (Sab.7, 7 e 10). Deus comunica-nos esta sabedoria através da sua Palavra: "Palavra viva e eficaz, capaz de discernir os pensamentos e sentimentos e intenções do coração", como nos diz a Carta aos Hebreus (Heb 4, 12). Este elogio à Palavra de Deus convida-nos a acolher esta Palavra divina, fonte da sabedoria humana. A pedagogia expressa nos novos catecismos e nos manuais de Educação Moral e Religiosa Católica ajuda-nos a saborear esta Palavra de Deus nas catequeses, nas celebrações e nas aulas e daí partirmos para os diálogos de família, para os momentos de escuta pessoal, para as etapas de formação nos movimentos apostólicos e para tantas perguntas a fazer e respostas a procurar. O Evangelho fala-nos de um destes momentos em que se ouve a Palavra de Deus através do diálogo entre Jesus e um homem que O procura e lhe pergunta: " Bom Mestre, que hei-de fazer para alcançar a vida eterna?" (Mar 10, 17). Neste diálogo está presente a atitude de um homem, rodeado de coisas e envolvido de riquezas, trazido por uma busca interior de algo diferente que lhe preenchesse o íntimo da alma e o vazio do coração.

Jesus convidou este homem que queria ser perfeito e alcançar a vida eterna, a libertar-se do peso das riquezas, dos embaraços da vida, das peias do medo e das limitações impostas à sua liberdade de decidir. E o jovem, no dizer de outro evangelista, não foi capaz de voar mais alto, de ir mais longe, de se fazer ao largo no mar imenso do sonho, de seguir o Mestre no caminho da perfeição, de se dar por inteiro a Deus, de servir os irmãos mais pobres, no despojamento total e feliz. Sentiu-se triste por não ser livre. Não avançou na perfeição porque estava preso aos bens que possuía. Faltou-lhe coragem para seguir Jesus.

5. Neste diálogo, que devia ser um providencial encontro, está Jesus com uma invulgar pedagogia de acolhimento, de caridade e de verdade, de quem sabe conjugar a compreensão e a exigência, o amor e a liberdade. Neste diálogo estamos todos nós, ali representados por aquele homem que procura Jesus, que quer dialogar com Ele, que sente vontade de ser melhor. Nesta procura de Jesus estais vós, crianças e jovens, famílias e escolas, catequistas e professores, educadores e sacerdotes. A decisão do jovem não nos surpreende, mas deixa-nos tristes como deixou Jesus, porque lhe quer bem e era outro o caminho que Deus tinha pensado para ele. O olhar triste de tanta gente que connosco cruza nos caminhos da vida deve-se tantas vezes ao excesso de riquezas mal distribuídas que atrofiam a liberdade e impedem a generosidade. Falta à sociedade do nosso tempo coragem e lucidez para perceber que a felicidade e a perfeição se encontram numa vida sóbria e digna que nos faz desprendidos e generosos, solidários e irmãos com os mais pobres. A Palavra de Deus ao tocar o coração humano como aconteceu a tantos discípulos de Jesus ao longo dos séculos e como acontece também hoje deve ajudar-nos a intervir e a transformar as estruturas humanas, culturais e sociais do nosso tempo. A missão dos sacerdotes, dos catequistas e dos educadores e o trabalho das famílias, das escolas e das comunidades não se limitam ao seu espaço circunscrito e à sua primeira e natural esfera de acção. Não há educação da fé sem empenho na transformação do mundo e sem intervenção social solidária. A alegria e a felicidade dos discípulos de Jesus consistem em diariamente trabalhar com a inteligência e com o coração para que, pela justiça e pela caridade, o mundo se transforme e o Reino de Deus aconteça.

6. Neste trabalho e nesta missão temos esperança de encontrar abertura e co-responsabilidade em todos os que hoje vão ser eleitos para o serviço das autarquias locais. Em Portugal, a educação está cada vez mais vinculada às autarquias locais como serviço de proximidade e deve merecer a quantos exercem este serviço à comunidade uma progressiva atenção na certeza de que da qualidade do serviço educativo depende o bem das crianças e dos jovens e a construção do bem comum. Todos somos imprescindíveis e indispensáveis para fazer da educação o caminho necessário e sublime do desenvolvimento da pessoa e da sociedade e um dos dinamismos renovadores da vida da Igreja.

7. A Nossa Senhora, Mãe, Educadora e Mestra, confiamos os sonhos e projectos que desde o início, em cada ano, alimentamos nas famílias, nas escolas e nas comunidades cristãs, para que nos ajude a fazer de Portugal um país evangelizado e evangelizador e a construir em cada um de nós o ser humano à imagem de Seu Filho.

+António Francisco dos Santos

Bispo de Aveiro

 

Fonte: Correio do Vouga
Webmaster|2009-10-11|23:37:31



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