Papa no Iraque: «O perdão é necessário para permanecer no amor»

Francisco destacou a “diversidade cultural e religiosa” como um valor para o Iraque e sustentou que esta é o tempo “de reconstruir não apenas edifícios”, mas os “laços entre as pessoas” considerando que “o perdão é necessário para permanecer no amor”

Pouco mais de uma trintena de quilómetros separa Mossul daquela que já foi a cidade com maior percentagem de cristãos do Iraque: Baghdeda (Qaraqosh). Situada a leste de Mossul esta pequena cidade na planície de Nínive foi arrasada pelo Daesh levando do exilio de milhares de pessoas. Aí esteve o papa, na Igreja da Imaculada Conceição, já reconstruída após os duros combates em 2017, reunidos com centenas de habitantes locais.

No seu discurso Francisco começou por destacar a beleza da “diversidade cultural e religiosa” da sua população.

“Contemplando-vos, vejo a diversidade cultural e religiosa do povo de Qaraqosh, e isto mostra algo da beleza que a vossa região tem para oferecer ao futuro. A vossa presença aqui lembra que a beleza não é monocromática, mas resplandece pela variedade e as diferenças”, apontou.

Perante a destruição, ainda presente na cidade, o papa lembrou que “os sinais do poder destruidor da violência, do ódio e da guerra” nunca tem “têm a última palavra” e desafiou os crentes a “abraçar a herança” dos seus antepassados, lembrando-lhes “que toda a Igreja está convosco”.

“A grande herança espiritual que nos deixaram continua a viver em vós. Abraçai esta herança! Esta herança é a vossa força. Agora é o momento de reconstruir e recomeçar, confiando-se à graça de Deus, que guia o destino de cada homem e de todos os povos. Não estais sozinhos. Solidária convosco está a Igreja inteira, com a oração e a caridade concreta. E, nesta região, muitos vos abriram as portas nos momentos de necessidade”, disse.

Perante a urgência de uma reconstrução, o papa sustentou que a mesma só pode ser efetiva quando “em primeiro lugar os laços que unem comunidades e famílias, jovens e idosos” forem restaurados.

“Animo-vos a não esquecer quem sois e donde vindes; a preservar os laços que vos mantêm unidos, a guardar as vossas raízes”, declarou.

Aos cristãos, dizimados durante os conflitos, Francisco convidou a “sonhar e a não desistir” porque “Jesus está ao vosso lado”.

“Com certeza há momentos em que a fé pode vacilar, quando parece que Deus não vê nem intervém. Nestes momentos, lembrai-vos que Jesus está ao vosso lado. Não deixeis de sonhar. Não desistais, não percais a esperança”, apontou.

Lembrando o testemunho da senhora Doha, que me comoveu”, Francisco afirmou que “o perdão é a palavra-chave” para quem sobrevive ao terrorismo.

“Perdão: esta é uma palavra-chave. O perdão é necessário para permanecer no amor, para se permanecer cristão. O caminho para uma cura plena poderia ainda ser longo, mas peço-vos, por favor, que não desanimeis. É preciso capacidade de perdoar e, ao mesmo tempo, coragem de lutar”.

Diante da imagem de Maria, que havia sido danificada nos bombardeamentos, o papa concluiu a sua intervenção pedindo “orações para a conversão dos corações” e o “respeito pelas diferenças” para que haja “o triunfo duma cultura da vida, da reconciliação e do amor fraterno”.

“Gostaria de agradecer cordialmente a todas as mães e mulheres deste país, mulheres corajosas que continuam a dar vida não obstante os abusos e as feridas. Que as mulheres sejam respeitadas e protegidas! Que lhes sejam dadas atenção e oportunidades”, concluiu.

Educris|07.03.2021

Imagem: Vatican.va



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