«Há um déficit de formação moral na educação dos jovens», Francisco Assis

Antigo eurodeputado destacou a importância de uma “sólida formação moral das novas gerações” e lamentou que estejamos “a criar verdadeiros monstros”

O tema era “exigente, difícil e sedutor”. Eurodeputado na 6ª e 8ª legislatura, deputado no Parlamento Português e militante do Partido Socialista o professor Francisco Assis apresentou-se, assim, perante mais de duas centenas de docentes de EMRC que participaram na formação «Politica, Ética e Religião».

Na sua conferência «Cristianismo e Projeto Europeu» o político destacou o papel do cristianismo “na criação do espaço europeu”.

“Se quisermos falar de civilização europeia, de uma cultura, temos de falar do mundo cristão. É impossível falar da Europa sem falar de cristianismo e isso é distinto de acreditar ou não. O nosso espaço cultural e mental, o nosso imaginário mais profundo, tem a ver com os textos fundadores do cristianismo, que são extraordinários”.

O antigo deputado do PS afirmou que a ideia da universalidade “é aberta pelo cristianismo” e a sua antropologia “aponta-nos para uma dignidade especial do Humano”.

“O cristianismo dá a ideia de que há uma dignidade transcendente da pessoa, de cada um de nós. A melhor imagem disso é a ideia de Jesus Cristo, o Deus que se fez homem”.

Pontuando as ideias do “perdão, da fraternidade, da irmandade” como “fundantes dos valores ocidentais” o professor universitário considerou que a Europa “não se pode pensar sem um humanismo cristão num espaço laico”.

“Vivemos em sociedades laicas. Mas não vivemos em sociedades laicistas. É bom que o projeto político seja laico pois permite pluralidade”, sentenciou.

Perante os desafios de um mundo global, com diferentes modos de ler a realidade, Francisco Assis desafiou os presentes a procurarem no mundo “um lugar de tanta prosperidade como o espaço europeu” e mostrou-se convicto de que o “afastamento da Inglaterra não fará perigar o projeto europeu”.

“A grande questão europeia no momento presente é a saber se nós nos vamos manter como um espaço de países que se reconhecem civilizacionalmente e como queremos tornar a europa num sujeito político atuante no quadro mundial. Somos, de longe, o espaço mais próspero do mundo, onde há mais coesão social com estados sociais fortes que são garante disso. A saída dos britânicos não põe em causa o projeto europeu”.

 

Educação: Temos que retomar a palavra Moral. Estamos a criar monstros!

De volta à escola, após “muitos anos na política”, o militante do PS considerou existir “um falhanço profundo na educação das novas gerações” e disse temer estarmos perante “a criação de monstros”.

“Na minha universidade recebo alunos com um claro défice na formação ético-moral. Isto pode ter consequências dramáticas. Noutras zonas do globo existe esta reflexão existe ainda que, tantas vezes seja realizada de maneira autoritária”.

A excessiva educação “para o sucesso estrito” numa sociedade marcadamente “cientifico-tecnológica” pode levar a uma “individualização exacerbada e à perda de sentido comunitário”.

“Se não tivermos preparados moralmente para acolher o mundo novo que aí vem teremos situações totalmente monstruosas. Se não evoluirmos e não refletirmos em termos morais teremos problemas”.

Neste sentido Francisco Assis destacou o papel da EMRC nas escolas como espaço “de reflexão critica da realidade a partir de uma raiz comum” e sustentou que a europa precisa de recuperar um “discurso moral, capaz de ombrear com a preocupação económica que parece ocupar a primazia na atualidade”.

“As sociedades precisam de uma dimensão moral. Os Direitos Humanos sendo fundamentais mas não nos chegam. Lembro-me sempre da filósofa Simone Weill que afirmava que «antes dos direitos estão as obrigações». A obrigação é que verdadeiramente nos leva, nos impõe o fim”, considerou denunciando “um deficit de pensamento moral na Europa”.

Para o ex-eurodeputado a escola está a transformar-se “uma formação profissional” sem capacidade “de refletir e de sonhar o futuro”.

 Portugal precisa de gerar consensos

Cidadão atento “da vida política portuguesa e europeia” Francisco Assis disse olhar “com preocupação para o que se passa no país”.

“Estamos [ndr: partidos políticos] sempre a demonstrar uma necessidade de nos afastarmos uns dos outros como se os consensos fossem para os fracos. Precisamos de recuperar entendimentos fundamentais para o bem de todos”.

Educris|19.01.2020



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