«A realidade da EMRC não corresponde às antigas ideias sobre ela», padre Miguel Peixoto

Especialista defende que a disciplina se abriu ao mundo, mas subsistem alguns preconceitos na escola, nos alunos e pais que não a escolhem

O padre Miguel Peixoto considera que algumas tentativas que procuram “menorizar” a disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC) resultam de um certo “desconhecimento histórico do objeto de estudo e da abordagem da mesma”.

“Não poucas vezes assistimos, nas escolas, à valorização de disciplinas que se focam no ‘saber fazer’, em detrimento daquelas onde o ‘saber estar’ e ‘saber ser’ são o centro. O próprio sistema educativo português não se resume ao mero executar de um conjunto de saberes”, aponta no estudo agora apresentado ao público sobre a forma de doutoramento, na UCP, Centro regional do Porto.

Para o especialista em educação a disciplina de EMRC é fundamental no currículo nacional porque “uma das dimensões mais basilares da Escola prende-se com o ‘saber viver com o outro’ e essa dimensão, esse princípio curricular está na disciplina de EMRC como em nenhuma outra”, sustenta.

O padre Miguel Peixoto considera que a tentação da “desvalorização ou do olhar de lado” para a disciplina prende-se “com uma não atualização, da parte de algumas pessoas, acerca do objeto da EMRC”.

“Creio que, ao longo dos anos, se tem vindo a dar passos fundamentais para que se perceba que o estudo do religioso, e da espiritualidade como constituinte do ser humano, é fundamental num crescimento equilibrado e próprio dos saberes escolares. A própria disciplina procurou fazer caminho, quer na concetualização do programa, de modo a evitar a marginalização, quer na constante atualização de manuais e demais documentos orientadores, para fugir ao antigamente quando se pensava que a EMRC era uma espécie de catequese escolar, o que não corresponde, de todo à verdade na atualidade”.

Perante “algumas fações sociais” que subsistem nesta ideia “obsoleta e enraizada no passado”, o especialista aconselha “a um novo olhar e a uma atualização”.

“A disciplina, partindo do património cultural cristão, procura trazer à esfera da escola, o saber da dimensão religiosa e do transcendente. Isto é fundamental na convivência com os outros e consigo próprio e, não poucas vezes, acaba por ser o único lugar em toda a escola, onde os alunos podem colocar-se, a si mesmos, as questões centrais da experiência humana”.

Do seu estudo ressalta a ideia de que o estudo do fenómeno religioso permite “o conhecimento do ser humano na sua integralidade” e abre aos alunos a porta “da inter pessoalidade”.

“Quer os alunos sejam crentes, ateus ou agnósticos, a disciplina permite, a uns e a outros, o situar-se pessoalmente perante o fenómeno que é transversal à sociedade e, tantas vezes, estruturador dos comportamentos sociais. Ajuda a construir grelhas de leitura crítica da realidade e do que é a humanidade”, completa.

Ao longo da Semana Nacional da Educação Cristã o EDUCRIS vai publicar, em pequenos excertos, o diálogo com o autor do estudo «Contributos Educativos da Disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica: Um Estudo de Caso com Alunos do Nono Ano».

Imagem: Alunos de EMRC visitam o recém inaugurado complexo da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, no Parque das Nações, em Lisboa

Educris|20.10.2021



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