Pessoas com deficiência: «Falta de acolhimento deve-se ao desconhecimento», Ana Faria
Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência (SPPD) promoveu encontro sobre o tema da catequese e a deficiência
«Tenho uma deficiência. Catequese, onde estás?» foi o tema do encontro que o SPPD organizou online e onde se apresentaram testemunhos de catequistas e pais numa catequese apostada na integração das pessoas com deficiência.
Ana Faria, catequista da Diocese de Coimbra, começou por apresentar “os vários documentos que a Igreja tem produzido no sentido de integrar a pessoa com deficiência na comunidade”.
“É uma preocupação antiga até mesmo dos nossos bispos. Existem orientações que dizem com clareza que a pessoa com deficiência tem a sua dignidade própria e nas orientações pastorais de 1993, se afirma que a “pessoa com deficiência tem direitos inatos, sagrados e invioláveis”, afirmou a catequista.
Para Ana Faria é fundamental que as comunidades “ajudem estas pessoas a estarem inseridas na vida eclesial porque são membros de pleno direito”.
Não obstante existência de documentos, com mais de 30 anos, a catequista lamentou “a dificuldade que ainda existe na integração da criança com deficiência nas comunidades eclesiais”.
“Temos catequistas que desconhecem os modos e as formas como integrar estas pessoas e dos próprios pais que tem dificuldade em colocar s seus filhos na catequese porque não sabem com é que os catequistas acolherão os seus filhos”.
“A falta de acolhimento de pessoas com deficiências deve-se ao desconhecimento”, afirmou.
Catequese com amigos especiais
De Braga Filipa Lopes, da catequese da Arquidiocese de Braga, desenvolve o seu trabalho na comunidade fé e luz.
Os encontros com “os amigos especiais” realizam-se mensalmente, com dinâmicas de Lectio Divina, e ajudam à preparação sacramental destes irmãos.
“O crescimento na fé só acontece em comunidade e as pessoas com deficiência amam Jesus quando sentem que são amadas”, sustenta.
«Ser cristão de corpo inteiro»
Fernando Ferreira Pinto é pai de Pedro, um jovem de 32 anos com paralisia cerebral e cuja família “se uniu por esta circunstância para ser feliz”.
“Sentimos que o Pedro sofria por não ter a sua catequese e participar nos sacramentos da Igreja. Hoje sabe rezar, confessar-se e fez a primeira comunhão. Ficou feliz por ser cristão de ‘corpo inteiro’”, apontou.
Para este pai “os pais são os principais responsáveis pela integração destes jovens e crianças na comunidade. Se os esconderem em casa nunca serão crianças felizes., A grande responsabilidade é dos pais e depois da comunidade que os acolhe”, sustentou.
Fernando Ferreira Pinto considera que “se os pais as esconderem em casa, nunca serão crianças felizes, se os pais não levarem a conviver com outras crianças, com outras pessoas, não serão crianças felizes”, avisou.
Presente na sessão D. José Traquina, presidente da Comissão Episcopal de Pastoral Social e Mobilidade Humana, o acolhimento, a socialização e o afeto deve marcar o percurso de educação cristã de todas as crianças e jovens, sublinhando a “dimensão do afeto” no relacionamento com pessoas com deficiência.
“A criança chega a Jesus pelo afeto. Não há catequese para transmitir conhecimentos, mas para se assumir uma relação de afeto, de amizade, com Jesus”, afirmou.
Para o bispo de Santarém o desafio passa por dar “mais atenção a estas famílias e às crianças”.
“Que consigamos na catequese, a nível nacional, nas dioceses e paróquias, fazer mais do que fazemos e dar a atenção às famílias e às suas crianças com deficiência”.
Temos muitos desafios pela Frente
Fernando Moita, diretor do Secretariado Nacional da Educação Cristã (SNEC), reiterou o compromisso do setor responsável pela catequese em Portugal.
“Há aqui desafios que enquanto SNEC queremos assumir e dar passos para fazer o que o diretório para a catequese nos pede com muita firmeza: a pessoa com deficiência tem de ter todas as condições para a plenitude da vida sacramental”, afirmou.
No dia Internacional da Pessoa com Deficiência, 3 de dezembro, vai ser realizado um momento de oração a nível global, através das redes sociais, que terá a participação de Portugal através do Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência e do Secretariado Nacional da Educação Cristã.