Domingo III da Quaresma: «O Mais belo diálogo do Novo Testamento»

Ex 17,3-7; Sl 95; Rm 5,1-2.5-8; Jo 4,5-42

1. No programa de «preparação» para a Noite Pascal Batismal, início e meta da vida cristã, o Domingo III da Quaresma está marcado pelos primeiros «escrutínios» para os catecúmenos: primeira «chamada» para a Liberdade. Em ordem a uma melhor compreensão integrada dos Domingos da Quaresma, e particularmente do Domingo III que hoje nos ocupa, tenha-se sempre presente a linha dos Evangelhos: Cristo batizado, tentado no deserto na sua condição de batizado, e Vitorioso, assumindo a história do seu povo e salvando-a (Domingo I), confirmado na sua missão filial batismal com a Transfiguração, lição para os discípulos, igualmente confirmados para a sua missão futura (Domingo II), promete a Água da Vida (Domingo III), dá a Luz (Domingo IV), dá a Ressurreição (Domingo V). A linha cristológica torna-se também «antropológica». A «obra» divina na Humanidade do Filho dirige-se, nesta mesma Humanidade, com amor, aos homens. Água, Luz, Ressurreição, são os elementos batismais primários (simbologia batismal da Quaresma) quer para os batizados quer para os catecúmenos.

2. O Evangelho deste Domingo III da Quaresma oferece-nos o grande diálogo de Jesus com a samaritana (João 4,5-42). A meticulosa preparação da cena (João 4,1-6) mostra-nos Jesus a fazer a viagem da Judeia para a Galileia, com o narrador a anotar que «era preciso (édei) passar pela Samaria» (v. 4). Aquilo que parece óbvio à primeira vista, na verdade não o é. Quem, no tempo de Jesus, fazia essa viagem, evitava mesmo passar pela Samaria: desde logo porque o caminho era montanhoso, mas também porque eram hostis as relações entre judeus e samaritanos. Os judeus de Jerusalém consideravam os samaritanos uma população mista, semipagã (cf. 2 Reis 17,24-41), tendo-os impedido de participar na reconstrução do Templo depois do exílio (cf. Esdras 4,1-24), e catalogavam-nos com desprezo como «o estúpido povo que habita em Siquém» (Ben Sira 50,26). Por tudo isto, a viagem habitual fazia-se, descendo de Jerusalém para Jericó, atravessando depois o Jordão para Oriente, junto de Damyiah, percorrendo então por terra plana o Além-Jordão (atual Jordânia) sempre junto do rio Jordão, para voltar depois a atravessar o Jordão, agora para Ocidente, junto de Bêt-Shean, um pouco a sul do Mar da Galileia. E estava-se na Galileia. Evitava-se assim a estrada montanhosa da Samaria, bem como eventuais hostilidades com os samaritanos. Se o narrador coloca Jesus a calcorrear o caminho montanhoso da Samaria, é assunto não geográfico, mas teológico, explicitado, de resto, naquele «era preciso»: trata-se de revestir Jesus dos traços do mensageiro de Isaías 52,7: «Como são belos, sobre os montes, os pés do mensageiro que leva boas novas a Sião», e do noivo do Cântico dos Cânticos 2,8, de quem a noiva diz: «A voz do meu amado: ei-lo que vem correndo sobre os montes». O que faz correr sobre os montes é, pois, uma grande notícia ou um grande amor. As duas realidades movem Jesus.

3. O texto refere ainda que Jesus se sentava com tempo (ekathízeto: imperfeito que implica duração) junto do poço-fonte de Jacob (v. 6). É sabido, desde o Antigo Testamento, que o poço-fonte (pêgê) é visto como um cenário de noivado. É assim em Génesis 24, onde, junto de um poço, se trata o casamento de Isaac com Rebeca; é assim em Génesis 29, onde, junto de um poço, se trata o casamento de Jacob com Raquel; é assim em Êxodo 2, onde, junto de um poço, se prepara o casamento de Moisés com Séfora. Um grande amor e grandes e belas notícias movem Jesus, na sua viagem «necessária» sobre os montes da Samaria. Fazendo-o sentar com tempo junto do poço-fonte, são cenários de noivado que o narrador evoca e cuidadosamente prepara. Ao anotar, outra vez com tinta teológica, que «era por volta do meio-dia [= hora sexta]» (v. 6), o narrador evoca outra vez a hora do Noivo dos Cântico dos Cânticos 1,7, mas deixa-nos também expostos à máxima e irresistível revelação com que Paulo é atingido em pleno meio-dia (Atos 22,6; 26,13). O meio-dia representa a luz a pique, penetrante, como uma espada de dois gumes (cf. Hebreus 4,12). Em contraponto, procurar Jesus de noite, como fez Nicodemos na página anterior (João 3,2) é começar e acabar por não entender nada, como os discípulos que nada pescam de noite (João 21,3) e no meio do escuro andam perdidos (João 6,17-18), como a Madalena que vai de madrugada, ainda escuro, ao túmulo de Jesus, e nada entende (João 20,1), como o homem da noite na noite perdido, que é Judas (João 13,30; 18,3), enfim, como Pedro, perdido na noite e no meio dos guardas, com os guardas e sem Jesus (João 18,17-18).

4. Eis então Jesus sentado, com tempo, junto do poço-fonte à hora do meio-dia. E aí vem a noiva, a mulher da Samaria. E Jesus desce pedagogicamente ao nível da mulher que vinha buscar água, com aquele pedido direto: «Dá-me de beber!» (v. 7), com que se abre o maior diálogo de todo o Novo Testamento (sete intervenções de Jesus; seis da mulher da Samaria). Salta à vista que Jesus se transforma em pedinte com o intuito de transformar em pedinte a mulher: a maravilhosa delicadeza de um Deus que pede para dar! De facto, pedagogicamente conduzida por Jesus, no final do diálogo sobre a água do poço-fonte que apenas mata a sede momentânea e a água que dá a vida eterna, é a mulher que diz para Jesus: «Senhor, dá-me dessa água…» (v. 15). É fácil compreender que a melhor água que bebemos não pode manter-nos senão na vida que já temos, mas não pode salvar-nos da morte e dar-nos a vida eterna.

5. Neste ponto preciso, Jesus imprime um novo ritmo ao diálogo, dizendo agora à mulher: «Vai, chama o teu marido, e vem aqui» (v. 16). Ao que a mulher responde: «Não tenho marido!» (v. 17). Quem tem o ouvido sintonizado na onda finíssima que percorre o Evangelho de João, começa já a aperceber-se do verdadeiro efeito retórico deste «não tenho», e para onde nos leva este não ter. Na verdade, pouco antes, em plenas bodas de Caná, Maria tinha anotado para Jesus: «Não têm vinho!» (João 2,3). E a verdade é que vão ter vinho em excesso! Em João 5,7, anota-se o caso do doente que não é curado, porque não tem ninguém que o lance à água. Mas vai ter cura, e cura em excesso! É ainda o caso dos discípulos que, à pergunta de Jesus: «Filhinhos (paidía), não tendes alguma coisa para comer, pois não?», respondem: «Não!» (João 21,5). Também já se sabe que irão ter peixe em excesso! É, portanto, de suspeitar, por parte do leitor atento de João, que a mulher da Samaria, que não tem marido, vá encontrar o esposo definitivo, o próprio Deus, cumprindo Isaías 62,5: «Como um jovem desposa uma virgem, assim te desposará o teu edificador. Como a alegria do noivo pela sua noiva, assim o teu Deus se alegrará em ti».

6. E aí está Jesus, o conhecedor que nos conhece, e a quem nós ainda não conhecemos, a entrar dentro da mulher da Samaria e de nós mesmos, dizendo: «Disseste bem: “Não tenho marido”. Na Verdade tiveste cinco maridos, e o que tens agora [= sextonão é teu marido”» (v. 17-18). Abre-se aqui outra janela de luz e de sentido. Olhando através dela, podemos ver uma mulher atónita, a olhar para Jesus com redobrado espanto, e a dizer consigo mesma: «Mas como é que este desconhecido sabe tanto de mim? Como é que este desconhecido conhece a minha vida toda?» E que experiência será esta de nos sentirmos ditos, adivinhados, conhecidos? Não será o conhecimento conhecido, obra de Deus em nós, de que fala Paulo em 1 Coríntios 13,12? Seguramente que a mulher experimenta a estranha sensação de estar perante o saber que a ultrapassa de alguém que a conhece perfeitamente, e a quem ela ainda não conhece, mas começa a suspeitar. Começou por ver nele um simples judeu (v. 9). Mas agora já vê que é um profeta (v. 19), e pouco depois dirá que sabe que virá o Cristo, que explicará tudo (v. 25), e como tal o irá apresentar na Samaria (v. 29). Apercebendo-se que está perante um «homem de Deus», a mulher aproveita para colocar um problema de lugar de culto: «é em Jerusalém ou no monte Garizim que se deve adorar?» (v. 20). A questão não é sobre rezar, mas adorar Deus, reconhecê-lo como Criador e Senhor, que implica a ação de a pessoa se ajoelhar e beijar o chão (cf. Apocalipse 4,9-11; 7,11-12). Jesus responde que não se trata mais do lugar onde adorar, mas do modo de adorar (v. 21-24).

7. No que se refere à técnica da «antecipação» ou «adivinhação» pode ver-se noutras passagens do IV Evangelho, pelo que, se a mulher é completamente surpreendida, o leitor competente não o é. De facto, a mesma estratégia narrativa já foi encontrada em João 1,45-49, quando Jesus se adianta a Natanael, dizendo dele: «Eis um verdadeiro israelita!» (João 1,47), ao que Natanael reage com espanto: «De onde me conheces?» (João 1,48). Ver-se-á também em João 20,15, quando aquele que, aos olhos da Madalena, era um simples jardineiro, se adianta a ela, atravessando-a com uma pergunta penetrante: «Mulher, por que choras? A quem procuras?» (João 20,15a). Se a primeira pergunta («Por que choras?») parece óbvia (porque a Madalena estava, de facto, a chorar), a segunda («A quem procuras?») apanha a Madalena completamente de surpresa. Na verdade, pensará a Madalena: «Quem será este que sabe que eu procuro alguém neste jardim?» E se sabe que eu procuro alguém, seguramente saberá também quem eu procuro. Por isso, porque se sentiu adivinhada e pressente que ele sabe bem quem ela procura, responde-lhe em código, usando pronomes, e nunca dizendo o nome: «Se foste tu o levaste, diz-me onde o puseste, e eu o retirarei» (João 20,15b). Jesus responde: «Maria!» (v. 16). Esta estratégia pode ver-se ainda na manifestação de Jesus Ressuscitado a Tomé. Na verdade, depois de Tomé ter dito aos outros discípulos que afirmaram diante dele terem visto o Senhor (João 20,25), que não acreditaria se ele próprio não visse nas suas mãos a marca dos cravos, e se não metesse o seu dedo na marca dos cravos e a sua mão no seu lado (João 20,25), surge Jesus, dirige-se a Tomé e diz: «Traz o teu dedo aqui e vê as minhas mãos, e traz a tua mão e mete-a no meu lado, e não sejas incrédulo, mas crente!» (João 20,27). Tomé já não vai investigar nada e, certamente atónito, porque adivinhado (como é que Jesus tomou conhecimento das condições postas por ele?!), responde de imediato: «Meu Senhor e meu Deus!» (João 20,28), a mais alta confissão de fé no plano narrativo do IV Evangelho.

8. E quanto às contas feitas com os maridos, o leitor atento, mas que ainda não atingiu o nível de leitor modelo, contentar-se-á, talvez, com a simples aritmética, mas se conseguisse fazer as operações mentais e afetivas reclamadas pelo texto (a que só o leitor modelo tem acesso), seria então levado a compreender que aquela mulher da Samaria, que agora não tem marido, que já teve cinco, e que o que tem agora, e que é o sextonão é seu marido. Em resumo: teve cinco, o que tem agora e que não é seu marido, é o sexto. Compreende-se então que aquela mulher já vai no sexto marido provisório, sendo seis um número imperfeito. Mas o sexto, enquanto provisório e imperfeito, aponta para o definitivo e perfeito. Em boa gramática simbólica, aponta para o sétimo, que está ali à beira, que está aqui à beira, e é Jesus! É por isso que Jesus diz à mulher: «… e vem aqui» (v. 16), porque é ele o noivo, aquele que vem, trazendo o tempo novo da alegria nova e definitiva, a alegria grande da Páscoa, o Messias suspeitado (v. 25) e confesso: «EU SOU (egô eimi), o que estou a FALAR contigo (ho lalôn soi)!» (v. 26), verdadeiro clímax narrativo e da revelação neste imenso texto. E a samaritana, encontrada pelo Noivo novo definitivo esperado, procede, de facto, como as mulheres na manhã de Páscoa: abandona o cântaro antigo e provisório (v. 28), que servia apenas para recolher a água antiga e provisória tirada do poço antigo e provisório (v. 11), e correu à cidade para dizer a todos… (v. 28). Notável movimento Batismal Pascal! 

9. Mas o que é que diz a mulher aos homens da Samaria? Diz: «Vinde ver um Homem que me disse tudo o que eu fiz. Não será ele o Cristo?» (v. 29). Note-se o importante dizer reticente e pedagógico, mas também cristológico, da mulher da Samaria. Dizendo como diz, a mulher da Samaria evita dizer «judeu» e «messias», duas realidades que provocariam nos samaritanos uma reação de hostilidade, e não os mobilizariam para irem ao encontro de Jesus. Usando, porém, o título de «Homem», aqui dado a Jesus pela primeira vez no Evangelho de João, mas que o atravessa completamente (cf. 4,29; 5,12; 7,46; 8,40; 9,11.16.24; 10,33; 11,47.50; 18,14.17.29; 19,15), e mesmo a inteira Escritura desde o Génesis 1,26-30, é a singular humanidade de Jesus que se salienta, o seu saber penetrante, bem como a sua palavra mansa e dialógica. E a interrogação: «Não será ele o Cristo?» não é expressão de dúvida acerca da identidade de Jesus, mas uma finíssima e deliciosa interrogação pedagógica, que provoca nos samaritanos a curiosidade e acende neles o desejo de fazerem a experiência, de irem ver Jesus. Muitas vezes, uma afirmação põe fim a um processo de pesquisa. A interrogação, ao contrário, mobiliza e desperta. Foi assim que os samaritanos foram ver e ouvir a voz do Noivo, Aquele-que-Vem, e chegaram à fé em Jesus, confessando que Ele é verdadeiramente «o Salvador do mundo» (v. 42). O definitivo.

10. É estranho, mas também pedagógico e ilustrativo, que enquanto Jesus dialoga com a samaritana, circulando entre os dois o verbo «dar», os seus discípulos andem pelo shopping a «comprar»! É ainda mais estranho que, mal Jesus inicia o diálogo com a samaritana, pedindo: «Dá-me de beber!» (v. 7), o narrador nos informe que os seus discípulos tinham ido à cidade comprar. Por lá andam o tempo todo. Regressam no v. 27, quando Jesus tinha acabado de fechar o diálogo no v. 26, com aquele solene: «Eu Sou…». É ainda estranho e nada edificante que estes discípulos de Jesus, ao regressar do shopping, tenham ficado admirados ao ver Jesus a falar com uma mulher, mas evitem fazer qualquer pergunta a Jesus (v. 27-28). Em vez disso, convidam Jesus a comer alguma coisa, e ouvem de Jesus um dizer espantoso: «Tenho para comer um alimento que vós não conheceis» (v. 32). Nós, que assistimos ao crescendo das reações da samaritana às propostas de Jesus, achamos agora estranhíssimo que estes discípulos não digam a Jesus: «Dá-nos então também desse alimento!», e que nem sequer formulem a pergunta: «Então que alimento novo é esse?» Em vez disso, diz-nos o narrador que perguntavam, não a Jesus, de quem, pelos vistos, não querem mesmo ouvir nada, mas uns aos outros: «Porventura alguém lhe terá trazido alguma coisa de comer?» (v. 33). Estranhos discípulos desacertados de Jesus e do seu tempo novo. Descompassados e descompensados. Andam ainda no tempo do inverno e da sementeira: «Não dizeis vós que faltam ainda quatro meses para a ceifa?», pergunta Jesus (v. 35a). Eles não querem ouvir, mas Jesus abre diante deles um tempo novo: «Levantai os olhos e vede os campos: estão brancos para a ceifa!» (João 4,35b). Sim, o tempo que Jesus abre diante de nós é o tempo novo da ceifa e da alegria (cf. Salmo 126,6).

11. O relato do Livro do Êxodo (17,3-7) mostra-nos hoje que o Senhor está sempre no meio de nós e sacia a nossa sede no deserto da caminhada da vida. Então a sua «obra» nova não consiste também em fazer jorrar a água no deserto? (Isaías 35,6-7; 41,18; 43,19-20). Deus é muitas vezes, por 33 vezes, designado no Antigo Testamento, sobretudo nos Salmos, como a Rocha ouo Rochedo da nossa salvação. Por isso, é da Rocha, do Rochedo que jorra a água que mata a sede do povo de Israel, e a nossa, no deserto. Como sempre, o Antigo Testamento aponta para o Novo: no Evangelho de hoje, Jesus, o Filho de Deus, oferece a Água da Vida que mata a nossa sede para sempre. E Paulo, encontrado pelo Senhor Ressuscitado (Filipenses 3,12), que é quem dá a Água da Vida que é o Espírito Santo, pode agora dizer, relendo o Antigo Testamento, que aquela Rocha donde jorrava a água no deserto é Cristo (1 Coríntios 10,4).

12. A Rocha, o Poço e a Água viva. Deixo aqui a bela interpretação que os targûmîm (paráfrases aramaicas) fizeram da passagem do Livro dos Números 21,16-18: «Foi então que Israel cantou este poema de louvor, no momento em que voltou o poço que lhes tinha sido dado por mérito de Miriam, depois de ter estado escondido: “Sobe, poço! Sobe, poço!”, assim cantavam. E ele subia. O poço que tinham escavado os patriarcas, Abraão, Isaac e Jacob, os príncipes de outrora, os chefes do povo, Moisés e Aarão, perfuraram-no os dirigentes de Israel, mediram-no com as suas varas. E, depois do deserto, deu-se a eles como um dom. E depois de se dar a eles como um dom, pôs-se a subir com eles pelas altas montanhas, a descer com eles pelos vales. Passando por todo o território de Israel, dava-lhes de beber a todos e a cada um à entrada da sua tenda». Um poço que acompanha o povo por todo o lado, por montes e vales, e que dá de beber ao povo. Bela metáfora que pode traduzir também o Jesus de João 4, que vai à nossa procura e sacia a nossa sede mais profunda.

13. Na Carta aos Romanos (5,1-2.5-8), Paulo dá testemunho do acontecimento central da sua e da nossa vida. Dá testemunho do Evangelho. Cristo morreu por nós, dando-nos a Água da Vida que é o Espírito Santo (de novo Atos 2,32-33; João 19,30.34 decifrado por João 7,38-39). O Espírito Santo dado(Romanos 5,5) como selo (Efésios 4,30) para a vida eterna ensina-nos tudo sobre o Pai – em nós clama: Abbá (Gálatas 4,6); nele clamamos: Abbá (Romanos 8,15) – e sobre o Filho: «ninguém pode dizer “Senhor é Jesus” a não ser no Espírito Santo» (1 Coríntios 12,3). É ele que derrama o amor de Deus no nosso coração: unidos a Deus até à vida eterna (Romanos 8,16-17; 1 Coríntios 12).

14. Sim, não nos é permitido adormecer ou entorpecer, de modo a ficarmos inativos, infecundos, insensíveis, tipo «tanto faz!». O Salmo 95, que hoje cantamos, e que é, para os judeus fiéis, a oração de ingresso ou de entrada no sábado (reza-se sexta-feira ao pôr-do-sol), e para nós, cristãos, é o Salmo invitatório recitado todas as manhãs, é o mais quotidiano dos Salmos. E deve ser um permanente despertador para não nos deixarmos andar ao sabor de qualquer música, mas apenas e sempre ao sabor da música de Deus. Sim, não é tempo de nos instalarmos aqui, em qualquer «aqui». É necessário levar a todos os lugares e a todas as pessoas este vendaval manso de graça e de bondade e de fé que um dia Jesus ensinou à mulher da Samaria e todos os dias mostrou e mostra aos seus discípulos. 

António Couto



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