Fratelli Tutti: Texto envolve-nos na transformação do próprio mundo, no nosso tempo», Cardeal Tolentino Mendonça

Bibliotecário da Santa Sé afirma texto papal como “corajoso” para a “transformação do nosso tempo”

«Pandemia, um evento global. Repensar o futuro da casa comum a partir da Encíclica Fratelli Tutti» foi o tema apresentado pelo cardeal José Tolentino Mendonça numa conferência organizada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, no Brasil.

Para D. Tolentino a nova encíclica Fratelli Tutti é “um texto marcante, um texto corajoso e um texto que a todos nos compromete a todos e nos envolve na transformação do próprio mundo, do nosso tempo”.

Para o cardeal português, o ideal de “fraternidade”, plasmado na célebre declaração «liberdade, igualdade e fraternidade» da Revolução Francesa, ainda é “um projeto adiado nas sociedades pós-modernas e não permite a total aplicação dos ideais da “igualdade e da liberdade”.

O responsável católico alegra-se por “neste momento da humanidade” ter sido o “Papa a recuperar esta bandeira” pois “sem a fraternidade a igualdade e a liberdade tornam-se inconclusivas”, apontou.

Lembrando a Laudato si' e a Fratelli Tutti como resultado de um diálogo constante com o mundo ortodoxo e com o mundo islâmico, D. José Tolentino Mendonça lembrou “as várias inspirações e citações que constam no documento” o que lhe “dá uma grande capacidade de diálogo”.

“O Papa pensou esta encíclica não como uma doutrina que o catolicismo lança, mas como um diálogo que se estabelece com as diversas tradições religiosas fora e dentro do cristianismo. É uma encíclica social e coloca-se na linha das grandes encíclicas que tem a questão social como motor da reflexão”, sustentou.

D. José Tolentino Mendonça chamou a atenção para o facto de o “fio condutor do documento ser a pandemia da COVID-19” e a clara ideia de Francisco de que “ou seguimos pelo caminho da fraternidade ou entramos num mundo onde nos colocamos uns contra os outros”.

Analisando os oito capítulos do documento o purpurado português considerou a Fratelli Tutti como “uma radiografia da hora presente” que “coloca o dedo na ferida, e nos mostra a necessidade que todas as gerações têm de refletir sobre a fraternidade, denunciando a perda da memória histórica, o que tem levado a sociedade atual a aceitar viver sem um projeto social capaz de incluir a todos”.

“Vivemos uma amnesia do sentido comunitário, onde se assume que há setores da sociedade que podemos descartar”, lamentou.

“Esta cultura do descarte está presente no discurso do Papa Francisco desde Evangelii Gaudium, e a Fratelli Tutti. A pandemia pode servir como um despertador que nos lembra que  ninguém se salva sozinho, que somos mais vulneráveis do que nós pensávamos, e que a fraternidade não é espontânea, é uma construção ética, colocando a parábola do Bom Samaritano como ícone da fraternidade”.

Na sua reflexão D. José Tolentino Mendonça considerou que a Fratelli Tutti tem que ser “motor de pensamento, de debate, de abertura” e “não pode permanecer apenas como um texto que respeitamos mas como um documento que traduzimos no nosso quotidiano”.

“Estamos diante de um texto profético, que deve se plasmar na vida quotidiana das comunidades”.

Educris|10.10.2020



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