«Vamos trabalhar em conjunto?», por Carmo Diniz (c\vídeo)

Carmo Diniz faz uma síntese do 1º Congresso da Pastoral da Deficiência Italiana 

Juntar 150 dioceses italianas no 1º Congresso da Pastoral da Deficiência Italiana foi um feito. Quando a estas dioceses se juntam 8 países interessados na Pastoral da Deficiência que perfazem um total de 320 pessoas é um sucesso!

O segundo dia de congresso foi dividido por 3 salas para que todos pudessem ter voz. Pude apenas acompanhar a sala internacional, com tradução em Língua Gestual Italiana e em tradução simultânea para inglês. Foi com pena que não foi possível estar em três lugares ao mesmo tempo, mas a avaliar pelas apresentações na sala internacional só é possível concluir que há muito trabalho feito na área da deficiência e que vale a pena conhecer melhor.

Na sala internacional gostava de destacar o trabalho da Caritas St. Joseph’s na mudança e na perda (luto) para as pessoas com deficiência e no cuidado colocado no programa Sun Rise em colaboração com o Reino Unido (Rainbows), especialistas num programa de 14 sessões que utilizam arte e terapias para ajudar as pessoas com deficiência a percorrer os caminhos de mudança nas suas vidas. Será que ao tentarmos proteger as pessoas com deficiência que estão ao nosso cuidado podemos estar a ‘roubar-lhes’ a possibilidade de crescer, ainda que passando por experiências difíceis?

A arquidiocese de Milão está a trabalhar numa plataforma de apoio digital (OraMiformo) para a pastoral das pessoas com deficiência, disponibilizando uma série de recursos formativos em comunicação para todos. Está a dar primeiros passos firmes num percurso inclusivo de interesse para todos os oratórios que serve.

A arquidiocese de Newark trouxe uma reflexão sobre o processo sinodal em que nos encontramos, o desenvolvimento humano e a sua dignidade. Ann Masters falou sobre sermos todos vulneráveis e o significado de precariedade e vulnerabilidade nas suas vertentes de fragilidade, mas também de reconhecimento que precisamos uns dos outros e como esse reconhecimento nos mostra a nossa interdependência e potencia a capacidade de amar, tomando consciência da nossa singularidade. Falou ainda do processo de crescimento da dignidade humana que começa por ser um processo de necessidades física, que se desenvolve numa necessidade de segurança e de família, avança para uma participação protegida ao nível da educação e do trabalho protegido, se prolonga pela admiração de encontrar perspetivas de crescimento ao nível da educação para o desenvolvimento, relações diversas, atividades politicas e sociais, respeito, privacidade, afetividade e emprego para poder chegar ao potencial máximo de exercer os seus próprios direitos, tomar decisões, assumir responsabilidades, fazer erros e tomar risco. Faz-nos pensar em que nível do processo nos encontramos na relação uns com os outros e vai buscar as respostas ao ponto 131 do Novo Diretório para a Catequese e à Doutrina Social da Igreja nos seus princípios de Bem-comum, Subsidiariedade e Solidariedade.   

Por fim realçar um projeto de cidadania ativa muito interessante, promovido pela Arquidiocese de Milão, numa comunidade pastoral pequena – Magenta. Chama-se ‘Contesto – o tutti o nessuno’ e é um projeto que junta todos os possíveis intervenientes na comunidade desde as escolas, à polícia, instituições, igreja, bombeiros, empresas... Todo o território ao serviço das pessoas com deficiência. Num primeiro passo com a forte determinação de sentar todos na mesma mesa e procurar respostas de verdadeira inclusão, que levam a ações de sensibilização, educação, promoção de emprego. A palavra é co-construir! Em três eixos: Escola, trabalho e tempo livre. Com recurso a mailing list e um site o território quer chamar-se inclusivo. E foram trabalhar juntos! Neste momento 40 parceiros trabalham juntos e estão a crescer.

O Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência da Conferência Episcopal Portuguesa, em conjunto com o Secretariado Nacional da Educação Cristã e a Fundação JMJ levaram um convite a este congresso através da jovem Leonor Belo. Que todas as diocese e paróquias italianas se sintam entusiasmadas em participar na Jornada Mundial da Juventude, como peregrinos ou como voluntários. Porque o Papa não se quer encontrar com eles ou com outros... mas com todos nós! Em Lisboa, em Agosto de 2023. Rezámos, em conjunto, a oração JMJ Lisboa 2023.  

Na sessão final o professor de Ética da Universidade de Amsterdão Hans Reinnders recolheu os contributos de todas as sessões e chamou à atenção o facto de ter sido necessário referir, ainda neste congresso em 2022, os antigos modelos médicos e sociais para justificar o construir um novo caminho. A categorização é necessária para haver organização, para se poder gerir recursos e para nos podermos profissionalizar, mas as pessoas com deficiência têm que estar conectadas com a sua biografia.

Pessoalmente, destes dois dias levo a esperança de estarmos todos a caminho, por estradas semelhantes que se cruzam em tantos pontos, mas com uma enorme esperança e vontade de evoluir no processo de construção da dignidade humana, num futuro com lugar para todos. É partilhando as nossas experiências e vivências que se faz este caminho. Vamos trabalhar em conjunto? 

O vídeo é da autoria da Leonor Belo, jovem estudante do Porto com 18 anos, com Trissomia 21, e embaixadora da Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023.

Carmo Diniz
coordenadora do Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência do Patriarcado de Lisboa
coordenadora do Gabinete de Diálogo e Proximidade do Comité de Organização Local da Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023
 

Imagem: Unsplash

Educris|07.06.2022 



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