Moçambique: «Parece um cenário de um filme de terror», afirma religiosa portuguesa

Testemunho da irmã Mónica da Rocha dá conta de “graves atropelos à dignidade humana” no norte de Moçambique

“Sinto revolta e impotência perante esta realidade. Revolta porque considero que já há muito se poderia ter acabado com esta guerra tão cruel e sem sentido, a começar pelo próprio governo que internamente se mantém em silêncio e passa uma mensagem ao povo de que tudo está bem e sob controlo”, denuncia a religiosa portuguesa num testemunho escrito enviado hoje ao EDUCRIS.

Com 21 anos de vida religiosa na congregação das Irmãs Reparadoras de Nossa Senhora de Fátima (IRNSF) a irmã Mónica da Rocha afirma ter a sensação de que “a província de Cabo Delgado não pertence a Moçambique, pois nas notícias nacionais fala-se de muita coisa, mas, pouco ou nada é relatado sobre esta situação, e infelizmente os poucos jornalistas que iam denunciando algumas situações foram ameaçados ou desapareceram”, afirma.

As IRNSF mantêm uma presença constante em Lichinga, na província do Niassa, Moçambique, desde outubro de 2001. Atualmente residem na missão duas religiosas e quatro jovens aspirantes.

Com uma sensação de “impotência” perante “tantos relatos de pessoas que foram decapitadas”, a religiosa portuguesa considera que a situação é “das piores guerras que podem existir pois é uma guerra de conflitos, de interesses, onde o próprio governo tem interesses”, denuncia.

A irmã Mónica da Rocha recorda o drama crescente “dos refugiados sem qualquer apoio”, e o testemunho de quem presenciou os ataques sucessivos na região.

“…tocaram o sino da Igreja e as pessoas saíram de casa e reuniram-se no meio da aldeia como costumavam fazer quando era preciso dar alguma informação importante…. eles mandaram as crianças embora e pegaram fogo às pessoas que não fossem muçulmanas e recusassem ser insurgentes e quem tentava fugir era morto a tiro…”

Recorde-se que os conflitos armados em Cabo Delgado, no norte do território moçambicano, já terão provocado mais de 700 mil deslocados e de duas mil mortes numa situação que encontra a sua génese em 2017.

Educris|01.04.2021

Imagm: IRNSF



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