Moçambique: «Situação é dramática no norte do país», denuncia sacerdote

Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) divulga relato de sacerdote presente no território sob ataque 

“Pedimos a vossa mão, o vosso socorro”, diz o Padre Kwiriwi Fonseca num relato dramático enviado para a Fundação AIS. O Padre Kwiriwi falava perante a chegada ao porto de Pemba ontem, domingo de manhã, de uma embarcação com mais de mil pessoas fugidas de Palma após o violento ataque terrorista a esta cidade situada no extremo norte da província de Cabo Delgado.

Responsável pela comunicação da Diocese de Pemba, o sacerdote fala em “total desespero” das pessoas que conseguiram fugir dos combates nesta cidade e lembra que há ainda “muita gente à deriva”, que “muita gente está nas matas, que muita gente precisa de alimentação”.

O Padre Kwiriwi Fonseca sublinha mesmo este ponto afirmando que há pessoas “há quatro dias que não conseguem comer”. Na mensagem áudio enviada para Lisboa para a AIS, o sacerdote explica que “mais de mil pessoas chegaram de barco” ao Porto de Pemba neste domingo.

São, explica, “funcionários da companhia Total, vindo de Afungi”. O sacerdote relata que é muito difícil obter mais informações sobre a situação em Palma, palco de um violento ataque terrorista na quarta-feira, 24 de Março, e que as autoridades não permitem para já o acesso à cidade. “Alguns, raríssimos, que foram para lá, não conseguiram aproximar-se porque a orientação do governo é para não tirar nem foto, nem fazer algumas gravações”, explica o responsável da Diocese de Pemba.

Na mensagem gravada, o sacerdote pede ajuda para salvar vidas pedindo “socorro” para estas populações deslocadas que vêm agora engrossar o número dos que fugiram dos ataques terroristas que têm vindo a semear violência e morte em Cabo Delgado desde Outubro de 2017.

“O povo clama por socorro. Não temos muitos detalhes, mas o mais importante é salvarmos vidas”, diz, com evidente dramatismo no final da mensagem. “Pedimos socorro para a alimentação dessa gente que está sofrendo depois dos ataques de Palma. Vamos pedir a vossa mão, o vosso socorro…”

O ataque a Palma, como a Fundação AIS já noticiou, teve início na quarta-feira, dia 24 de Março, e provocou até agora um número ainda desconhecido de vítimas, havendo o relato de que grande parte da população terá tentado fugir. Num relato de uma dessas pessoas em fuga, a que a Fundação AIS teve acesso logo nas primeiras horas após a ofensiva terrorista, dizia-se que “as casas” estavam “abandonadas”, e que havia “tiroteios em todo o lado”.

A região de Cabo Delgado tem sido palco de ataques por grupos armados que têm reivindicado a sua ligação ao Daesh, os jihadistas do grupo Estado Islâmico, desde Outubro de 2017 e que têm conduzido a região para uma situação de profunda crise humanitária. De acordo com as Nações Unidas, no final do ano passado havia já mais de 670 mil deslocados e mais de dois mil mortos.

A Fundação AIS já enviou uma primeira ajuda de emergência no valor de 160 mil euros e tem "prestado ajuda de subsistência aos sacerdotes e irmãs, bem como tem financiado a formação de seminaristas e de religiosas, além de outros projectos relacionados com as necessidades mais prementes da vida da igreja em Moçambique".

Educris|26.03.2021

Imagem: Fundação AIS



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