Papa Francisco recorda São João Paulo II: «Deus visitou o seu povo» (C\vídeo)

Papa recordou antecessor, no centenário do seu nascimento, apresentou três traços “essenciais da sua memória: a oração, a proximidade e a misericórdia-justiça”

Leia, na íntegra e em português, a homilia do Papa Francisco

«O Senhor ama o seu povo» (Sl. 149,4), cantámos no refrão do salmo. É também uma verdade que o povo de Israel repetia, e gostava de o repetir: «O Senhor ama o seu povo». E nos maus momentos, sempre «o Senhor ama»; deve esperar-se para ver como se manifestará este amor. Quando o Senhor enviava, por este amor, um profeta, um homem de Deus, a reação do povo era: «O Senhor visitou o seu povo» (cf. Ex 4:31), porque o ama, visitava-o. E o mesmo disse a multidão que seguia Jesus ao ver as coisas que fazia: “O Senhor visitou o seu povo" (cf. Lc 7, 16).

E também hoje podemos: Há cem anos, o Senhor visitou o seu povo. Ele enviou um homem, preparou-o para ser bispo e liderar a Igreja. Fazendo memória de São João Paulo II, repetimos o mesmo refrão: "O Senhor ama o seu povo", "o Senhor visitou o seu povo"; enviou um pastor.

E quais são, digamos, os "traços" de um bom pastor que podemos encontrar em São João Paulo II? Muitos! Mas vamos apenas dizer três. Uma vez que dizem que os jesuítas dizem sempre três coisas, digamos três: oração, proximidade com as pessoas, amor à justiça. São João Paulo II era um homem de Deus porque rezava e rezava muito. Mas como é que um homem que tem tanto a fazer, tanto trabalho para guiar a Igreja ..., tem tanto tempo para a oração? Ele sabia muito bem que a primeira tarefa do bispo é orar. E isso não afirmou o Vaticano II, foi São Pedro que o disse, quando nomeou os diáconos: "E para nós, bispos, a oração e a proclamação da Palavra" (cf. At 6, 4). A primeira tarefa de um bispo é orar, e ele sabia disto, ele fazia-o. Modelo de bispo que ora, eis a primeira tarefa. E ele ensinou-nos que, quando um bispo faz o exame de consciência à noite, deve perguntar-se: quantas horas rezei hoje? Homem de oração.

Segunda característica, um homem próximo. Ele não era um homem distante do povo, pelo contrário, caminhava ao encontro do povo; e viajou pelo mundo inteiro, encontrando o seu povo, procurando o seu povo, fazendo-se próximo. E a proximidade é uma das características de Deus com o seu povo. Lembrai-vos do que o Senhor diz ao povo de Israel: "Vede, que povo tem o seu Deus tão próximo como Eu estou de vós” (cf. Dt 4,7). A proximidade de Deus para com as pessoas que se estreita, ainda mais, em Jesus, fica mais forte em Jesus. Um pastor está próximo das pessoas, pelo contrário, se não está, não é um pastor, ele é um superior, um administrador, talvez bom, mas não é um pastor. A proximidade com as pessoas. E São João Paulo II deu-nos o exemplo desta proximidade: perto do grande e do pequeno, do próximo e do distante, sempre perto, fazendo-se próximo.

Terceiro traço, o amor pela justiça. Mas a justiça plena! Um homem que queria justiça, justiça social, justiça dos povos, justiça que atira para longe as guerras. Mas a justiça plena! É por isso que São João Paulo II foi um homem de misericórdia, porque a justiça e misericórdia andam juntas, elas não se distinguem [no sentido de separar], elas estão juntas: justiça é justiça, misericórdia é misericórdia, mas uma sem a outra não se pode encontrar. E por falar em homem de justiça e misericórdia, pensemos no que São João Paulo II fez para que as pessoas entendessem a misericórdia de Deus. Pensemos como ele foi devoto a Santa Faustina [Kowalska], cuja memória litúrgica hoje se celebra em toda a Igreja. Ele ouvira dizer que a justiça de Deus tinha esta face da misericórdia, esta atitude de misericórdia. E este é um presente que ele nos deixou: justiça-misericórdia e uma misericórdia justa.

Rezemos-lhe hoje, para que nos dê, a todos nós, especialmente aos pastores da Igreja, mas a todos, a graça da oração, a graça da proximidade e a graça da justiça-misericórdia, misericórdia-justiça.

Tradução Educris a partir do original em italiano

18.05.2020