Máscaras

Há máscaras de índios, de piratas, de coelhos

de bruxas, de demónios, mas nunca encontrei no mercado

uma máscara de Santo.

Talvez por uma questão de respeito a esses mesmos Santos

e ainda bem.

Aqui há anos entrei num Bazar, foi em Coimbra, na Baixa Velha,

eu tinha sido convidada para um baile de máscaras

e andava a procurar uma, que afinal acabei por não levar.

Procurei, experimentei, e francamente não gostei de nada

que o empregado solícito me mostrou.

Sai do Bazar a refletir e decidi

Vou sem máscara, sem fantasia, sem adornos.

Só eu própria.

Quando cheguei os amigos estranharam e disseram:

- A máscara, Isa?

Assim não vale, assim és tu.

“Pois sou”,

Pensei e vou continuar a sê-lo.

E

jurei então a mim própria

Nunca mais usar máscaras na vida,

nem de Índios,

nem de Bruxas,

nem de Demónios,

só de Santos.

Mas a ironia do destino,

com o passar dos anos

tenho usado e experimentado

as máscaras mais diversas

a da tristeza,

da alegria,

da revolta,

da Ternura.

As máscaras da Vida como lhes chamo,

mas continuo a não gostar

e a desejar ardentemente que apareça no mercado

a máscara de Santo!

02-12-74

Isabel Viegas Tavares


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