Trabalho Infantil: «Está a ser roubado o futuro das crianças», denuncia o Papa

Francisco denunciou hoje a violência do trabalho infantil e reafirmou que o mesmo só pode acabar quando se corrigirem as "distorções do sistema económico atual"

 

Leia,na íntegra e em português, a mensagem do Papa Francisco aos participantes da conferência «Erradicar o Trabalho Infantil, construir um Futuro Melhor», que hoje se realiza no Vaticano

 

Eminência,

Ilustres senhoras e senhores,

queridos irmãos e irmãs!

Tenho o prazer de dar as boas-vindas a todos vós aqui reunidos de várias partes do mundo, apesar das dificuldades provocadas pela pandemia, para participarem na Conferência Internacional «Erradicar o Trabalho Infantil, construir um Futuro Melhor», que terá lugar esta tarde no Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral.

O flagelo da exploração do trabalho infantil, sobre o qual hoje refletis juntos, é de particular importância para o presente e para o futuro da nossa humanidade. A forma como nos relacionamos com as crianças, na medida em que respeitamos a sua dignidade humana inata e os seus direitos fundamentais, expressa o tipo de adultos que somos e queremos ser e que tipo de sociedade queremos construir.

Fico atordoado e perturbado ao ver que nas economias contemporâneas, cujas atividades produtivas utilizam inovações tecnológicas, de tal modo que falamos da “quarta revolução industrial”, persista em todo o globo o emprego das crianças em atividades laborais. Isto coloca em risco a sua saúde, o seu bem-estar psicofísico e priva-os do direito à educação e a viver a infância com alegria e serenidade. A pandemia agravou ainda mais a situação.

O trabalho infantil não se confunde com as pequenas tarefas domésticas que as crianças, nos seus tempos livres e de acordo com a sua idade, podem realizar no contexto da vida familiar, para ajudar pais, irmãos, avós ou outros membros da comunidade. Estas atividades geralmente conduzem ao seu desenvolvimento, porque permitem que testem as suas habilidades e cresçam em consciência e responsabilidade. O trabalho infantil é outra coisa! É a exploração das crianças nos processos de produção da economia globalizada em benefício dos lucros e ganhos de terceiros. É uma negação do direito das crianças à saúde, à educação, ao crescimento harmonioso, que inclui também a possibilidade de brincar e sonhar. Isto é trágico. Uma criança que não pode sonhar, que não pode brincar, não pode crescer. Está a ser roubado o futuro das crianças e, portanto, a própria humanidade. É uma violação da dignidade humana.

A extrema pobreza, a falta de trabalho e o consequente desespero das famílias são os fatores que mais expõem as crianças à exploração laboral. Se queremos erradicar o flagelo do trabalho infantil, devemos trabalhar juntos para erradicar a pobreza, para corrigir as distorções do sistema económico atual, que concentra a riqueza nas mãos de poucos. Precisamos de encorajar estados e atores empresariais a criar oportunidades de trabalho decente com salários justos que permitam às famílias atender às necessidades dos seus filhos sem serem estes forçados a trabalhar. Devemos somar esforços para promover, em todos os países, uma educação de qualidade, gratuita para todos, e um sistema de saúde acessível a todos sem distinção. Todos os atores sociais são chamados a combater o trabalho infantil e as causas que o determinam. A participação nesta Conferência de representantes de organizações internacionais, da sociedade civil, das empresas e da Igreja é um sinal de grande esperança.

Exorto o Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral, também responsável pela promoção do desenvolvimento das crianças, a continuar neste trabalho de estimular, facilitar e coordenar iniciativas e esforços já em curso, a todos os níveis, na luta contra o trabalho infantil.

E a vós, oradores e participantes deste encontro, expresso o meu agradecimento: obrigado por partilharem as vossas competências e o vosso compromisso com esta causa que é uma verdadeira questão de civilização. Encorajo-vos a prosseguir por este caminho, sem desanimar com as dificuldades inevitáveis, mas alargando cada vez mais a rede de pessoas e organizações envolvidas. Tenhamos sempre presente as palavras de Jesus no Evangelho: «Tudo o que fizeste a um destes menores dos meus irmãos, a mim o fizeste» (Mt 25,40).

Confio-vos, as vossas famílias e o vosso trabalho à intercessão materna de Maria Santíssima, e de coração vos abençoo. Obrigado.

Tradução Educris a partir do original em italiano

Imagem: Vatican Media

Educris|19.11.2021



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