Retrato

Eram 7h30 da manhã, uma manhã cinzenta.

Como cinzento era o fato do Menino.

Eu tinha pressa, esquecera-me de pôr o saco do pão e o padeiro não tocou.

Não tinha pão, urgia correr, pois a carrinha do colégio não esperava.

Por isso apressei-me, desci a escada e foi então que deparei com a criança cujo as vestes eram cinzentas como o dia.

Devia ter 6 a 7 anos magro estava de costas, de joelhos no chão rebuscava, rasgava e espalhava o lixo.

- Que fazes?

- Perguntei.

- Trabalho.

E foi então que eu vi na mão da criança um balde sujo onde metia os restos de comida, as cascas das batatas, dos legumes da fruta.

Senti

o frio da manhã, um frio que entrou em mim e me gelou a alma.

Perguntei-lhe:

- Tens fome?

- Não,

Tenho pressa.

A camioneta do lixo está quase a passar e você já me fez perder 3 casas!

Olhei estupefacta e vi mais 3 crianças disputando o lixo da minha Rua.

O lixo, meu Deus!

E chamam-se crianças, moram num bairro de lata mas em vez de fome,

tem pressa!

Outubro, 1974

Isabel Viegas Tavares


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