Retrato de Amigo

Por ti falo. E ninguém sabe. Mas eu digo

meu irmão minha amêndoa meu amigo

meu tropel de ternura minha casa

meu jardim de carência minha asa.

Por ti morro e ninguém pensa. Mas eu sigo

um caminho de nardos empestados

uma intensa e terrífica ternura

rodeado de cardos por muitíssimos

lados.

Meu perfume de tudo minha essência

meu lume minha lava meu labéu

como é possível não chegar ao cume

de tão lavado céu?

Ary dos Santos, in 'Fotosgrafias'


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