Moçambique: Catequistas de Guiúa podem ser primeiros beatos do país

Congregação para a Causa dos Santos, da Santa Sé, reconheceu a “validade jurídica” do processo de Canonização dos catequistas mártires de Guiúa, em Moçambique

Está dado um "passo importante" num processo canónico que pode levar Luísa Mafo e Companheiros, Mártires de Guiúa, aos altares da Igreja. Os catequistas, assassinados em Inhambane, em 22 de Março de 1992, receberam a concordância canónica no passado dia 2 de julho, uma notícia recebida com "grande alegria" pelo bispo local D. Diamantino Antunes.

"Recebo esta notícia com muita alegria, agradecendo a Deus por mais este passo com vista à canonização da Serva de Deus Luísa Mafo e Companheiros", afirmou numa mensagem divulgada pela Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).

Na mensagem o prelado  recorda que estes catequistas “leigos e seus familiares, foram mortos durante a guerra civil que assolou Moçambique enquanto estavam em formação no Centro Catequético do Guiúa”.


O processo teve início a 25 de Março de 2017 e foi encerrado, na sua fase diocesana, dois anos mais tarde, a 23 de Março de 2019. D. Diamantino Antunes sublinha que foram trabalhos “intensos” e que ao longo desses 24 meses recolheram-se “as provas documentais referentes à morte dos Servos de Deus e ouvidas dezenas de testemunhas questionadas sobre sua a vida, obra e martírio”.

A documentação foi depois entregue à Congregação para as Causas dos Santos e assim deu-se início à segunda fase do processo de canonização, a chamada “fase romana”.

Com a abertura das caixas com os autos do inquérito diocesano sobre a vida e a fama de martírio dos Servos de Deus, a 16 de Setembro do ano passado, teve início o estudo da validade jurídica do processo.

A avaliação durou meses. Durante esse processo de análise constatou-se que tudo no processo “foi feito de acordo com a legislação vigente”. O Decreto de “validade jurídica” do processo foi emitido no dia 1 de Julho. A notícia chegou nestes dias, sublinha o bispo católico.

Uma noite de martírio

A história da morte destes catequistas e suas famílias ocorreu em 1992. Nesse ano, a 22 de Março, durante a noite, o centro catequético de Guiúa foi atacado por um grupo armado, numa altura em que Moçambique vivia já a fase final da guerra civil que teve início em 1977 e que causou cerca de 1 milhão de mortos e cinco milhões de deslocados.

Os catequistas foram apanhados em suas casas. Uns conseguiram fugir para o mato no meio da confusão que se gerou. Mas outros não. Foram sequestrados e a cerca de quatro quilómetros de distância do centro catequético foram interrogados. “Quem os matou sabia quem eles eram. Sabia que eram da Igreja, que eram catequistas”, recordou no ano passado D. Diamantino Antunes num evento promovido pela Fundação AIS na Diocese de Leiria-Fátima. “Eles responderam quem eram, o que estavam ali a fazer, que não estavam ali por razões políticas pois eram catequistas, e vinham para aprofundar a palavra de Deus.”

No entanto, apesar disso, foram mortos. “Foram mortos com armas brancas, à baioneta, e a partir daí, na convicção do povo cristão, estes irmãos são de facto mártires.” O processo de beatificação continua em marcha.

Educris|04.07.2020



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