Covid19: 10 Pontos essenciais da entrevista ao Papa Francisco

O Papa Francisco concedeu, ontem, a sua primeira grande entrevista, sobre a crise mundial despoletada pela pandemia Covid19. A conversa com o seu biografo foi publicada pelo «The Tablet» (Inglaterra), «Commonweal» (Estados Unidos da América), «La Civiltà Cattolica» (Italia) e ao ABC (Espanha


1. A Política hoje: O ressurgimento dos Nacionalismos

Hoje, aqui mesmo na Europa, começamos a escutar discursos populistas e decisões políticas desse tipo. Ao escutá-las não é difícil recordar os discursos de Hitler, em 1933, que era mais ou menos o mesmo dos discursos de alguns políticos europeus hoje

2. Prisioneiros da Economia: Uma cultura do descartável

Hoje damo-nos conta de que todo o nosso pensamento, quer gostemos ou não, está estruturado em torno da economia. No mundo das finanças parece ser normal o sacrificar. É uma política da cultura do descartável. Do início ao fim. Penso, por exemplo, a questão da seleção pré-natal. Hoje é muito difícil encontrarmos pessoas com síndrome de Down nas ruas. Quando uma tomografia os vê mandam-nos de volta ao remetente. Uma cultura da eutanásia, legal ou encoberta, em que se dão terapêuticas até um certo ponto ao ancião.

3. A hora dos pobres: Entre «animais abandonados» e um olhar que toque a carne

Olhar os pobres significa devolver-lhes a humanidade. Não são coisas, são pessoas. Não podemos continuar a fazer uma política assistencialista como fazemos com os animais abandonados. Muitas vezes temos tratado os pobres como animais abandonados. É hora de descer ao subsolo e voltarmos a olhar o pobre, a tocar o pobre como um ser humano que teve uma mãe, que foi amado. Não sabemos o que se passou a seguir, mas sabemos que precisam de carinho. Descer ao subsolo e passar de uma sociedade Hiper virtualizada, sem carne, para a carne sofredora do pobre. Esta é uma conversão que temos de fazer.

4. A Crise: um perigo e uma oportunidade de conversão

Todas as crises são um perigo, mas também uma oportunidade. É a oportunidade de sair do perigo. Creio que hoje temos de desacelerar o ritmo de consumo e de produção (Laudato Si’, 191) e aprender e compreender a contemplar a natureza. A reconectarmo-nos com o meio envolvente real. Esta é uma oportunidade de conversão. Sim, vejo alguns sinais iniciais de uma conversão a uma economia menos líquida e mais humana.  Mas não percamos a memoria quando isto tudo passar, não arquivemos este momento para voltar onde estávamos.

 

5. Do mau uso da natureza à contemplação

Este é o momento de dar o passo. Passar de um uso, e do mau uso da natureza à contemplação. Como humanidade perdemos a dimensão da contemplação. Temos de recuperá-la.

6. Um Tempo incerto exige oração e a criatividade: Como vive o papa a pandemia

Aproveito este tempo para rezar mais e para questionar qual deve o meu serviço como bispo e como cabeça da igreja no depois da crise. O após a crise vai ser um período doloroso que temos de pensar desde já. Agora acompanho o povo de Deus com a eucaristia diária. Através da Esmolaria Apostólica tenho tido um trabalho de presença para acompanhar as situações de fome e de doença. É um momento de grande incerteza. É um momento em que precisamos de ser inventivos e de muita criatividade

7. A missão para a Igreja neste contexto do Covid-19

O povo de Deus precisa de pastores próximos. Abnegados. A criatividade do cristão te de se manifestar na abertura de novos horizontes, abrir as janelas, abrir a transcendência até Deus e de volta aos homens, e redimensionar-se em casa

8. Recuperar a memória: Uma urgência e uma necessidade

Precisamos de recuperar a memória porque vai ajudar-nos. Este é um tempo para a recuperar. Esta não é a primeira peste da humanidade. Devemos recuperar a memoria das razies, da tradição. Nos exercícios espirituais de Santo Inácio, a primeira semana, e da contemplação para alcançar e o amor na quarta semana, estão marcadas pela memória. Precisamos de uma conversão da memória.

9. Os Heróis de hoje e um lugar para a metanoia

Penso nos santos da porta do lado neste momento difícil. São heróis. Médicos, religiosas, sacerdotes, operários que cumprem com o dever para que a sociedade funcione. Quantos médicos doentes e que morreram! Quantos sacerdotes e religiosas! Ao serviço. Se reconhecermos este milagre dos santos da porta do lado, destes homens e mulheres heróis, se soubermos seguir estes testemunhos, tudo terminará bem. Deus não deixa as coisas pela metade. É um lugar de metanoia (conversão) aquele que estamos a viver, e esta é a oportunidade para o fazer

10. Que Igreja para o pós-crise: Menos esquemas e mais Espírito Santo

Temos que sonhar com uma igreja menos institucionalizada, sem tantos esquemas e sem tantas instituições fixas que é um modelo pelagiano. Quem torna a Igreja uma instituição é o Espírito Santo. Uma Igreja livre não significa anárquica porque a liberdade é dom de Deus. Uma tensão entre a desordem e a harmonia: A Igreja que deve sair da crise. Temos de aprender a viver numa Igreja em tensão entre a desordem e a harmonia que provoca o Espírito Santo.

Educris|09.04.2020



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