Audiência-Geral: «Crucifixo e Evangelho», o essencial para esta Páscoa (C/vídeo)

Francisco convidou os crentes a usarem o «Crucifixo e Evangelho» como “liturgia doméstica” pois a “Cruz é a Cátedra de Deus”. O Papa desconstruiu as “imagens que criamos sobre Deus” e apresentou “um Deus Amor”, pois “só com Ele ficaremos todos bem!”

Leia, na íntegra, a meditação do Papa Francisco.

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Nestas semanas de apreensão por causa da pandemia que faz sofrer tanto o mundo, entre as muitas perguntas que fazemos a nós mesmos, também pode haver perguntas sobre Deus: o que ele faz diante da nossa dor? Onde está quando tudo dá errado? Por que razão não resolve Ele os problemas de maneira rápida? Estas são perguntas que fazemos sobre Deus.

Escutámos a passagem que narra a Paixão de Jesus, que nos acompanha nestes santos dias. De facto, mesmo ali, adensam-se tantas interrogações. O povo, depois de receber Jesus triunfalmente em Jerusalém, questiona-se se ele vai finalmente libertar o povo dos seus inimigos (cf. Lc 24,21). Esperavam um Messias poderoso e triunfante com uma espada. Em vez disso, chega um homem gentil e de coração humilde, que chama à conversão e à misericórdia. E foi precisamente a multidão que o elogiara anteriormente que gritou: «Que seja crucificado!» (Mt 27,23). Aqueles que O seguiam, confusos e assustados, abandonam-no. Pensavam: se a sorte de Jesus é esta, então o Messias não é Ele, por que Deus é forte, Deus é invencível.

Mas, se continuarmos a ler a história da Paixão, encontraremos um facto surpreendente. Quando Jesus morre, o centurião romano que não era crente, não era judeu, mas era pagão, que o havia visto sofrer na cruz e escutara a perdoar a todos, que havia tocado o seu amor sem medida, confessa: «Verdadeiramente este homem era o filho de Deus» (Mc 15,39). Afirma exatamente o contrário dos outros. Ele diz que existe Deus, que Aquele é verdadeiramente Deus.

Podemos perguntar-nos hoje: qual é a verdadeira face de Deus? Geralmente projetamos n’Ele quilo que somos, à máxima potência: o nosso sucesso, o nosso sentido de justiça e também a nossa indignação. Mas o evangelho diz-nos que Deus não é assim. É diferente e não poderíamos conhecê-lo com as nossas forças. Foi por isso que se fez próximos, veio encontrar-nos e revelou-se completamente na Páscoa. E onde se revelou completamente? Sobre a cruz. Ali deparamo-nos com os traços do rosto de Deus. Não esqueçamos, irmãos e irmãs, que a cruz é a cátedra de Deus. Far-nos-ia bem observar o Crucificado em silêncio e ver quem é o nosso Senhor: é Aquele que não aponta o dedo contra ninguém, nem mesmo contra aqueles que o crucificam, mas abre os braços para todos; aquele que não nos esmaga com a sua glória, mas se deixa despojar por nós; aquele que não nos ama em palavras, mas nos dá a vida em silêncio; aquele que não nos constrange, mas que nos liberta: aquele que não nos trata como estranhos, mas carrega sobre si mesmo o nosso mal, toma sobre si os nossos pecados. E tudo isto, para nos libertar dos preconceitos sobre Deus, olhemos o Crucifixo. E então abramos o Evangelho. Nestes dias, todos em quarentena e em casa, fechados, tomamos estas duas coisas em mãos: o Crucifixo, olhando-o; e abramos o evangelho. Isto será para nós - por assim dizer - como que uma grande liturgia doméstica, porque atualmente não podemos ir à igreja. Crucifixo e Evangelho!

No Evangelho lemos que quando as pessoas vão ter com Jesus para o tornarem rei, por exemplo, depois da multiplicação dos pães, ele afasta-se (cf. Jo 6, 15). E quando os demónios querem revelar a sua majestade divina, Ele manda-os calar (cf. Mc 1, 24-25). Porquê? Por que Jesus não deseja ser incompreendido, ele não quer que as pessoas confundam o Deus verdadeiro, que é o amor humilde, com um deus falso, um deus mundano que se mostra e se impõe à força. Ele não é um ídolo. Foi Deus quem se tornou homem, como cada um de nós, e se expressa como homem, mas com a força da sua divindade. Por outro lado, quando é que vemos, no Evangelho, proclamada solenemente a identidade de Jesus? Quando o centurião diz: “Este homem era verdadeiramente o Filho de Deus”. É dito ali, assim que ele dá vida na cruz, porque não se pode mais errar:  vemos que Deus é omnipotente no amor, e não de outra maneira. É a sua natureza, porque a fez assim. Ele é o Amor.

Pode-se objetar:  "O que faço de um Deus assim tão fraco que morre? Eu preferiria um deus forte, um Deus poderoso!”. Mas sabes, o poder deste mundo passa, enquanto o amor permanece. Somente o amor guarda a vida que temos, porque abraça as nossas fragilidades transformando-as. É o amor de Deus que na Páscoa cura o nosso pecado com o seu perdão, que fez da morte uma passagem de vida, que transformou o nosso medo em confiança, a nossa angústia em esperança. A Páscoa diz-nos que Deus pode transformar tudo para o bem. Que com ele podemos realmente confiar que tudo ficará bem. E isto não é uma ilusão, porque a morte e ressurreição de Jesus não é uma ilusão: é feita de verdade! É por isso que nos dizem na manhã de Páscoa: «Não tenhais medo!» (cf. Mt 28,5). E as perguntas angustiantes sobre o mal não desaparecem repentinamente, mas encontram no Ressuscitado o fundamento sólido que nos permite não naufragar.

Queridos irmãos e irmãs, Jesus mudou a história tornando-se próximo de nós e fez dela, embora ainda marcada pelo mal, história de salvação. Ao oferecer a sua vida na cruz, Jesus também venceu a morte. Do coração aberto do crucificado, o amor de Deus alcança cada um de nós. Podemos mudar as nossas histórias avizinhando-nos d’Ele, aceitando a salvação que ele nos oferece. Irmãos e irmãs, abramos-lhe todo o coração em oração, nesta semana, nestes dias: com o Crucifixo e com o Evangelho. Não esqueçais: Crucifixo e Evangelho. A liturgia doméstica será esta. Abramos-lhe todos o nosso coração em oração, deixando o seu olhar repousar sobre nós e perceberemos que não estamos sozinhos, mas amados, porque o Senhor não nos abandona e nunca nos esquece. E com estes pensamentos, desejo-vos uma Santa Semana e uma Santa Páscoa.

Tradução Educris a partir do original em italiano

08.04.2020



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