Moçambique: Bispo de Pemba teme agravamento de «situação já difícil»

D. Luiz Fernando Lisboa denuncia ataques e teme entrada de Covid-19 num país já “massacrado” por diversos fenómenos

Os recentes ataques no norte de Moçambique às vilas de Mocímboa da Praia e de Quissanga, nos dias 23 e 25 de março, acentuou a fuga das populações que temem novas incursões dos grupos armados”, denuncia o bispo de Pemba em declarações à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).

A situação é crítica. Centenas de pessoas procuram abrigo em Pemba, a cidade capital da província de Cabo Delgado, que já “está a abarrotar de deslocados”, dão conta os media locais.

O prelado católico denuncia os ataques, reivindicados pelo auto-proclamado Estado Islâmico e lamenta a incapacidade de resposta das autoridades locais

“São pessoas que estão a fugir de uma situação de insegurança total. Ninguém sabe o que vai acontecer. Por isso, estão a fugir. As forças de segurança, da polícia ou exército, sem capacidade de ripostar, abandonaram as povoações” aponta.

Sem números oficiais a Igreja Católica estima em pelo menos 500 mortos, mas há quem arrisque um número maior.

O bispo de Pemba avança que, neste momento, existem “200 mil deslocados” numa situação “dramática do ponto de vista humanitário. A Igreja tem tentado nestes dias secar as lágrimas de um povo que perdeu tudo e que passa já fome”.

Com a fuga das populações e o abandono dos campos de cultivo a situação “só vai piorar nos próximos tempos, ainda por cima com a chegada do covid-19”, lamenta o prelado.

Cabo Delgado é talvez a região mais pobre de Moçambique que é considerado, pelas Nações Unidas, um dos 10 países mais pobres do mundo. Num cenário assim, uma epidemia pode ser catastrófica.

“A Igreja está muito preocupada. Estamos a tentar ajudar na área da saúde no sentido de encontrar lugares que possam ser preparados para se atender a população”, explica o prelado não escondendo que a epidemia pode crescer para números inquietantes. “Estamos numa situação muito preocupante”. Sem querer “alarmar, mas com os pés bem no chão” o Bispo reconhece que esta vai ser uma batalha muito difícil: “Nós vamos precisar mesmo de muita ajuda.”

D. Luiz Fernando Lisboa mostra-se preocupado “com a fome no povo” e apela a uma “concertação, um diálogo, um entendimento, e que isto tenha um fim”.

“O objetivo da Igreja sempre foi este. Não é o de atacar quem quer que seja, mas defender a vida da população. E nós precisamos de ajuda. A quem nos ouve ou lê e que sabe da nossa situação, nós apelamos a que, de alguma forma, nos ajudem. Ou rezando por nós ou ajudando com algum recurso para que possamos ajudar quem precisa”.

Educris|07.04.2020

Imagem: Público

 



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