Audiência-geral: Papa pede que cristãos «construam pontes com a cultura»

Na décima quinta catequese sobre o livro dos Atos dos Apóstolos os Papa evocou o modo Paulo soube "entrar em diálogo com os pagãos" e permitiu a "inculturação da fé". Aos presentes Francisco convidou à "construção de pontes com a cultura" e sociedade para que Cristo se torne presente no mundo inteiro.

Leia, na íntegra, a alocução do Papa Francisco

Catequese sobre os Atos dos Apóstolos - 15. «Aquele que venerais sem o conhecer é esse que eu vos anuncio» (Atos 17,23). Paulo no Areópago: um exemplo de inculturação da fé em Atenas

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Continuamos nossa "viagem" com o livro dos Atos dos Apóstolos. Depois das provações que viveu em Filipos, Tessalónica e Bereia, Paulo chegou a Atenas, bem no coração da Grécia (cfr Atos 17,15). Esta cidade, que vivia à sombra de glórias antigas, apesar da decadência política, ainda mantinha o primado da cultura. Aqui o apóstolo «fremia de indignação, ao ver a cidade repleta de ídolos» (Atos 17,16). Este "impacto" com o paganismo, no entanto, em vez de o fazer fugir, empurra-o à criação de uma ponte para o diálogo com esta cultura.

Paolo decide familiarizar-se com a cidade e, assim, começa a frequentar os lugares e as personagens mais significativas. Vai à sinagoga, símbolo da vida de fé; vai à praça, símbolo da vida da cidade; e vai para o Areópago, símbolo da vida política e cultural. Conhece judeus, filósofos epicuristas e estoicos entre muitos outros. Conhece todas as pessoas, não desiste, vai e conversa com todas as pessoas. Desta maneira, Paulo observa a cultura e observa o ambiente de Atenas «a partir de um olhar contemplativo» que descobre «aquele Deus que mora nas casas, nas ruas e nas praças» (Evangelii gaudium, 71). Paulo não olha para a cidade de Atenas e o mundo pagão de modo hostil, mas com os olhos da fé. E isso faz-nos questionar a maneira como encaramos as nossas cidades: Observámo-las com indiferença? Com desprezo? Ou com a fé que reconhece os filhos de Deus no meio de multidões anónimas?

Paulo escolhe o olhar que o leva a abrir um sulco entre o evangelho e o mundo pagão. No coração de uma das instituições mais famosas do mundo antigo, o Areópago, ele realiza um exemplo extraordinário de inculturação da mensagem de fé: ele anuncia Jesus Cristo aos adoradores de ídolos, e não o faz atacando-os, mas se tornando «pontífice, construtor de pontes». (Homilia em Santa Marta, 8 de maio de 2013).

Paulo inicia o seu discurso a partir de um altar da cidade dedicado a «um deus desconhecido» (Atos 17, 23) – era um altar onde se havia escrito "ao deus desconhecido"; sem imagem, nada, apenas aquela inscrição. A partir desta "devoção" ao deus desconhecido, para entrar em empatia com aqueles que o escutam, proclama que Deus «vive entre os cidadãos» (Evangelii gaudium, 71) e «não se esconde daqueles que o procuram com um coração sincero, embora o façam tateando» (ibid.). É precisamente esta presença que Paulo procura revelar: Aquele que venerais sem o conhecer é esse que eu vos anuncio» (Atos 17,23).

Para revelar a identidade do deus que os atenienses adoram, o apóstolo parte da criação, isto é, da fé bíblica no Deus da revelação, para alcançar a redenção e o julgamento, ou seja, a mensagem propriamente cristã. Ele mostra a desproporção entre a grandeza do Criador e os templos construídos pelo homem, e explica que o Criador sempre se deixa encontrar por aqueles que o procuram. Desta maneira, Paulo, de acordo com uma bela expressão do Papa Bento XVI, «anuncia Aquele que os homens ignoram, mas, no entanto, pressentem: o Desconhecido» (Bento XVI, Encontro com o mundo da cultura no Collège des Bernardins, 12 de setembro de 2008). Em seguida, convida todos a ir além dos «tempos da ignorância» e a decidir pela conversão tendo em conta o julgamento iminente. Paulo chega assim ao kerygma e alude a Cristo, sem citá-lo, definindo-o como «o Homem, que designou, oferecendo a todos um motivo de crédito, com o facto de o ter ressuscitado de entre os mortos.» (Atos 17,31).

E aqui está o problema. A palavra de Paulo, que até agora mantinha os interlocutores com a respiração suspensa - porque foi uma descoberta interessante - encontra uma rocha: a morte e a ressurreição de Cristo parecem «tolices» (1 Cor 1,23) e provocam o ridículo e o escárnio. Paulo então afasta-se: a sua tentativa parece ter falhado e, em vez disso, alguns aderem à sua palavra e abrem-se para a fé. Entre eles, um homem, Dionisio, um membro do Areópago, e uma mulher, Dâmaris. Também em Atenas, o Evangelho se enraíza e pode correr em duas vozes: a do homem e a da mulher!

Hoje, também nós pedimos ao Espírito Santo que nos ensine a construir pontes com a cultura, com aqueles que não crêem ou com aqueles que têm um credo diferente do nosso. Sempre construamos pontes, sempre de mão estendida, sem agressão. Peçamos a ele a sua capacidade de inculturar delicadamente a mensagem da fé, colocando sobre os que estão na ignorância de Cristo um olhar contemplativo, movido por um amor que aquece até os corações mais endurecidos.

Tradução Educris a partir do original em italiano

06.11.2019



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