Audiência-geral: «Uma oração que pede com confiança»

Na segunda catequese sobre o "Pai Nosso" o Papa Francisco refletiu sobre a oração de petição como modo de confiar em Deus.

Leia, na íntegra, a catequese do Papa.

Catequese sobre "Pai Nosso": 2. Uma oração que pede com confiança

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Continuamos o caminho das catequeses sobre o "Pai Nosso", que iniciámos na semana passada. Jesus coloca nos lábios dos seus discípulos uma oração curta e ousada, composta por sete pedidos - um número que na Bíblia não é acidental, indica plenitude. Eu digo ousada porque, se não tivesse sido apresentada pelo Cristo, provavelmente nenhum de nós - na verdade, nenhum dos mais famosos teólogos - se atreveria a orar a Deus desta maneira.

De facto, Jesus convida os seus discípulos a aproximarem-se de Deus e a fazer-lhe alguns pedidos com confiança: em primeiro lugar, a respeito Dele e depois a respeito de nós. Não há preâmbulos no "Pai Nosso". Jesus não ensina fórmulas para "agradar" o Senhor, na verdade, convida a rezá-lo fazendo cair as barreiras da sujeição e do medo. Não diz para nos voltarmos para Deus chamando-o “Omnipotente”, “Altíssimo”, “Tu que estás tão distante de nós, e eu sou um miserável”: não, não o diz desta forma, mas simplesmente «Pai, com toda a simplicidade, como uma criança que se volta para o pai. E esta palavra "Pai" exprime confiança fé e confiança filial.

A oração do “Pai Nosso” tem as suas raízes na realidade concreta do homem. Por exemplo, faz-nos pedir pão, o pão de todos os dias: pedido simples, mas essencial, que afirma que a fé não é uma questão "decorativa", separada da vida, que aparece somente quando todas as outras necessidades foram satisfeitas. Sem mais a oração começa com a própria vida. A oração – como nos ensina Jesus - não se inicia numa existência Humana com um estômago cheio: antes se esconde onde quer que haja um homem, qualquer homem que tenha fome, que chora, que luta, que sofre e pergunta “porquê”. A nossa primeira oração, num certo sentido, fé como o primeiro gemido que acompanhou a primeira respiração. Neste grito de recém-nascido se anuncia o destino de toda a nossa vida: a nossa fome contínua, a nossa sede contínua, a nossa busca pela felicidade.

 

Jesus, na oração, não quer extinguir o humano, não quer anestesiá-lo. Não deseja que diminuamos as perguntas e pedidos procurando suportar tudo. Deseja, em vez disso, que todo o sofrimento, toda a inquietação, se impulsione para o céu e se torne diálogo.

Ter fé, dizia alguém, é um hábito de grito.

Deveríamos ser todos como o Bartimeu do Evangelho (cf. Mc 10,46-52) – lembremo-nos deste passo do Evangelho, Bartimeu, o filho de Timeu -, cego implorando às portas de Jericó. Ao seu redor, tinha tantas pessoas boas que lhe disseram para ficar quieto: “Mas cala-te! Passa o Senhor. Cala a boca. Não perturbes. O Mestre tem muito a fazer; não perturbes. Estás a irritar com os teus gritos. Não perturbes”. Mas ele não deu ouvidos a estes conselhos: com santa insistência, exigiu que a sua condição miserável pudesse finalmente encontrar Jesus e gritou mais alto! E as pessoas educadas: "Mas não, é o Mestre, por favor! Fazes uma má figura!”. E ele gritava porque queria ver, queria ser curado: «Jesus, tem misericórdia de mim» (v. 47). Jesus abre os olhos, e diz: «A tua fé te salvou» (v. 52), como que a explicar que o decisivo para a sua cura era aquela a oração, aquela invocação gritada com fé, mais forte do que o "bom senso” de tantas pessoas que queriam silenciá-lo. A oração não só precede a salvação, mas de algum modo já a contém, porque liberta do desespero dos que não creem numa saída para tantas situações insuportáveis.

Certamente, pois, os crentes sentem a necessidade de louvar a Deus. Os evangelhos reportam-nos a exclamação de alegria que brota do coração de Jesus, cheio de espanto agradecido pelo Pai (cf. Mt 11,25-27). Os primeiros cristãos sentiram a necessidade de adicionar ao texto do "Pai Nosso" uma doxologia: "Porque teu é o poder e a glória para sempre" (Didaké 8, 2).

Mas nenhum de nós foi obrigado a abraçar a teoria de que alguém no passado avançou, isto é, que a oração de petição é uma forma fraca da fé, ao passo que a oração mais autêntica será o louvor puro, aquele que busca a Deus sem o fardo de qualquer pedido. Não, isto não é verdade. A oração de petição é genuína, é espontânea, é um ato de fé em Deus, que é o Pai, que é bom, que é omnipotente. É um ato de fé em mim, que sou pequeno, pecador e necessitado. E é por isto que a oração, para pedir algo, é muito nobre. Deus é o Pai que tem imensa compaixão por nós e quer que os seus filhos falem com ele sem medo, chamando-o diretamente de "Pai"; ou em dificuldade dizendo: "Mas Senhor, que coisa me aconteceu?” É por isso que podemos dizer tudo, até mesmo as coisas que na nossa vida permanecem distorcidas e incompreensíveis. E ele prometeu-nos que estaria connosco para sempre, até aos últimos dias que passamos nesta terra. Oremos ao nosso Pai, começando assim, simplesmente: "Pai" ou "Papá". E Ele entende-nos e ama-nos muito.

Tradução Educris a partir do original em italiano

12.12.2018



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