Mundo: Relatório mostra «Liberdade Religiosa» ameaçada no mundo

A liberdade religiosa está cada vez mais deteriorada no mundo e há uma ameaça mais significativa contra as comunidades cristãs

Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo, divulgado ontem em Lisboa, no Centro Nacional da Cultura – perante mais de sete dezenas de pessoas –, e em simultâneo nas principais capitais europeias, é taxativo: 61% da população mundial vive em países onde a liberdade religiosa não é respeitada, o que significa que 6 em cada 10 pessoas podem não conseguir expressar a sua fé com total liberdade.


E os sinais dos tempos apontam para um agravamento desta situação. “De um modo geral a tendência é para isto piorar”, afirmou o professor Jaime Nogueira Pinto durante a apresentação do Relatório da Fundação AIS – que incide sobre o período entre Junho de 2016 e Junho deste ano –, e que teve, pela sua importância, o Alto Patrocínio do Presidente da República portuguesa.

O estudo elaborado pela Ajuda à Igreja que Sofre – o único que é produzido por uma entidade pertencente à Igreja Católica – analisa o grau de cumprimento em todos os 196 países do mundo em relação à liberdade religiosa, tal como está expresso no artigo 18 da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Dessa análise compreende-se que em 38 países há violações significativas da liberdade religiosa; em 17 há discriminação por crenças religiosas; e em 21 há casos documentados de pessoas perseguidas por causa da fé, agredidas e até mortas.

Outra das constatações deste exaustivo trabalho produzido pela Fundação AIS é o avolumar de uma onda nacionalista agressiva que está a alimentar o ódio religioso e que os países ocidentais estão a falhar na contenção deste problema.

O “ultra-nacionalismo”, que é da responsabilidade tanto de actores governamentais como de grupos não-estatais, tem vindo a provocar um aumento do ódio contra as minorias religiosas em vários países nomeadamente potências regionais como a ÍndiaChina ou Myanmar. Nesses países com Estados autoritários e nacionalismo extremo vivem mais de 3 mil milhões de pessoas.

O analfabetismo religioso no Ocidente – destacado por Jaime Nogueira Pinto, que falou também na “descristianização da Europa” – coincide com o facto de “não existir uma agenda política de defesa da liberdade religiosa no mundo”, e está a contribuir para o avolumar deste problema.

Essa “cortina de indiferença”, que resulta da conjugação destes factores, acaba por penalizar fortemente as comunidades religiosas minoritárias que são vítimas de ataque e perseguição.

 “A maioria dos governos ocidentais falhou em dar a assistência urgente necessária aos grupos religiosos minoritários, em especial às comunidades deslocadas que desejam regressar a suas casas”, pode ler-se no Relatório. É o caso, por exemplo, do regresso das comunidades cristãs às suas aldeias e vilas no norte do Iraque após a derrota militar do Daesh, os jihadistas do auto-proclamado Estado Islâmico.

No Relatório da Fundação AIS é observado ainda que o Ocidente tem ignorado em grande parte a enorme expansão de movimentos extremistas islâmicos em certas regiões de África, Médio Oriente e Ásia. De acordo com o documento ontem apresentado em Lisboa, o choque entre sunitas e xiitas, os principais ramos do Islão, é um dos principais responsáveis ??pelo crescimento desta onda extremista.

O avanço do jihadismo militante está a ameaçar cada vez mais a liberdade religiosa na faixa central da África, assim como são preocupantes os sinais da expansão do “ultra-nacionalismo” em países como a Índia, onde se registou um número crescente de casos de perseguição e de abuso das minorias religiosas no período em análise.

No Relatório afirma-se ainda que o agravamento da intolerância em relação às minorias religiosas significou, pela primeira vez, desde que a Fundação AIS produz este trabalho de investigação – há 19 anos – que dois novos países, a Rússia e o Quirguistão – foram colocados na categoria “discriminação”.

Em relação aos países da Europa, o Relatório destaca o surto de ataques extremistas, ameaça que pode ser qualificada de “terrorismo de vizinhança”. Ou seja, é um perigo “universal, iminente e sempre presente”.

No Relatório sublinha-se ainda o crescimento tanto da islamofobia como do anti-semitismo no Ocidente.

Como resultado dos dados deste relatório, estima-se que 327 milhões de cristãos vivam em países onde há perseguição religiosa e 178 milhões em países onde são discriminados por seguirem uma religião. Isso significa que 1 em cada 5 vive em países onde há perseguição ou discriminação.

Educris com AIS|23.11.2018



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