«O património cristão da Europa» foi tema de conferência promovida pela Comissão dos Episcopados Católicos da Europa (COMECE).
Tibor Navracsics, Comissário responsável pelos setores da Educação, Cultura, Juventude e Desporto da EU, e um dos participantes da conferência que decorreu no passado dia 31 de janeiro, em Bruxelas, considerou que “as nossas sociedades sofrem de fragmentação” e alertou para o facto da “vontade de viver em conjunto não poder mais ser considerada como adquirida”.
Esta certeza levou a União Europeia a querer “designar 2018 como o Ano Europeu do Património Cultural”:
“Por detrás das belas fachadas, atrás dos nossos melhores museus e das nossas melhores igrejas, há uma história que nos diz quem somos. Ela traz-nos informações preciosas sobre o nosso passado e sobre o nosso futuro, pois aí estão as nossas raízes. É um património que precisamos saber, cultivar e transmitir”, apontou citado pela agência noticiosa SIR.
A não transmissão de valores: O subjetivismo e o terrorismo
O comissário questionou o porquê de tantos jovens se “rebelarem hoje contra o ser europeu”:
“Se hoje em dia, por exemplo, alguns dos nossos jovens se radicalizam em alguns meses e se rebelam contra as suas próprias comunidades para cometer os crimes mais atrozes, isso não acontece de alguma forma porque não conseguimos promover os nossos valores comuns e não criámos um sentimento de pertença a eles? Se as nossas políticas de inclusão social falham, não é porque nos esquecemos de usar as nossas riquezas e com elas contribuir, na diferença, para vivermos unidos? Se tantos cidadãos se perguntem o que significa ser europeu, não é porque, em vez de definir e explicar, tomámos por adquirido que eles conheciam a resposta?”.
O vazio de valores: uma amnesia cultural que não é a resposta
Na sua intervenção Tibor Navracsics afirmou que o “conceito tantas vezes usado de neutralidade impede-nos de aprender sobre o nosso passado tornando as nossas sociedades mais pobres e prejudicando a sua coesão. O vazio valorativo, a amnésia cultural não é a resposta”, considerou.
No final da sua intervenção o comissário europeu desafiou a Igreja a “partilhar, como a fé mais antiga do continente, a cultura que na diversidade nos tornou unidade. O Ano Europeu do Património Cultural só será um sucesso se usarmos os nossos tesouros culturais para responder a estas espinhosas questões; se usarmos esta oportunidade como um convite para compartilhar e amar o nosso passado comum e construir uma Europa melhor para o futuro”.
O secretário-geral da COMECE, frei Olivier Poquillon, assinalou que “a Igreja Católica tem uma dimensão espiritual mas é também um ator central no desenvolvimento da cultura”.
O responsável afirmou que a Igreja, sendo “a mais antiga estrutura de fé” no Velho Continente, é “um claro exemplo de unidade na diversidade, como a União Europeia está empenhada em ser”.
Presente na conferência o secretário do Pontifício Conselho para a Cultura, do Estado do Vaticano, monsenhor Paul Tighe, lembrou os muitos “desafios que se colocam ao desenvolvimento cultural” onde a “iliteracia religiosa está marcada por um afastamento gradual da fé”.
O responsável do Vaticano lembrou que “sem a noção do legado cristão que ajudou a moldar a Europa tal como ela é, a europa perderá as chaves de interpretação da sua própria cultura”.