Autoridades eclesiásticas falam em “risco de psicose” dos padres e religiosas perante nova onda de raptos
D. Jean Désinord, Bispo de Hinche, afirmou hoje que a Igreja no Haiti vive “num medo constante” e arrisca “entrar numa psicose perante o rapto de padres e irmãs religiosas”.
““Perguntamo-nos quem será o próximo? Serei eu ou um padre ou um irmão? Os padres e as religiosas correm o risco de psicose. Vivemos num medo constante”, afirmou em declarações à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).
O aumento da insegurança no território é notória e a Igreja tem vindo a apelar aos responsáveis políticos “soluções para que se garanta a lei e a ordem” num dos países mais pobres do mundo.
“No ano passado, um padre e uma religiosa foram raptados. Graças a Deus, ambos foram libertados mais tarde. Mas não há uma solução rápida ou fácil para o problema de tais raptos. A Igreja só pode apelar aos nossos líderes políticos para que eles garantam a lei e a ordem no país”, recorçou D. Désinord.
Num país mergulhado numa profunda crise politica, social e económica, os raptos no território constituem-se como “uma maneira fácil de conseguir dinheiro”.
A Igreja tem sido uma das vozes mais consistentes na denúncia da situação de caos em que se transformou o país, depois de desastres naturais extremamente violentos.
“A Igreja no Haiti tem uma missão profética. Tem de denunciar estas terríveis condições e por isso é bem possível que a Igreja seja um incómodo para alguns políticos”, sustenta o responsável.
Em março passado o governo do Haiti decretou o estado de emergência durante um mês procurando assim restaurar a autoridade do Estado em algumas áreas que estão praticamente sob controlo de gangues, inclusivamente na região da capital, Port-au-Prince.
D. Désinord reconhece que a própria classe política está mergulhada nesta crise. “Toda a gente sabe que os nossos políticos usam gangues criminosos para controlar certas áreas. A fronteira entre o crime organizado e a política é bastante fluida”, concluiu.
Educris|04.05.2021