Interioridade/crónica: «A escola pode levar-nos ao caminho da transcendência»

De 11 a 14 de setembro Fátima acolheu a formação «A Interioridade como Paradigma Educativo». Participaram trinta docentes de vinte e duas instituições de ensino católico numa iniciativa do SNEC e com a orientação de Elena Andres, especialista basca do tema.

Ao longo dos próximos dois dias vamos disponibilizar a crónica sobre esta experiência a partir do diário do professor Ricardo Domingues.

A escola pode levar-nos ao caminho da transcendência

Uau! Que foi isto? Que foi que aconteceu?

Então e agora, que tinha dito que o dia de ontem tinha sido maravilhoso, o que posso dizer deste?...

Nada direi, não farei o esfoço de descrever o meu estado interior, pois a experiência vivida foi de tal ordem intensa que nunca serei minimamente fiel ao calor que cá dentro me invadiu o ser. Não pediu licença para entrar!, mas pé ante pé, sussurrando discretamente, lá veio este não sei o quê maravilhoso que me deixou em estado de contemplação continuada. Já o ouvi muitas vezes, já o disse tantas outras: “quando fazemos uma viagem nunca regressamos a mesma pessoa”. Bem dito, bem feito! E bem feito para mim, que não estava à espera disto! Assim aconteceu. E como aconteceu!

O dia de hoje, iniciado com a pureza e a beleza do momento da oração da manhã, foi dedicado ao terceiro conteúdo do percurso da educação da interioridade. Depois de ontem e na terça-feira termos focado a nossa reflexão e aprendizagem no trabalho corporal e na integração emocional, mergulhámos, ao longo da jornada, na dimensão da transcendência. Foi um dia incrível!

Não farei a narrativa do trabalho que fizemos. Dentre as palavras que fui recolhendo, realço alguns pensamentos da formadora que me parecem pertinentes aqui deixar. A educação da interioridade assenta numa linguagem universal e pode, por isso, ser proposta a todos, sem a necessidade de etiquetar tudo, correndo-se o risco do preconceito, da aversão sem sequer se conhecer e da autoexclusão imediata desta mais-valia formativa. Claro que a implementação deste projeto acontece em contextos determinados e são eles que precisam de ajustar as suas propostas às suas realidades. Na escola católica, queremos, porque o coração no-lo diz, levar a potência evangelizadora de Jesus aos nossos alunos. A presença do crescente fenómeno da interconfessionalidade nas escolas é um desafio interessante e pode enriquecer este trabalho, que pode unir as pessoas nas encruzilhadas das suas procuras. A partir da fonte de inspiração que nos vem do Evangelho, queremos oferecer “água fresca” aos nossos alunos e sacia-lhes a sede do ser. Queremos formá-los na busca pela justiça, queremos que eles sintam a força interior de querer mudar o mundo. Mas, alerta a Elena vastas vezes: um plano de educação da interioridade numa escola só é possível se toda a escola encarnar o desafio como um projeto comum. Só será possível avançar nesta aventura, se todos os educadores estiverem despertos e sensíveis para fazer este trabalho. E nada precisa de se precipitar.

Bem,… mas afinal o que aconteceu de extraordinário para que as minhas palavras iniciais de hoje fossem aquelas ali de cima?

Se eu fosse leitor, estaria aqui, ainda, à espera…, à procura da resposta, da justificação.

Pois, o que aconteceu, para explicar com todas as letras assim rapidamente em duas palavras, acontecemos nós. Só entende isto quem por lá já passou! A partir de dois exercícios muito simples, um pela manhã e outro no final da tarde, o primeiro num desenho, o segundo num exercício de interação e, sobretudo, de contemplação, encontrámos o que acho que todos procuramos durante toda a vida e só conseguimos experimentar durante breves bocadinhos da existência. Falo da alegria que não se descreve, da beleza que encontramos em nós e nos outros quando silenciamos verdadeiramente todos, mas todos, os ruídos das nossas exterioridades. A partir da experimentação de mandalas humanos, a Elena provou-nos por A + B que é possível chegar à transcendência (ou talvez seja melhor dizer que é possível deixamos que a simplicidade do Transcendente nos atinja) e demonstrou-nos também que esse trabalho pode ser uma realidade nas nossas escolas. Se aprendermos a contemplar e se conseguirmos ajudar os nossos alunos a dar ordem interior à desordem exterior a que a vida os sujeita constantemente, conseguiremos todos ser diferentes…

Foi este o meu último dia de formação. O resto da turma ainda lá estará amanhã.  Roo-me de inveja por não os poder acompanhar. Fica o agradecimento a toda aquela gente amiga e à Elena Andrés, que por muitas palavras que queira utilizar para lhe dizer “gratias por todo”, nunca chegarão para preencher esta imensa vontade de a abraçar. Por isso, simplesmente, obrigado, Elena!

 

13.09.2018|Ricardo Jorge Domingues

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Crónica do 1º dia da ação formativa

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Recursos:
Interioridade: A «revolução da Toalha»:


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