Educação: Ainda existem «tabus» sobre os maus tratos e abusos

Especialista afirmou necessidade de formação dos agentes de modo a proteger os mais novos e criar gerações mais felizes e justas na sociedade

«Um olhar de sensibilização sobre indicadores e sinais de maus tratos contra crianças e jovens» foi o tema que Fátima Duarte, da Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção de Crianças e Jovens (CNPDPCJ), apresentou aos não docentes das Escolas Católicas de todo o país.

Perante mais de uma centena de funcionários a especialista apresentou “a evolução da legislação no mundo e em Portugal” desde o tempo em que “apenas e consideravam dois tipos de morte na juventude e a acidental” até aos nossos dias onde se acrescentou “a morte por maus tratos”.

“É fundamental que percebamos que os maus tratos podem matar”, sustentou a técnica do CNPDPCJ.

Numa iniciativa promovida pela Associação Portuguesa de Escolas Católicas (APEC), Fátima Duarte lembrou que os funcionários não docentes “são agentes essenciais para a sinalização e denuncia destes casos” porque “conseguem ter uma presença menos formal junto dos mais novos sendo, muitas vezes confidentes e aqueles que acompanham mais de perto as crianças e jovens”.

“Esta é uma matéria sensível e não podemos olhar para o lado como se não existisse ou o problema não tivesse a ver connosco. Hoje a legislação considera os casos de abuso e mau trato como crime publico e não denunciar é ser pactuante com o mal”, lembrou.

Aos agentes não docentes a especialista do CNPDPCJ lembrou que “existem mitos” que “necessitam ser desconstruídos na sociedade”:

“Ainda temos a tendência de pensar que os abusos e os maus tratos são apenas de algumas classes sociais quando qual não corresponde à verdade. Por outro lado, ainda subsiste a ideia de que «quem dá pão dá o pau» e isso provoca dificuldade na ação dos técnicos e nas necessárias sinalizações dos que tem contacto diários com os mas novos”.

Para Fátima Duarte tais comportamentos são influenciados “pela pouca formação que ainda se possui nesta área e por se partir, erradamente, de um olhar que parte do paradigma de que a família é protetora e isso, infelizmente, nem sempre acontece”, sustentou.

A especialista denunciou a existência “de maus tratos gravíssimos a crianças em Portugal” e sustentou que “quanto mais tempo deixarmos crianças serem maltratadas mais estamos a hipotecar o futuro da sociedade porque muitos repetirão padrões a partir da infância e da juventude que experimentaram”.

O Abuso sexual existe na sociedade e exige cuidados aos educadores

Sobre os abusos sexuais de menores Fátima Duarte recordou o caso “casa-pia” e o trabalho desenvolvido com a Organização Mundial de Saúde e a Comissão Nacional.

“Os abusos sexuais sempre existiram e é nas famílias que acontecem mais. Infelizmente são encobertos e só muito mais tarde se percebem”.

Na atualidade a especialista lembrou que este “não é um problema exclusivo da Igreja” e sustentou que “ainda não estamos preparados para combater este flagelo”.

“Como agentes não devemos fazer suspeições sobre ninguém no que aos abusos sexuais diz respeito. Hoje estamos a assistir a um número crescente de divórcios conflituosos onde parece valer tudo na regulação do poder paternal. Também aqui assistimos a problemas graves pelas denuncias de abusos sexuais que nem sempre, felizmente, se concretizam, mas que colocam o odioso na outra parte”.

Nesta matéria “os agentes não podem perguntar às crianças se foram ou não abusadas porque isso pode induzir respostas que, à posteriori beneficiar o abusador e prejudicando a vítima”.

 

Os educadores são “peças” fundamentais no olhar atento aos mais novos

Rosário Farmhouse, presidente da CNPDPCJ, em vídeo-mensagem, sustentou que os educadores são “peças fundamentais nas vidas das nossas crianças” e desafiou-os a aprenderem “os sinais que estão por trás de comportamentos de risco que indiciam abusos e maus tratos” e a “terem um olhar atento” de modo a que “os mais novos possam crescer de maneira saudável e serem felizes”.

Educris|18.05.2019



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